Em projeto da DVV International, alunos aprendem não só a ler e escrever, mas também como abrir pequenos negócios e investir em agricultura. Governo moçambicano quer reduzir taxa de analfabetismo para 41% até 2019.
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É fraca a mobilização para alfabetizar e educar adultos em Moçambique. Para combater esse problema, a organização não-governamental alemã Deutscher Volkshochschul-Verband (DVV Internacional) está a fomentar o ensino básico e a desenvolver atividades de geração de rendimentos para autossustento.
O professor Carlos Fortunato é voluntário e desdobra-se em esforços para ensinar os alunos a ler, escrever e fazer contas. "Foi um grande desafio ter que trabalhar com eles, mas a força de vontade de trabalhar foi maior. A abertura que eles tiveram permitiu que possamos produzir alguma coisa em conjunto", diz.
Foi a pensar nisso que a DVV International introduziu um projeto integrado que se iniciou em duas províncias. Em Maputo, no sul de Moçambique, e Sofala, no centro, Augusto Macicane, daquela organização, não quer apenas dar a instrução mínima. "Mas também programas que ajudam as pessoas a ter autossustento. Especificamente, nestas duas províncias temos projetos na área da agricultura e de pequenos negócios", explica.
É desenvolvendo estas atividades integradas que se limita a desistência dos alfabetizandos. Conseguir utilizar o telemóvel também incentiva os estudantes. "As pessoas estão interessadas em saber mandar e ler uma mensagem do telefone. Mas, acima de tudo, as pessoas estão mais interessadas em ver as suas vidas melhoradas, através do saber fazer, por exemplo, na agricultura e pequenos negócios", afirma.
Parceria
A DVV International trabalha com o Ministério da Educação de Moçambique no apoio ao desenvolvimento curricular. "Para a formação de profissionais educadores de adultos, para criar condições mínimas para que as pessoas interessadas em trabalhar nesta área consigam alcançar esse objetivo", diz Augusto Macicane.
03.10.17 Alfabetização em Moçambique - DVV - MP3-Mono
O Governo, por seu turno, refere que os programas desenvolvidos pela DVV International surtiram efeitos desejados. O chefe de Departamento de Organização e Gestão Escolar, Davide Uamusse, não tem dúvidas para os próximos três anos.
"Já elaborámos a estratégia de alfabetização e educação de adultos e o respetivo plano operacional. Desenvolvemos um plano de formação de educadores e capacitação de alfabetizadores e, neste momento, estamos a desenvolver um programa integrado que está a suprir um défice que tínhamos", observa.
A maior preocupação do executivo neste momento é elaborar programas adequados à realidade de cada meio onde está inserido o alfabetizando. "Direcionamos os programas na perspectiva de que eles sejam relevantes para as populações e que respondam aos seus anseios. Quer dizer, uma alfabetização que proporcione habilidades para melhor integrar-se na sociedade", acrescenta.
As províncias da Zambézia, no centro, e Nampula, no norte, são as mais populosas de Moçambique e oconcentram o maior número de centros de alfabetização. No entanto, é também onde se registam as mais elevadas taxas de analfabetismo.
Alemanha e Moçambique no olho de dois fotógrafos
Moçambique é o ponto comum na exposição em Berlim que junta fotografias do moçambicano Mário Macilau e do alemão Malte Wandel. As crianças de rua em Maputo são o tema em destaque na obra de Macilau.
Foto: Mario Macilau
Crianças de rua, na visão de Macilau
Nesta foto, o fotógrafo moçambicano Mário Macilau optou por um plano de detalhe para abordar a questão da alimentação das crianças de rua. Esse é um dos temas fortes na obra de Mário Macilau que, em 2017, foi um dos vencedores do prémio internacional The LensCulture Exposure Awards.
