A garantia é de um médico da Organização Mundial de Saúde que alerta que um dos principais focos de contágio, em Beni, pode estar nos centros médicos improvisados. 209 pessoas morreram em três meses.
Publicidade
Peter Salama, médico-chefe dos serviços de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS), visitou as províncias de Kivu Norte e Ituri, na República Democrática do Congo (RDC), na semana passada. Esta terça-feira (13.11), em Genebra, na Suíça, o médico disse desconfiar que sejam os centros médicos improvisados na província de Kivu Norte o principal foco de contágio da doença.
Segundo este responsável, "existem em Beni várias centenas do que eles chamam de 'instalações de saúde tradicionalmente modernas' que não estão mapeadas, nem regulamentadas pelo Ministério da Saúde". Trata-se de instalações privadas que, acredita Peter Salama, "são um dos principais focos de transmissão da doença, podendo mais de 50% dos casos em Beni ter origem nestas instalações", diz. A agravar a situação, estão "as práticas de higiene e vacinação, "relativamente inseguras", entende este médico.
Beni, na província de Kivu do Norte, é a cidade congolesa mais afetada pela epidemia. O ébola é uma doença altamente contagiosa: transmite-se através do contacto com fluidos corporais.
RDC: Surto de ébola vai durar pelo menos mais seis meses, diz OMS
Peter Salama disse ainda ser "muito difícil prever os prazos [para a extinção] de um surto tão complicado como este". "Existem várias "variáveis fora do nosso controlo", frisou o responsável da OMS. "Antevemos pelo menos mais seis meses antes de podermos declarar o fim desta epidemia. E isso pode mudar à medida que recebemos informações diariamente".
Diagnósticos errados
O médico considera ainda "muito provável" que alguns casos de ébola tenham sido mal diagnosticados e confundidos com malária, devido à semelhança dos sintomas iniciais. Por isso, a OMS tem investido na formação de grupos locais.
A organização tem estado a trabalhar "com todos os elementos dos membros da comunidade, tanto através de técnicas de mobilização em massa, como de técnicas individuais, de casa em casa", dá conta Peter Salama, acrescentando que o foco está cada vez mais em grupos de jovens e mulheres, pois "são figuras locais poderosas nos bairros" que ajudam a "formar a opinião pública". "Já vemos alguns sinais muito positivos", adianta.
Apesar de alguns congoleses suspeitarem dos estrangeiros e das organizações internacionais, muitos também acreditam na eficácia dos medicamentos. Entre os casos de contágio recentes encontram-se os de duas enfermeiras. São já 27 os agentes de saúde contaminados com o vírus. Três acabaram por morrer. Quase 27 mil pessoas já foram vacinadas na RDC, a maioria profissionais de saúde e crianças.
"Contexto díficil"
Ainda segundo Peter Salama, o atual surto de ébola na RDC é "possivelmente o contexto mais difícil" que a OMS encontrou, por causa das atividades de dois grupos armados de oposição no leste daquele país africano. A epidemia alastrou até perto da fronteira com o Uganda, para uma região que está sob controlo do grupo armado ADF. Os múltiplos ataques contra civis estão a dificultar a resposta sanitária. Para prevenir o alastramento da epidemia, o Uganda está a vacinar funcionários na fronteira.
Desde 1976, aquele país já foi atingida nove vezes pelo ébola.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.