Tratamento imediato para pacientes com testes positivos de HIV/SIDA: é esta a nova estratégia para combater a doença em 18 unidades sanitárias em Gaza, no sul de Moçambique.
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Na província de Gaza, sul de Moçambique, 18 unidades sanitárias dos distritos de Chókwè e Xai-Xai, além da cidade com o mesmo nome, estão a experimentar uma nova abordagem de tratamento do HIV/SIDA. Assim que o paciente faz o teste do HIV/SIDA e dá positivo, inicia imediatamente o tratamento antiretroviral. Uma acção estratégica que pode salvar milhares de doentes e prevenir novas infecções.
Há dois meses que Lourenço Machava, de 30 anos, está em tratamento na cidade de Xai-Xai. O funcionário público diz que encara o HIV/SIDA como uma "realidade irreversível". Mas vê na nova abordagem uma oportunidade de projectar melhor o futuro: "Considero positivo que quando a pessoa faz teste hoje, no mesmo dia começa o tratamento".
Machava diz que não se cansa de aconselhar amigos que se "sentem mal" a recorrer o mais depressa possível aos serviços médicos: "Terão chances de projectar o futuro”, disse este paciente à DW África.
Combater doenças oportunistas
Lourenço Machava é um de 120 mil pacientes que estão a receber tratamento antiretroviral em Gaza. E há outros 50 mil em tratamento preventivo, de acordo com a direcção provincial de saúdede Gaza. A província tem uma seroprevalência de 25%. Trata-se da mais elevada do país, segundo o Inquérito Nacional de Prevalência, Riscos Comportamentais e Informação sobre o HIV e SIDA em Moçambique, feito em 2009.
Jossefate Macassa, técnico responsável pelo programa de HIV/SIDA no centro de saúde de Xai-Xai, fala das muitas vantagens para os pacientes: "Se o paciente inicia o tratamento cedo, reduz bastante a carga viral. Consequentemente não vão surgir doenças oportunistas". Também o nível de transmissão sofre uma redução importante, "se o indivíduo faz correctamente o tratamento”, acrescenta o especialista.
Urge uma informatização
A nova abordagem constitui um desafio para o próprio sector, sobretudo em relação à organização dos processos clínicos. Actualmente, ainda é tudo feito à mão e as fichas dos doentes perdem-se com frequência.
14.11.16 Nova abordagem HIV - MP3-Stereo
Isaías Ramiro, director provincial de Saúde, disse à DW África que é preciso apostar na informatização dos processos e redobrar esforços: "No centro de cidade de Xai-Xai, temos 16 mil pacientes em seguimento. Gerir processos clínicos destes pacientes é um desafio enorme. Muitas vezes o paciente chega para a consulta, quando se vai à procura do seu processo não se encontra".
Não obstante, Ramiro está otimista que a os resultados da nova abordagem permitam demonstrar que "temos condições para expandir”. Segundo Isaías Ramiro, outras oito unidades sanitárias deverão iniciar a nova abordagem de tratamento do HIV até dezembro.
A importância do diagnóstico atempado
As autoridades de saúde pedem às pessoas que façam o teste o mais rapidamente possível, para começarem imediatamente o tratamento antiretroviral, se for necessário.
A nova abordagem insere-se nas metas que a ONUSIDA, a agência responsável das Nações Unidas, espera alcançar até 2020. Faz parte da chamada estratégia 90-90-90 das Nações Unidas. Um dos objetivos é diagnosticar 90% das pessoas que vivem com HIV/SIDA. Outro é providenciar o tratamento destes 90%. O terceiro objetivo prioritário é garantir que todos esses pacientes deixem de poder transmitir o vírus.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.