OMS alerta para custos da Mutilação Genital Feminina
Lusa | ms
6 de fevereiro de 2020
"É necessário mais investimento para parar a MGF e acabar com o sofrimento que ela inflige", defende a Organização Mundial da Saúde (OMS) no Dia da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.
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A OMS alertou esta quinta-feira (06.02) para os custos da Mutilação Genital Feminina na saúde física e mental das mulheres e meninas, mas também dos recursos económicos de um país.
"A MGF [Mutilação Genital Feminina] não é apenas um abuso catastrófico dos direitos humanos que prejudica significativamente a saúde física e mental de milhões de meninas e mulheres. É também um esgotamento dos recursos económicos vitais de um país", afirmou o diretor do Departamento de Saúde Sexual e Reprodutiva e Pesquisa da OMS, Ian Askew.
A propósito do Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, defende que é "necessário mais investimento para parar a MGF e acabar com o sofrimento que ela inflige".
Em comunicado, a OMS revelou que os custos totais do tratamento dos impactos da MGF na saúde ascenderiam a 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) por ano, a nível mundial.
Individualmente, esta prática custa em média cerca de 10% do total das suas despesas anuais com a saúde. Em alguns países, essa percentagem atinge os 30%.
Para chegar a estes valores, foi criada uma ferramenta que é lançada no Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.
Custos e riscos
Além dos custos económicos, a MGF representa vários riscos para as mulheres e meninas sujeitas a este procedimento, seja imediatamente após o corte - como infeções, hemorragias ou traumas psicológicos - ou a nível crónico através de problemas que podem ocorrer ao longo da vida.
As mulheres sujeitas à MGF têm mais probabilidades de risco de vida durante o parto, além de poderem vir a sofrer de distúrbios ao nível da saúde mental.
De vítima de mutilação genital a ativista
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Devido a este procedimento, estas mulheres e meninas ficam em risco de ter dores ou problemas quando menstruam, urinam ou têm relações sexuais.
"Os elevados custos dos cuidados de saúde para os países aumentam devido aos trágicos impactos pessoais nas mulheres e meninas. Os governos têm a responsabilidade moral de ajudar a acabar com esta prática prejudicial", afirmou o diretor interino para a Cobertura Universal da Saúde e o Curso de Vida na Agência Regional Africana da OMS, Prosper Tumusiime.
Por outro lado, a prevenção da MGF traz grandes benefícios para as mulheres, meninas, comunidades e economias. Com base em dados de 27 países de alta prevalência de MGF, a Calculadora de Custos demonstra claros benefícios económicos ao acabar com a MGF.
Se esta prática fosse abandonada agora, a poupança associada em custos de saúde seria superior a 60% até 2050. Em contrapartida, se não forem tomadas medidas, estima-se que estes custos subam 50% no mesmo período, à medida que as populações crescem e que mais raparigas são submetidas ao procedimento.
Mutilação genital feminina: uma tradição que teima em persistir
A mutilação genital feminina (MGF) persiste em muitos países africanos, apesar de ser proibida oficialmente. Os Pokot, no Quénia, são uma das etnias que continuam a levar a cabo esta prática.
Foto: Reuters/S. Modola
Uma lâmina para todas
Esta lâmina foi usada para mutilar quatro raparigas do Vale do Rift, no Quénia. Para o povo Pokot, o ritual marca a passagem de menina para adulta. Apesar de esta tradição brutal ser proibida por lei, muitas raparigas continuam a ser sujeitas à mutilação genital feminina (MGF), sobretudo em zonas rurais.
Foto: Reuters/S. Modola
Preparativos para a cerimónia
As meninas e mulheres Pokot aquecem-se junto à fogueira às primeiras horas da manhã. Quem não se submete à MGF tem menos hipóteses de casar. A integração das mulheres e a sua sobrevivência económica depende do casamento, principalmente nas áreas rurais. Aquelas que se recusam a participar são renegadas pela sociedade ou até mesmo expulsas.
Foto: Reuters/S. Modola
É impossível dizer "não"
Antes de se proceder ao ritual, as raparigas são despidas e lavadas. Elas sabem de antemão que, tal como as suas mães, vão ter problemas de saúde: quistos, infeções, infertilidade, complicações no parto. A mutilação genital feminina continua a ser praticada em 28 países africanos, na península Arábica e na Ásia. Também há filhas de emigrantes na Europa que são mutiladas.
Foto: Reuters/S. Modola
Espera angustiante
Estas raparigas Pokot esperam pela cerimónia de circuncisão na província de Baringo, no Vale do Rift. O Quénia proibiu a mutilação genital feminina em 2011, 27 por cento das quenianas entre os 15 e os 49 anos foram submetidas a esta prática, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Na maioria das vezes não se usa anestesia e o material não é desinfetado.
Foto: Reuters/S. Modola
Ritual mortífero
Cerimónia de circuncisão: Os Pokot esperam que as raparigas sejam corajosas e não gritem. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% das raparigas morre durante esta cerimónia e 25% morre devido a complicações associadas. Na Guiné-Bissau, metade das mulheres entre os 15 e os 49 anos foi submetida a esta prática, segundo a UNICEF. Na Somália, o número ronda os 98%.
Foto: Reuters/S. Modola
Pedra ensanguentada após o ritual
A forma como se faz a excisão varia de etnia para etnia. Os Pokot fecham a abertura vaginal. A OMS distingue três tipos de MGF: no tipo 1, o clítoris é retirado. No tipo 2, retira-se o clítoris e os pequenos lábios. No tipo 3, a infibulação, os grandes lábios também são retirados e a abertura vaginal é fechada.
Foto: Reuters/S. Modola
Tingir o corpo de branco
Tingir o corpo de branco faz parte do ritual dos Pokot. Em muitos países há campanhas de esclarecimento, para alertar para os perigos da mutilação genital feminina. Mas só lentamente as campanhas dão frutos. No Quénia, há desde 2014 uma unidade da polícia que trata de questões relacionadas com a MGF. Há também uma linha SOS que recebe denúncias.
Foto: Reuters/S. Modola
Trauma para a vida
Após a cerimónia, as raparigas são cobertas com peles de animais e recolhidas para um local onde podem descansar. Na ótica dos Pokot, elas estão prontas para casar e podem receber um dote maior. Alguns povos acreditam que as mulheres submetidas à MGF são mais férteis e fiéis ao seu marido. Quando se faz uma excisão não há volta atrás. Não é possível reverter a mutilação com operações plásticas.
Foto: Reuters/S. Modola
De mãe para filha?
Esta rapariga nunca mais vai esquecer a mutilação. Em alguns países, a excisão é realizada em bebés. Sendo uma prática ilegal, um bebé a chorar dá menos nas vistas do que uma rapariga a sofrer de dores o tempo inteiro.