O Zimbabué um ano depois da morte de Robert Mugabe
AFP
6 de setembro de 2020
O antigo combatente pela liberdade tornou-se num ditador em 37 anos no poder. Apesar do seu regime autoritário, alguns zimbabueanos consideram a era Mugabe melhor do que o Governo atual, acusado de reprimir oponentes.
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Este domingo (06.09) marca um ano da morte de Robert Mugabe, um dos chefes de Estado mais controversos de África. O ex-governante morreu aos 95 anos num hospital de Cingapura, dois anos depois de ter sido forçado a renunciar em 2017, após 37 anos no poder.
Por muito tempo, Robert Mugabe foi considerado o líder que conquistou a independência do Zimbabué da Grã-Bretanha em 1980. Mas ao longo da sua governação passou a ser visto como um ditador brutal que levou o seu país à ruína.
Nos últimos anos do seu mandato cresceu a pressão para a sua demissão, mas Mugabe tentou agarrar-se ao poder. Colocou a mulher, Grace, em posição para lhe suceder na chefia do Estado, num esforço para criar uma dinastia. Mas sofreu um golpe militar a 14 de novembro de 2017.
Uma semana depois, o Presidente de 93 anos foi oficialmente forçado a demitir-se. O seu amigo de longa data, Emmerson Mnangagwa, tornou-se o novo Presidente. Naquela altura, o estado de saúde de Mugabe já era muito frágil.
"A vida era melhor"
Ainda assim, muitos zimbabuanos dizem que, atualmente, o país está em situação pior do que sob Mugabe, apesar do seu regime autoritário. Em entrevista à agência de notícias AFP, a zimbabuena Milka Mandimutsa mostrou-se nostálgica com o regime de Mugabe.
Zimbabué: Onde estão os sinais de mudança?
05:15
"Se Mugabe ainda governasse o Zimbábue, não acho que a vida seria assim", lamentou a residente de Chitungwiza, a 30 quilômetros de Harare. "Desde que o novo Presidente [Emmerson Mnangagwa] assumiu o poder, não vejo nada de positivo", afirmou a cidadã Diana Nhemachena, ao lamentar o alto custo de vida no país, onde a inflação oficial é superior a 800%.
As esperanças de que o Presidente Emmerson Mnangagwa combatesse a corrupção, unisse um país polarizado e reanimasse uma economia abalada após a era Mugabe caíram por terra. Tal como o seu antecessor, Mnangagwa acusa o Ocidente de financiar a oposição para desestabilizar o país.
Grupos de direitos humanos e advogados dizem que ativistas estão a ser detidos, raptados e torturados depois de terem apelado a manifestações de rua a 31 de julho. Um político da oposição e um jornalista foram presos sob a acusação de incitação à violência. Os dois foram libertados na quarta-feira (02.09) depois de 45 dias de detenção.
Em janeiro do ano passado, pelo menos 17 manifestantes foram mortos a tiros nos protestos contra a duplicação dos preços dos combustíveis. Emmerson Mnangagwa nega que exista violações de direitos humanos no Zimbabué.
Zimbabueanos lutam por uma vida melhor em Moçambique
Com o país num processo de renovação política e económica, os "zimbas" procuram em solo moçambicano, um sustento de vida, criando pequenos negócios, sem nunca saber o dia de amanhã.
Foto: DW/B. Jequete
Autocarros do Zimbabué em todos os cantos
O Zimbabué foi um dos países que, outrora, foi até considerado como o celeiro da África Austral. Era difícil ver na província de Manica um zimbabueano ou uma viatura do Zimbabué, na altura em que o país estava estável. Mas, nos últimos anos, é frequente ver machimbombos, autocarros e carros a fazerem o trajeto Zimbabué-Moçambique e vice-versa.
Foto: DW/B. Jequete
Negócio para todas as idades
Devido à crise económica que se instalou na República do Zimbabué, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos são "obrigados" a deambular pelas ruas da província moçambicana de Manica, em particular, e em todo o país a venderem algo, para ganhar algum dinheiro. Os zimbabueanos vendem todo tipo de produtos.
Foto: DW/B. Jequete
Fardos de roupa asseguram a vida dos zambabueanos
No dia a dia, os zimbabueanos estão na capital provincial de Manica, Chimoio, à procura de negócios, como os fardos de roupa ou de sapatos. Os fardos são embalados dentro de um saco, uma estratégia encontrada para não ser distinguido com facilidade na fronteira, visto que se trata de contrabando.
