Obra para barrar Nilo Azul na Etiópia gera críticas
Linda Staude | Henry-Laur Allik
11 de dezembro de 2017
Etiópia está a finalizar construção de uma das maiores barragens do mundo. Obra vai barrar passagem do rio Nilo Azul e gerar energia suficiente para abastecer todo o país. Egito e Sudão temem perda de água potável.
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No oeste da Etiópia, perto da fronteira com o Sudão, trabalhadores estão a finalizar a construção de uma das maiores barragens do mundo. A obra gigantesca é um projeto de prestígio em Adis Abeba. A intenção é barrar a água do rio Nilo Azul e criar um lago ao longo de 250 quilómetros.
A Etiópia espera poder impulsionar o crescimento económico com a exportação de grandes volumes da energia - a ser gerada pela barragem. O Governo etíope recebeu muitas críticas: Os agricultores da região foram reassentados, e o Sudão e o Egito temem uma perda de água potável. No início de novembro, fracassaram as negociações tripartidas sobre a utilização da barragem.
Quando terminado, o muro da barragem terá dois quilómetros de comprimento e 150 metros de altura. Guindastes gigantescos balançam blocos de betão e aço. Uma multidão de operários martela, serra e solda um muro enorme.
Na zona árida, a 25 quilómetros da fronteira com o Sudão, está em construção a maior barragem do continente africano. O gestor de projetos, Simegnew Bekele, não esconde o orgulho. "Estamos a avançar bem. A nação inteira está pendente desta barragem. É um projeto de grande prestígio", diz.
Está previsto que a central de energia hidráulica na barragem produza 6.000 megawatts (MW) de energia, mais do que o suficinete para toda a Etiópia e os planos de industrialização e crescimento do país. "Este projeto é um instrumento de combate à pobreza. Vai melhorar a nossa vida. Vai beneficiar toda a gente", defende Simegnew Bekele.
Bekele refere-se a toda África, porque a barragem vai exportar energia. Entretanto, os países vizinhos da Etiópia têm uma opinião diferente. A megabarragem vai bloquear a passagem do Nilo Azul. O rio fornece 86% de água ao Nilo e é de extrema importância para a sobrevivência, sobretudo, no Sudão e no Egito.
11.12 Etiópia barragem - MP3-Mono
Posição da Etiópia
Contratos assinados há décadas garantem a esses dois países 90% da água do Nilo.
Yilma Seleshi, que dirige a delegação etíope nas negociações em torno da barragem, defende o projeto. "A Etiópia não tem qualquer intenção de prejudicar os países a jusante, seja o Egito, seja o Sudão. Só queremos o nosso direito: A utilização justa e razoável da água", afirma.
Quase dez mil pessoas estão a trabalhar nas obras, 24 horas por dia e sete dias por semana. Originalmente, a conclusão da obra estava prevista para este ano, mas houve atrasos. Ainda vai demorar até que a barragem entre em funcionamento.
"Não se enche uma barragem de um dia para o outro. O enchimento vai ser progressivo, porque a Etiópia respeita os países a jusante. Não somos gananciosos", afirma o ministro etíope das Águas, Alemayehu Tegenu.
Vai levar seis ou sete anos até que o vale do Nilo desapareça debaixo de um lago enorme, mas o conflito político gerado pelas obras ameaça agravar-se. Ninguém sabe ao certo o que o futuro trará. Em todo o caso, o Parlamento egípcio já deixou claro que o país não está na disposição de renunciar a uma única gota d'água.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.