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ONG critica "visão militarista" da ajuda a Moçambique

António Cascais
27 de abril de 2021

Batalhões de infantaria, unidades de forças especiais, helicópteros, drones, são algumas das sugestões da missão da SADC para combater os insurgentes em Cabo Delgado. ONG diz que falta uma coisa: diálogo com a população.

Foto: Roberto Paquete/DW

A missão técnica de avaliação da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) propõe o envio de quase 3.000 militares para ajudar Moçambique a combater os terroristas na província nortenha de Cabo Delgado.

A missão sugere o destacamento de três batalhões de infantaria ligeira, duas unidades de forças especiais e uma equipa de comunicações. Além disso, prevê também o envio de vários meios: dois navios-patrulha, um submarino, um avião de vigilância marítima, seis helicópteros, dois drones e quatro aviões de transporte.

No relatório da missão técnica, divulgado esta terça-feira (27.04), há apenas uma breve menção à necessidade "prioritária" de assistir as centenas de milhares de deslocados moçambicanos, obrigados a fugir da violência em Cabo Delgado.

Para o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), esta é uma visão demasiado "militarista". Pouco depois da divulgação do relatório da missão técnica, a organização não-governamental moçambicana escreveu no seu site que a SADC "fez uma análise pobre e recomendações inapropriadas".

Em entrevista à DW África, Adriano Nuvunga, diretor do CDD, apela ao diálogo com a população.

Adriano NuvungaFoto: Roberto Paquete/DW

DW África: Que avaliação faz desta proposta?

Adriano Nuvunga (AN): Parece-nos que esta missão se deixou ficar pelas conversas aqui de Maputo. Não compreendemos como é que ficam pela visão militarista numa altura em que estamos a dizer que o diálogo é uma forma de resolver o problema. Pela maneira como é apresentado, não nos parece que [o relatório] resulta de uma compreensão profunda da complexidade do assunto. E isso compreende-se, porque não fizeram consultas, ficaram apenas nos gabinetes da Defesa, à porta fechada. Não estamos satisfeitos com este trabalho.

DW África: Que vozes deveria ter consultado a SADC? Entidades independentes? Organizações como a sua, por exemplo?

AN: Organizações da sociedade civil independentes, que fazem trabalho nesta área. É inaceitável que a SADC faça um relatório sem ouvir as pessoas. A SADC diz que é uma comunidade, mas uma comunidade não é daqueles que governam – uma comunidade pressupõe ouvir também as sociedades dos países, e não nos parece que tenha sido o caso aqui. E há também as lideranças em Cabo Delgado, o setor económico, privado e doméstico, e as comunidades [que também não foram ouvidos].

DW África: Houve algum conteúdo no relatório que o tenha surpreendido? O relatório fala que estão envolvidos nos crimes em Cabo Delgado traficantes de droga, de pedras preciosas e madeira...

AN: As informações não nos surpreendem. Parecem mais lugares-comuns.

DW África: Moçambique e outros países-membros da SADC deveriam aceitar esta proposta, tal como foi feita pela missão de avaliação técnica?

AN: Não me parece. A recomendação é inadequada, porque a alternativa que se apresenta lá dentro é uma versão suave da militarização. Não apresenta outras propostas, incluindo o diálogo, e é isso que nos parece que está a faltar em Moçambique neste momento.

DW África: A CPLP também está a estudar formas de resolução do problema de Cabo Delgado. Que organização lhe parece mais competente? Ou será que as duas se podem complementar?

AN: Acho que se podem complementar. A CPLP tem as suas valências, fala português... Moçambique está aqui nesta região mas, juntamente com Angola, é dos poucos que falam português. A SADC tem o Zimbabué, a Tanzânia e a África do Sul, com os quais Moçambique tem relações históricas... Acho que se podem complementar. Mas, para serem úteis, precisam de dialogar com a sociedade moçambicana.

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