OMS confirma eficácia de novos medicamentos contra o ébola
tms | Eddy Micah Jr. | com agências
14 de agosto de 2019
Dois novos tratamentos testados em pacientes com ébola na República Democrática do Congo (RDC) mostram que mais de 90% das pessoas podem sobreviver se tratadas dentro de três dias após apresentarem sintomas.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou terça-feira (13.08) a eficácia de dois tratamentos contra o ébola aplicados em pacientes na República Democrática do Congo (RDC), que vive a segunda maior epidemia já registada da doença, com quase dois mil mortos.
"Foram feitas modificações no tratamento dos pacientes com ébola na RDC e agora receberão um dos dois tratamentos testados recentemente. Trata-se do Regeneron ou mAb114. Um estudo monitorizado por um comité independente descobriu que estes tratamentos superaram outros dois aplicados", disse em conferência de imprensa em Genebra, na Suíça, o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.
O ébola no leste da RDC continua a ser um grande desafio desde que o surto foi declarado uma emergência internacional de saúde em 17 de julho pela OMS. O surto atual é o segundo mais mortal de todos os tempos e já matou mais de 1.800 pessoas na RDC desde o ano passado.
Diagnóstico rápido, prevenção e vigilância
O comité responsável pela análise dos novos tratamentos verificou que a sua eficácia foi ainda melhor no caso dos pacientes tratados precocemente, com apenas três dias de infeção. Por isso, a OMS alerta para a necessidade de um diagnóstico rápido. "A cura total pode não ser possível, mesmo se houver um tratamento 100% eficaz, pois ainda depende do fator humano de alcançar o cuidado médico cedo o suficiente", explica Christian Lindmeier.
OMS confirma eficácia de novos medicamentos contra o ébola
A prevenção, a vigilância, a busca pelo tratamento médico dentro das comunidades são muito importantes no combate ao ébola. As pessoas são encorajadas a ficar de olho nos seus familiares e a procurar atendimento imediato se surgirem sintomas prováveis, diz a professora Marylyn Addo, da Universidade de Hamburgo, na Alemanha.
A especialista em ébola também comenta a eficácia dos dois tratamentos: "Estes tratamentos já foram testados em 700 pessoas até agora e demonstraram ser seguros, com efeitos colaterais favoráveis. E finalmente, pela primeira vez, temos um tratamento que combate diretamente o vírus."
As autoridades sanitárias congolesas anunciaram também esta terça-feira (13.08) a cura de duas pessoas infetadas com o vírus do ébola após 11 dias de tratamento em Goma, no leste do país, numa prova da eficácia dos novos medicamentos.
A partir de agora, a OMS e seus parceiros vão conduzir um estudo mais específico com todos os pacientes na RDC que estão a receber um dos dois tratamentos para avaliar qual é o mais eficaz no combate ao ébola.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."