Vários líderes africanos recebem tratamento médico no estrangeiro: por exemplo, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Mas a Organização Mundial de Saúde alerta que é preciso melhorar a Saúde dos seus países.
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Numa reunião com ministros da Saúde africanos em Victoria Falls, no Zimbabué, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) recordou um encontro que não esquece. "Visitei o Iémen e conheci uma mãe e a sua filha malnutrida, que tiveram de viajar quatro horas para chegar a um centro de saúde. A mãe implorou à equipa médica para tratar da filha", contou Tedros Adhanom Ghebreyesus aos delegados. "Este momento de sofrimento humano foi para mim um grito de alerta."
Esta imagem descrita pelo líder da OMS serviu de aviso aos ministros presentes. Segundo um estudo recente da organização, em África, há desigualdades no acesso à Saúde devido à falta de vontade política e à mobilização de poucos recursos financeiros para o setor.
Tedros Adhanom Ghebreyesus tenta, por isso, mobilizar os líderes africanos a melhorar os sistemas de saúde nos seus países para que eles sejam acessíveis a todos.
"A aposta na construção dos vários pilares do sistema de saúde é importante", disse aos ministros na quarta-feira (30.08). "Seja a infraestrutura ou os recursos humanos, a prestação de serviços ou os sistemas de informação, o acesso a medicamentos ou uma boa administração. Será importante usar estes fatores como indicadores e controlar a sua evolução para perceber se temos um sistema resiliente."
Tratamento médico no estrangeiro
As deficientes infraestruturas de saúde e a falta de tratamento especializado e medicamentos levaram vários líderes africanos a procurar cuidados médicos fora do continente.
O ministro sul-africano da Saúde, Aaron Motsoaledi, criticou os líderes que o fazem, argumentando que a prática afeta fortemente a distribuição do dinheiro público.
"Não gosto do facto de África ser o único continente neste planeta onde os chefes de Estado, quando estão doentes, procuram ajuda noutro país ou até noutro continente", comentou. "Isso não é um bom sinal. Só poderemos dizer que os sistemas de saúde em África funcionam se todos, incluindo os chefes de Estado, receberem tratamento no seu continente."
Não são raras as vezes em que é noticiado que vários chefes de Estado africanos, entre eles o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, o líder do Zimbabué, Robert Mugabe, e o chefe de Estado nigeriano, Muhammadu Buhari, se deslocam à Europa para receber tratamento médico.
Cresce desigualdade no acesso à Saúde
O diretor regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, considera que a desigualdade no acesso à Saúde está a crescer na maior parte dos países à medida que aumenta o fosso social entre ricos e pobres.
"Com os objetivos de desenvolvimento sustentáveis adotados recentemente por todos os países, temos novas oportunidades para melhorar os cuidados de saúde e torná-los universais", afirmou Moeti. "Temos também de nos focar em sistemas de saúde resilientes, robustos, para todos - algo que não era destacado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio".
OMS: Falta vontade política para melhorar a Saúde
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, pede aos Governos africanos que destinem mais dinheiro ao setor da saúde, para prevenir doenças e, assim, poupar dinheiro.
"Temos de passar para uma abordagem voltada para os resultados", disse Ghebreyesus. "Temos de tentar medir o impacto", por exemplo, o número de vidas que se pode salvar.
Segundo o responsável, é preciso que os Governos honrem o compromisso assumido na declaração de Abuja de 2001 e reservem 15% dos seus orçamentos anuais para despesas com a Saúde.
Dezasseis anos depois, segundo as Nações Unidas, só um país cumpriu esse objetivo. 26 países aumentaram o financiamento para o setor da saúde e 11 diminuíram o montante alocado. Nos outros nove países, não houve nem subidas, nem descidas.
47 ministros africanos da Saúde reuniram-se na 67ª sessão anual do comité regional da OMS, que começou na segunda-feira (29.08) e termina esta sexta-feira (01.09) no Zimbabué.
