A companhia de Teatro Lusotaque levou ao palco uma peça inspirada no livro de Mia Couto "O outro pé da sereia”. Os jovens atores partilham o gosto pela língua portuguesa e a cultura lusófona.
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A companhia de Teatro Lusotaque de Colónia (Alemanha) decidiu fazer a peça, "Kianda – Da Santa Que Se Tornou Sereia”, inspirada no livro de Mia Couto, "O outro pé da sereia”. A peça foi encenada por Marianna Souza, que participou também como atriz. Ao todo eram nove os atores em palco de diversas origens e nacionalidades. Em comum tinham o seu interesse pela língua portuguesa e a cultura lusófona.
Encontro com o escritor
Marianna lembra-se bem do encontro que teve com o escritor moçambicano em abril de 2018 em Colónia que a inspirou a realizar esta peça.
"Mia Couto é um dos meus escritores africanos preferidos. Eu aprendi muito sobre os livros e as peças dele na faculdade nos meus estudos de literatura. No dia 25 de abril do ano passado eu conheci-o pessoalmente porque ele esteve aqui em Colónia. Conversámos um pouco, eu disse-lhe que adorei o livro "O outro pé da sereia” e que gostaria de fazer uma peça de teatro inspirado nesse livro, ele respondeu-me, então vá faça isso. E deu-me uma boa motivação para fazer a peça.”A história de Mia Couto não foi fácil de passar para teatro. A escrita, as histórias que se cruzam, as inúmeras personagens revelaram ser o maior desafio para Marianna, que apesar de gostar do livro viu várias maneiras de o adaptar.
"A linguagem de Mia Couto é complicada às vezes, ele usa muitos neologismos. É linda, as falas dele são muito bonitas. Por vezes é complicado entender o contexto, porque ele também não termina uma história, deixa tudo meio em aberto, nós assim temos espaço para fazer a nossa própria interpretação”.
Kianda Teatro
Daniel Peiffer, de origem alemã, era o único homem a representar nesta peça. Dom Gonçalo e Benjamin eram as duas personagens que lhe cabiam dar corpo, que mostra também da dificuldade de levar este texto ao palco como explica.
"O maior desafio realmente é que a gente começou com um grupo bem grande, que foi diminuindo aos poucos e quase não íamos conseguir fazer a peça. Cada pessoa que participa faz pelo menos dois papéis”.
Teatro experimentalA história desta peça decorre em três linhas temporais e conta a viagem de uma figura de Nossa Senhora. É uma peça experimental onde os atores para além de explorarem a língua portuguesa e procuram também sair da sua zona de conforto. O público também tem espaço para fazer a sua própria interpretação como sugere Marianna.
"A peça tem muitas temáticas e uma delas é como as pessoas se vêem a si mesmo. Eu acho que cada um pode rever-se nessa peça e fazer uma interpretação própria”.
Apesar de ser uma peça maioritariamente falada em português, nesta adaptação também houve espaço para o alemão, o francês, o inglês e o italiano. O público alemão está cada vez mais curioso em relação às culturas lusófonas.
"Aqui em Colónia tem uma grande comunidade portuguesa e brasileira, entre outras que estão a crescer. Muita gente está aberta para a cultura portuguesa, brasileira e luso-africana”, explica Marianna.
A peça "Kianda – Da Santa Que Se Tonou Sereia” esteve em cartaz entre os dias 26 e 30 de abril em Colónia e também vai fazer uma apresentação em Bona. O Teatro Lusotaque surgiu em 2006 pela mão de Beatriz Medeiros na cidade de Colónia e já produziu 21 espetáculos.
Alemanha e Moçambique no olho de dois fotógrafos
Moçambique é o ponto comum na exposição em Berlim que junta fotografias do moçambicano Mário Macilau e do alemão Malte Wandel. As crianças de rua em Maputo são o tema em destaque na obra de Macilau.
Foto: Mario Macilau
Crianças de rua, na visão de Macilau
Nesta foto, o fotógrafo moçambicano Mário Macilau optou por um plano de detalhe para abordar a questão da alimentação das crianças de rua. Esse é um dos temas fortes na obra de Mário Macilau que, em 2017, foi um dos vencedores do prémio internacional The LensCulture Exposure Awards.