Foto: Mario Macilau
Crescendo na Escuridão
Em 2017, a obra do fotógrafo moçambicano Mário Macilau esteve em exposição na Galeria Kehrer, na capital da Alemanha. As fotos foram extraídas de diversas séries produzidas por ele, especialmente do livro "Crescendo na Escuridão", que mostra a infância de crianças de rua em Maputo. A exposição inclui também fotografias do alemão Malte Wandel, que documenta a vida dos "Madgermanes".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
A casa
A foto intitulada "Escadas de Sombras" mostra o interior de uma casa abandonada do período colonial. "Entrei nessas casas e comecei a observar a forma como esse sonho das casas de luxo se foi perdendo e as casas foram envelhecendo", revela Macilau. "Não queria mostrar o lado de rua dessas crianças, por isso, a maioria das fotografias foi feita dentro das casas onde elas moram", afirma.
Foto: Mario Macilau
Brincadeira
O menino com a arma de fogo nas mãos é, quase sempre, uma imagem chocante. Macilau garante que, aqui, trata-se de uma arma de brinquedo, feita pelas próprias crianças. O fotógrafo quis mostrar não apenas a dura realidade da vida nas ruas, mas também o imaginário e as brincadeiras, apesar da falta de perspectivas dos menores.
Foto: Mario Macilau
A imagem da alegria
A diversão na praia estampada nos sorrisos. A foto retrata a liberdade e a alegria do momento. Nem só de desesperança é feita a vida das crianças retratadas por Mário Macilau. "São crianças normais, que também têm sonhos. Elas vão passear, brincam, vão à praia. Isso tudo faz parte do lazer delas", considera.
Foto: Mario Macilau
Duas visões em exposição
Moçambique é o elo de ligação que junta dois fotógrafos na exposição, diz a gerente da Galeria Kehrer, Pauline Friesescke. "Mário apresenta um olhar de grande proximidade com os seus protagonistas", afirma. Já o trabalho de Wandel "coloca em debate uma parte interessante da história da Alemanha" e de Moçambique.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
"Madgermanes": Protestos e resistência
Desde 2007, Malte Wandel documenta a vida dos "Madgermanes" – tanto daqueles que ficaram na Alemanha quanto dos que retornaram a Moçambique. Para o fotógrafo, "era importante mostrar pessoas diferentes, em diversos lugares e também de níveis sociais variados" descreve. Na foto em exposição em Berlim, os "Madgermanes" protestam pelo pagamento de parte do salário que era descontado para Moçambique.
Foto: Malte Wandel
Ambiente familiar
Malte Wandel fotografou diversas famílias dentro de casa. Na foto, a família de Jamal Trabaco, em Halle an der Saale, no estado alemão da Saxónia-Anhalt. "Para mim, era muito importante mostrar os ambientes privados, contar as histórias privadas e tornar essas famílias visíveis", explica o fotógrafo alemão.
Foto: Malte Wandel
Vítimas de ataques racistas
Foi na Praça Jorge Gomodai, em Dresden, que em 1991 o moçambicano Jorge João Gomodai foi atacado por jovens de extrema direita, vindo depois a falecer. "Nestes tempos em que Dresden representa o Movimento Pegida [Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente], muitas manifestações aconteceram nesta praça e escolhi-a como símbolo para mostrar que a história se repete", justifica Wandel.
Foto: Malte Wandel
Uma vida sem glamour
O fotógrafo alemão interessou-se por retratar a situação nada glamorosa em que se encontravam os ex-trabalhadores da RDA. A imagem demonstra a sala da casa de Nelson Munhequete, em Maputo. "A foto mostra que ele não teve uma chance", diz Malte Wandel. "Dar cada vez mais visibilidade a essa história é meu objetivo", conclui.
Foto: MalteWandel
A opinião do público
Durante uma visita à exposição, o artista plástico Thomas Kohl encantou-se com o trabalho de Mário Macilau. "Tem-se a impressão de que se trata de uma situação real e não de algo encenado", descreveu. Para Kohl, apesar de abordar o tema pobreza, "não há um julgamento nem uma realismo barato" no trabalho de Macilau.