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EducaçãoMoçambique

Novas tendências do português falado em Moçambique

Stélio Guibunda
26 de maio de 2022

Em Moçambique, a língua portuguesa está cada vez mais enriquecida com palavras nativas ou expressões resultantes da diversidade regional e do cotidiano. À DW África, docente explica as novas tendências do idioma no país.

Mosambik | Maputo in Alarmbereitschaft wegen Covid-19
Passageiros na paragem de Chapa 100Foto: Romeu da Silva/DW

As novas tendências da Língua Portuguesa falada em Moçambique são agora descritas em dois volumes no Livro "Português Moçambicano", lançados no dia no dia 5 de Maio.

O trabalho resultou de uma pesquisa de 15 autores, docentes do curso deste idioma na Universidade Pedagógica de Moçambique. Em entrevista à DW África, a docente universitária Hildizina Norberto Dias falou sobre as novas tendências do português de Moçambique.

DW África: Qual foi o ponto de partida para a criação destas obras sobre o português moçambicano? 

Hildizina Norberto Dias: Há muito que nós estamos a trabalhar sobre o português moçambicano. As nossas preocupações, como professores que formam outros professores de português, são notadas no dia a dia, [durante] as nossas aulas, ouvindo as pessoas. Elas falam que a Língua Portuguesa em Moçambique está a sofrer uma série de mudanças linguísticas. E, por causa disso, pensamos estudar esta "Língua Portuguesa" que está diferente, em vários aspetos.

DW África: O que é que se pretende com estas obras?

Capa do livro "Português Moçambicano Volume 1, Editora: Alcance Editores".

HD: A finalidade da obra é mostrar ao público e à comunidade linguística, aos professores e a todos os interessados na Língua Portuguesa que o português de Moçambique apresenta [uma] série de mudanças, em vários níveis de análise linguística. Na pronúncia, na fonética e na fonologia. Também a sintaxe, a morfologia e a lexiologia apresentam mudanças. Em Moçambique, temos palavras diferentes. A nossa maneira de falar também é diferente. Estou a falar da pronúncia, por exemplo, e da construção de frases. Trazemos estes exemplos nos artigos. Cada autor aborda um determinado nível, um assunto. Pretendemos mostrar que estamos a ter uma outra direção em relação à Língua Portuguesa.

DW África: Quais são os exemplos que ilustram as novas tendências do português Moçambicano?

HD: Posso falar do nível léxico. Acho que é aquele em que se verificam muitos empréstimos das línguas bantu. Se observarmos, a culinária moçambicana [tem] palavras como matapa, mucapata, tihove, xima. Nós já usamos assim, em qualquer registo e nível de língua. Se eu quero falar sobre a "matapa" eu digo "matapa" mesmo, pois não há nenhum equivalente de tradução para esta palavra. Outros exemplos são os nomes de peixes: usamos as palavras "xicoa" ou "pende". Em português, chamaria "tilápia". Mas é muito raro chamarmos ao peixe "pende" como se fosse "tilápia". [Outra palavra], xitique: em qualquer região de Moçambique, quando nos referimos a essa contribuição que é feita entre amigos, colegas e familiares - e que é uma forma de poupança - dizemos mesmo "xitique". E esta palavra está a ser usada em toda a nação. Nos transportes, por exemplo, nós usamos os nomes de "txopela", "chapa", "machimbombo", e são palavras que nos identificam mais como moçambicanos. Sobre a sintaxe, a construção das frases, temos o uso dos pronomes 'lhe" e "lho". É mais usual ouvirmos os moçambicanos dizerem "eu vi-lhe". Então, esta construção está a se fixar e a se consolidar na Língua Portuguesa usada em Moçambique. Outro exemplo: pipocas, em Portugal. A pipoca, nós sabemos que é o milho. Em Moçambique, também é milho como também é um chinelo muito leve.

Paragem de Machimbombos em Maputo Foto: Romeu da Silva/DW

DW África: Podemos considerar a existência de um português moçambicano padrão para toda a nação?

HD: Estamos a mostrar agora as pesquisas localizadas em determinadas regiões, de onde somos ou onde vivemos. Nós fazemos o levantamento das palavras que entraram [no vocabulário] e a análise destes empréstimos na construção frásica. Vamos ver o que é que está acontecendo em Maputo ou em Quelimane.

Capa do livro "Português Moçambicano Volume 2", Editora: Alcance Editores.

A nível da semântica, estamos a dar outros significados a determinadas palavras. [Nas palavras] do sistema de parentesco, por exemplo, eu posso usar a palavra mãe tanto para a minha biológica como para a minha madrasta, e também para uma senhora de uma certa idade. Aqui, em Maputo, é muito frequente usar "mãe", tia, em vez de "senhora". Mas nós ainda não estamos a trazer o português moçambicano falado em todo o país, não. Nós estamos a trazer estudos linguísticos localizados.

DW África: Há considerações finais?

HD: Os estudos sobre o português moçambicano não começam hoje, com os nossos livros. Estas obras são a sequência de muitos outros estudos que já foram feitos. Nós também estamos nesta linha, de compilar estes e outros estudos que estão a ser feitos, para mostrar que a Língua Portuguesa em Moçambique está a mudar.

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