Foto: Mario Macilau
Crescendo na Escuridão
Em 2017, a obra do fotógrafo moçambicano Mário Macilau esteve em exposição na Galeria Kehrer, na capital da Alemanha. As fotos foram extraídas de diversas séries produzidas por ele, especialmente do livro "Crescendo na Escuridão", que mostra a infância de crianças de rua em Maputo. A exposição inclui também fotografias do alemão Malte Wandel, que documenta a vida dos "Madgermanes".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
A casa
A foto intitulada "Escadas de Sombras" mostra o interior de uma casa abandonada do período colonial. "Entrei nessas casas e comecei a observar a forma como esse sonho das casas de luxo se foi perdendo e as casas foram envelhecendo", revela Macilau. "Não queria mostrar o lado de rua dessas crianças, por isso, a maioria das fotografias foi feita dentro das casas onde elas moram", afirma.
Foto: Mario Macilau
Brincadeira
O menino com a arma de fogo nas mãos é, quase sempre, uma imagem chocante. Macilau garante que, aqui, trata-se de uma arma de brinquedo, feita pelas próprias crianças. O fotógrafo quis mostrar não apenas a dura realidade da vida nas ruas, mas também o imaginário e as brincadeiras, apesar da falta de perspectivas dos menores.
Foto: Mario Macilau
A imagem da alegria
A diversão na praia estampada nos sorrisos. A foto retrata a liberdade e a alegria do momento. Nem só de desesperança é feita a vida das crianças retratadas por Mário Macilau. "São crianças normais, que também têm sonhos. Elas vão passear, brincam, vão à praia. Isso tudo faz parte do lazer delas", considera.
Foto: Mario Macilau
Duas visões em exposição
Moçambique é o elo de ligação que junta dois fotógrafos na exposição, diz a gerente da Galeria Kehrer, Pauline Friesescke. "Mário apresenta um olhar de grande proximidade com os seus protagonistas", afirma. Já o trabalho de Wandel "coloca em debate uma parte interessante da história da Alemanha" e de Moçambique.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
"Madgermanes": Protestos e resistência
Desde 2007, Malte Wandel documenta a vida dos "Madgermanes" – tanto daqueles que ficaram na Alemanha quanto dos que retornaram a Moçambique. Para o fotógrafo, "era importante mostrar pessoas diferentes, em diversos lugares e também de níveis sociais variados" descreve. Na foto em exposição em Berlim, os "Madgermanes" protestam pelo pagamento de parte do salário que era descontado para Moçambique.
Foto: Malte Wandel
Ambiente familiar
Malte Wandel fotografou diversas famílias dentro de casa. Na foto, a família de Jamal Trabaco, em Halle an der Saale, no estado alemão da Saxónia-Anhalt. "Para mim, era muito importante mostrar os ambientes privados, contar as histórias privadas e tornar essas famílias visíveis", explica o fotógrafo alemão.
Foto: Malte Wandel
Vítimas de ataques racistas
Foi na Praça Jorge Gomodai, em Dresden, que em 1991 o moçambicano Jorge João Gomodai foi atacado por jovens de extrema direita, vindo depois a falecer. "Nestes tempos em que Dresden representa o Movimento Pegida [Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente], muitas manifestações aconteceram nesta praça e escolhi-a como símbolo para mostrar que a história se repete", justifica Wandel.
Foto: Malte Wandel
Uma vida sem glamour
O fotógrafo alemão interessou-se por retratar a situação nada glamorosa em que se encontravam os ex-trabalhadores da RDA. A imagem demonstra a sala da casa de Nelson Munhequete, em Maputo. "A foto mostra que ele não teve uma chance", diz Malte Wandel. "Dar cada vez mais visibilidade a essa história é meu objetivo", conclui.
Foto: MalteWandel
A opinião do público
Durante uma visita à exposição, o artista plástico Thomas Kohl encantou-se com o trabalho de Mário Macilau. "Tem-se a impressão de que se trata de uma situação real e não de algo encenado", descreveu. Para Kohl, apesar de abordar o tema pobreza, "não há um julgamento nem uma realismo barato" no trabalho de Macilau.