OCDE pede a Moçambique e Angola para aprenderem com os erros
Lusa | gcs
10 de outubro de 2017
Galinha do gás ainda não pôs os ovos de ouro, provocando um efeito dominó na economia moçambicana. Segundo a OCDE, contou-se demasiado com receitas que não chegaram. Angola também terá muito a aprender com o passado.
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Moçambique precisa de aprender "a lição" e "conter os gastos desenfreados dos últimos anos", afirma Federico Bonaglia, diretor adjunto do Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em entrevista à agência de notícias Lusa.
Bonaglia diz que "o que vemos agora e desde que a dívida foi divulgada é que as pessoas já estavam a antecipar receitas que não estão lá ainda".
Em 2016, o ano em que se soube que o Estado moçambicano tinha garantido empréstimos superiores a mil milhões de dólares a empresas moçambicanas sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, o analista Markus Weimer também já comentava num artigo da DW África que o problema foi contar com os lucros dos negócios do gás, que nunca mais chegam.
"As empresas envolvidas queriam entrar no mercado da segurança marítima - um serviço que iam vender para as empresas de gás offshore. […] A esperança era que os pagamentos fossem numa altura em que já havia receitas da venda do gás, mas vários projetos atrasaram-se", afirmou Weimer em junho do ano passado.
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03:03
Após o escândalo das dívidas, os parceiros internacionais de Moçambique congelaram a ajuda ao país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) continua à espera da divulgação total da auditoria ao caso. Segundo o Banco Central moçambicano, a dívida pública ronda atualmente os 120% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Moçambique está numa situação crítica em termos da dívida pública; há discussões sobre como lidar com este grande nível de endividamento e o FMI está à espera que o Governo faça alguma coisa", lembra Federico Bonaglia, do Centro de Desenvolvimento da OCDE. "O que entendemos é que o Governo e o Banco Central estão a fazer esforços para aumentar a transparência e divulgar informação, mas esta experiência é muito complicada."
Aprender e diversificar
O responsável espera, no entanto, que os preços das máterias-primas aumentem um pouco e tragam "um novo fôlego" à economia – não só em Moçambique como também em Angola, bastante afetada pela quebra do preço do barril do crude no mercado internacional.
Bonaglia exorta, ainda assim, o novo Governo angolano a não descurar a diversificação económica.
"O que esperamos em Angola é que a nova liderança [do Presidente João Lourenço] aprenda com esta situação anterior e invista mais na construção das ligações entre o setor extrativo e o resto da economia, e também melhore a capacidade dos cidadãos participarem na governação do país e na melhoria da qualidade das instituições", diz.
Em Angola, "é preciso usar melhor as receitas geradas pelo petróleo nos últimos anos", comenta Bonaglia na entrevista à Lusa, à margem da apresentação da edição portuguesa do relatório "Perspetivas Económicas em África 2017: Empreendedorismo e Industrialização", em Lisboa. "O facto de o crescimento estar concentrado em setores que não geram emprego significa que mesmo que a economia cresça, não vai ter um 'efeito-cascata' até aos cidadãos de forma a reduzir a pobreza."
Muitos angolanos ainda não têm acesso ao dinheiro do petróleo, refere. Estima-se que mais de metade da população angolana continua a viver na pobreza.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.