Várias organizações pedem a libertação imediata do advogado equato-guineense Anacleto Micha e outros ativistas dos direitos humanos. Apelo é lançado ao Governo da Guiné Equatorial num documento a que a DW teve acesso.
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Anacleto Micha não faz parte de qualquer partido político. O ativista foi detido a 25 de setembro e está até hoje incomunicável na Esquadra Central da Polícia de Malabo, capital da Guiné Equatorial. O advogado, que esteve preso naquela cadeia conhecida como "Guantánamo" e foi depois transferido para a prisão Black Beach, na ilha de Bioko, foi detido por ter organizado diversos eventos contra a repressão do Governo liderado por Obiang Nguema e por ter denunciado as violações dos direitos humanos e a corrupção no país.
"O Anacleto foi também detido somente porque estava a ajudar [elementos] do partido 'Ciudadanos por la Innovación', que foi atacado pelas forças de segurança no seu quartel-general [na sua sede]", explica Lucas Olo Fernandes, da Transparência Internacional.
Organizações não-governamentais como a Transparência Internacional Portugal (TI-P) e a EG Justice exigem, em comunicado, a libertação de Anacleto Micha e de todos os outros presos sem acusação formada e sem acesso aos respetivos advogados.
Lucas Olo Fernandes, gestor do projeto APROFORT, financiado pela União Europeia, confirma as diversas violações aos direitos humanos: "Há ativistas detidos, que não têm formalmente acusações feitas contra eles. Mas estamos à espera que os advogados possam falar com eles, porque não tiveram acesso aos [seus] clientes. Esta é uma falha do sistema, porque a Constituição exige que as pessoas tenham, ao menos, acesso aos seus advogados", frisa.
Perseguição às vésperas das eleições
Além da prisão de Anacleto Micha, o comunicado refere que, a 13 de setembro, as forças de segurança prenderam o artista de hip-hop Leoncio Prisco Eco Mba, conhecido como "Adjoguening", que desde então permanece igualmente na prisão Black Beach, sem acesso ao seu advogado e impedido de contactar com familiares.
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"A 16 de setembro", prossegue o comunicado, "a polícia prendeu os ativistas Luis Nzo Ondo, Pablo Angüe Angono e Claudio Nzé Ntutumu, que foram depois exibidos na televisão pública nacional acusados do planeamento de uma ação terrorista". O documento refere ainda que, "a 21 de setembro, a polícia prendeu também Salvador Bibang Esono e Emilio Ndong Biyogo, sob igual acusação".
"Porém", escrevem as ONG, "todos eles se mantêm incomunicáveis e até ao momento não foi formalizada qualquer acusação pelas autoridades equato-guineenses".
Lucas Olo Fernandes diz que este ambiente de perseguição está relacionado com as eleições gerais previstas para 20 de novembro. "O regime está a tentar calar todas aquelas vozes que podem dizer alguma coisa que não esteja na linha do sistema", acusa. Isto, apesar da aprovação da nova lei penal para a abolição da pena de morte e da lei anticorrupção, que os equato-guineenses julgavam serem avanços em direção a mudanças no país, adianta o ativista.
Críticas à CPLP
As ONG também estão a pressionar instituições com a União Europeia (UE), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que todos os presos, ativistas e políticos, sejam libertados.
Ana Lúcia Sá, professora de Estudos Africanos no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, não espera qualquer intervenção dos parlamentares da CPLP, que estiveram reunidos nestes últimos dois dias em Lisboa. Lembra, por exemplo, que a organização lusófona "nada disse" quando a Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau foi dissolvida.
A académica lamenta não haver qualquer ação por parte da comunidade internacional e da CPLP, em particular: "Tem havido ações de ONG e de grupos de ativistas ligados ao país, mas não há uma atitude formal de nenhum Estado da CPLP - de condenação, por um lado, e, por outro lado, de exigência de cumprimento das regras mais elementares do Estado democrático", afirma.
Ana Lúcia Sá questiona o papel da CPLP face aos sistemáticos atropelos aos direitos humanos e diz que os processos e diálogos a nível das instituições dos países membros não têm tido um alcance como poderia ser esperado: "Todo o processo de revisão do Código Penal da Guiné Equatorial é disso exemplo", acrescenta.
Neste clima de repressão constante, a analista fala ainda das várias operações que visam os imigrantes, principalmente os originários de países africanos radicados na Guiné Equatorial. "O rosto mais visível deste dispositivo de segurança tem sido o vice-presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, que inclusive condecorou os polícias da segurança nacional que neutralizaram os militantes do 'Ciudadanos por la Innovación', que, segundo ele, é um partido ilegal e que não supõe qualquer perigo para o país", acusa.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.