Carências do principal hospital de Bissau
O Hospital Nacional Simão Mendes é considerado a unidade hospitalar de referência na Guiné-Bissau. Mas falta quase tudo: pessoal especializado, medicamentos básicos, aparelhos de diagnóstico.
Foto: Gilberto Fontes
Crise política deixa hospital a meio gás
Com a instabilidade política agravaram-se as necessidades no principal hospital da Guiné-Bissau e caíram por terra as expectativas da equipa hospitalar que esperava mais atenção por parte das autoridades. A Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras prestam apoio. Mas, mesmo assim, perdem-se muitas vidas por falta de condições básicas de assistência.
Foto: Gilberto Fontes
À espera da hemodiálise...
O país ainda não consegue tratar doentes com insuficiência renal. O hospital tem estas instalações novas para iniciar tratamentos. Só falta a máquina da hemodiálise. Curioso é que o equipamento está no hospital, fechado há anos numa sala, cuja chave está com o Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar. Um nefrologista e vários técnicos fizeram formação em diálise, que ainda não podem aplicar.
Foto: Gilberto Fontes
Enquanto isso a população sofre
Doentes, como esta senhora, só podem receber tratamentos de hemodiálise no Senegal. No entanto, cada sessão chega a custar 150 euros. O que é insustentável para muitos doentes que, normalmente, necessitam de várias sessões semanais. Quando a doença é detetada numa fase inicial, aciona-se a evacuação para Portugal. Mas o processo é moroso. Muitos doentes acabam por falecer por falta de tratamento.
Foto: Gilberto Fontes
Há equipamentos novos parados...
O técnico de radiologia Hécio Norberto Araújo lamenta que este aparelho novo de radiografias esteja praticamente parado. Só faz alguns exames, em casos de urgência. Também o equipamento de mamografia nunca funcionou devido à falta de acessórios, como o chassi e o aparelho de revelação. O hospital militar continua a ser o único no país a fazer mamografias e tomografias, que podem custar 100 euros.
Foto: Gilberto Fontes
E máquinas obsoletas em uso
Na falta de opções, este velho aparelho de raio x continua a ser muito requisitado. Ninguém sabe quantos anos tem o equipamento que funciona com arranjos improvisados de fita-cola. A pequena sala de diagnóstico está desprovida de qualquer proteção contra as radiações. O único avental de proteção está estragado. Os técnicos de radiologia estão diariamente expostos a radiações eletromagnéticas.
Foto: Gilberto Fontes
Sem mãos a medir na pediatria
Esta unidade costuma estar cheia, principalmente na época das chuvas, com o aumento de casos de malária ou paludismo e diarreia nas crianças. Neste serviço com 158 camas, há apenas nove médicos efetivos e quase 40 enfermeiros. Entre o pessoal médico, conta-se um único especializado em pediatria. A falta de um eletrocardiograma é responsável pelo diagnóstico tardio de cardiopatias entre os menores.
Foto: Gilberto Fontes
Nem medicamentos para emergências
Nos cuidados intensivos há apenas um cardiologista. A maioria do pessoal médico são clínicos gerais. Por vezes, em plena situação de paragem cardíaca, falta medicação de urgência que os familiares do doente têm de se apressar em providenciar. A equipa hospitalar quer mais investimento em formação e em condições de trabalho. Só assim pode salvar mais vidas e diminuir a evacuação para o exterior.
Foto: Gilberto Fontes
Faltam lençóis e comida
O Hospital Nacional Simão Mendes tem mais de 500 camas. Mas não tem lençóis que cheguem para fazer a cobertura de todas elas. Devido à falta de pijamas, muitos doentes ficam hospitalizados com a roupa que trazem no corpo. Além disso, não há como providenciar alimentação aos pacientes que, na maior parte das vezes, ficam dependentes da comida que os familiares conseguem fazer chegar.