Foto: DW/B. Jequete
Crise gera empregos para alguns
Apesar da crise, os zimbaueanos constituem uma fonte de renda para alguns moçambicanos, que sobrevivem com o pouco que são oferecidos. Os moçambicanos servem de guias aos zimbabueanos, mostrando-lhes as lojas e bons fardos de roupa ou sapatos, e estabelecem contactos com os comerciantes. Outra atividade que os moçambicanos (guias) prestam aos zimbabueanos, é o câmbio de valores em meticais.
Foto: DW/B. Jequete
Taxistas também faturam
As lojas que vendem fardos de roupa usada em Chimoio, são concorridas pelos zimbabueanos, pois taxistas e os condutores de carrinhas acabam por abandonar a praça e acantonam-se nas imediações das lojas, visando fazer o carregamento ou transportar os chamados “zimbas” de um lado para o outro. Pode-se dizer, que o mercado moçambicano tem estado a ser invadido pelos zimbabueanos.
Foto: DW/B. Jequete
Compra de arroz é imperativo
O sofrimento em que os zimbabueanos têm estado a passar é doloroso, pois antes de adquirir o negócio, eles pelo menos têm de comprar um saco de 10 ou 25 quilos de arroz, e 5 litros de óleo, dois dos produtos mais caros no seu país. Posto isso, é muito difícil almoçar e jantar. Os “zimbas” só jantam se economizarem os alimentos.
Foto: DW/B. Jequete
Cargas e descargas garantidas
Há muitos contentores de fardos de roupa usada, que se descarregam diariamente, devido à muita procura. O negócio de venda de fardos de roupa usada, tem estado a ser rentável, pois antes dos problemas económicos no país vizinho, a venda deste produto era difícil, mas, atualmente, os somalis, ugandeses e outras nacionalidades, ocupam-se da venda destes fardos de roupa usada.
Foto: DW/B. Jequete
Moçambique - o refúgio
Alguns zimbabueanos, principalmente as senhoras, deslocam-se a Moçambique para comercializarem os seus produtos como djamo, doi, paloni, chips, pão de forma e outros produtos alimentares. As ruas da cidade de Chimoio estão inundadas de zimbabueanos. Este povo tem grande liberdade de circulação em todo o território moçambicano.
Foto: DW/B. Jequete
Consumidor final
A roupa usada adquirida em fardos na província de Manica, é vendida desta forma: A roupa é estendida no chão. Assim, os clientes apreciam e procuram com calma, artigo por artigo, roupas para os seus filhos, marido ou esposa. A roupa que era menosprezada pelos zimbabueanos nos tempos passados, é hoje, algo muito procurada por quase todos.
Foto: DW/B. Jequete
A esperança dos "Zimbas"
Aquando da destituição do Presidente Robert Mugabe, os zimbabueanos queriam dar um novo rumo ao país, quer a nível político, quer a nível económico. Convicto disso, o povo foi às urnas e elegeu Emmerson Mnangagwa, como novo Presidente do Zimbabué.
Foto: DW/B. Jequete
Abandono do mercado local
Alguns empresários e agricultores zimbabueanos abandonaram o mercado local e instalaram-se na província de Manica. Uma das empresas que se dedica à produção de sementes no distrito de Barué, é um empresário zimbabueano. O produto daquela empresa, é apreciado pelos camponeses moçambicanos.
Foto: DW/B. Jequete
Só com passaporte
Na fronteira de Machipanda, entre Moçambique e Zimbabué, existem postos de controlo, pois sem passaportes, as pessoas não podem viajar. Entretanto, alguns que não possuem este documento, optam por violar a fronteira. Quando isso acontece, os indivíduos apanhados a cometer esta ilegalidade são detidos. Mais tarde, são libertos mediante o pagamento de uma multa.
Foto: DW/B. Jequete
Qual o rumo do Zimbabué?
Os zimbabueanos estão a atravessar dificuldades extremas. Nesta foto, temos o exemplo disso. Nos autocarros que os transportam até Moçambique, trazem refrigerantes para vender e ganhar dinheiro para depois, fazerem as compras necessárias. O que sobra, vai para o custo do regresso.