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Obra de Mia Couto adaptada para teatro em Colónia

Rodrigo Vaz Pinto
30 de abril de 2019

A companhia de Teatro Lusotaque levou ao palco uma peça inspirada no livro de Mia Couto "O outro pé da sereia”. Os jovens atores partilham o gosto pela língua portuguesa e a cultura lusófona.

Kianda
Cartaz da peça "Kianda – Da Santa Que Se Tornou Sereia”Foto: Madaleine Degenhardt

A companhia de Teatro Lusotaque de Colónia (Alemanha) decidiu fazer a peça, "Kianda – Da Santa Que Se Tornou Sereia”, inspirada no livro de Mia Couto, "O outro pé da sereia”. A peça foi encenada por Marianna Souza, que participou também como atriz. Ao todo eram nove os atores em palco de diversas origens e nacionalidades. Em comum tinham o seu interesse pela língua portuguesa e a cultura lusófona.

Encontro com o escritor

Marianna lembra-se bem do encontro que teve com o escritor moçambicano em abril de 2018 em Colónia que a inspirou a realizar esta peça.

"Mia Couto é um dos meus escritores africanos preferidos. Eu aprendi muito sobre os livros e as peças dele na faculdade nos meus estudos de literatura. No dia 25 de abril do ano passado eu conheci-o pessoalmente porque ele esteve aqui em Colónia. Conversámos um pouco, eu disse-lhe que adorei o livro "O outro pé da sereia” e que gostaria de fazer uma peça de teatro inspirado nesse livro, ele respondeu-me, então vá faça isso. E deu-me uma boa motivação para fazer a peça.”A história de Mia Couto não foi fácil de passar para teatro. A escrita, as histórias que se cruzam, as inúmeras personagens revelaram ser o maior desafio para Marianna, que apesar de gostar do livro viu várias maneiras de o adaptar.

Mia CoutoFoto: Getty Images/AFP/F. Guillot

"A linguagem de Mia Couto é complicada às vezes, ele usa muitos neologismos. É linda, as falas dele são muito bonitas. Por vezes é complicado entender o contexto, porque ele também não termina uma história, deixa tudo meio em aberto, nós assim temos espaço para fazer a nossa própria interpretação”.

Kianda Teatro

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Daniel Peiffer, de origem alemã, era o único homem a representar nesta peça. Dom Gonçalo e Benjamin eram as duas personagens que lhe cabiam dar corpo, que mostra também da dificuldade de levar este texto ao palco como explica.

"O maior desafio realmente é que a gente começou com um grupo bem grande, que foi diminuindo aos poucos e quase não íamos conseguir fazer a peça. Cada pessoa que participa faz pelo menos dois papéis”.

Teatro experimentalA história desta peça decorre em três linhas temporais e conta a viagem de uma figura de Nossa Senhora. É uma peça experimental onde os atores para além de explorarem a língua portuguesa e procuram também sair da sua zona de conforto. O público também tem espaço para fazer a sua própria interpretação como sugere Marianna.

Apresentação da peça "Kianda – Da Santa Que Se Tornou Sereia”Foto: DW/R.V. Pinto

"A peça tem muitas temáticas e uma delas é como as pessoas se vêem a si mesmo. Eu acho que cada um pode rever-se nessa peça e fazer uma interpretação própria”.

Apesar de ser uma peça maioritariamente falada em português, nesta adaptação também houve espaço para o alemão, o francês, o inglês e o italiano. O público alemão está cada vez mais curioso em relação às culturas lusófonas.

"Aqui em Colónia tem uma grande comunidade portuguesa e brasileira, entre outras que estão a crescer. Muita gente está aberta para a cultura portuguesa, brasileira e luso-africana”, explica Marianna.

A peça "Kianda – Da Santa Que Se Tonou Sereia” esteve em cartaz entre os dias 26 e 30 de abril em Colónia e também vai fazer uma apresentação em Bona. O Teatro Lusotaque surgiu em 2006 pela mão de Beatriz Medeiros na cidade de Colónia e já produziu 21 espetáculos.

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