Plataforma de Reflexão Angola exige esclarecimento do caso "Fishrot Files", um alegado esquema de corrupção que terá envolvido a antiga ministra das Pescas, Victória Neto. Contas da ex-governante foram congeladas.
Publicidade
A ONG Plataforma de Reflexão Angola (PRA) quer a suspensão temporária das relações comerciais entre a Islândia e o Governo angolano. A associação cita os chamados "Fishrot Files", documentos publicados pela plataforma Wikileaks, em novembro, que revelam um suposto esquema de corrupção envolvendo uma das maiores companhias islandesas de pesca e os governos de Angola e Namíbia.
Os milhares de documentos e e-mails vazados da Samherji indicam que a empresa islandesa teria pago centenas de milhões de coroas islandesas a autoridades angolanas e namibianas. Em contrapartida, teria assinado acordos institucionais que lhe permitiriam ficar com o monopólio das quotas de pesca estabelecidas pelos dois países.
O escândalo também envolveria o banco norueguês DNB, que teria sido usado para a realização de pagamentos ilícitos e lavagem de dinheiro.
Além da suspensão das relações comerciais, a Plataforma de Reflexão pede que o produto da exploração ilegal dos recursos pesqueiros seja destinado a um fundo para "iniciativas de combate à corrupção em Angola", revelou Manuel Dias dos Santos, da PRA.
Presos na Namíbia
Dias dos Santos lembra que a Islândia tem uma legislação rígida de combate à corrupção. Por isso, a ONG pede uma posição das autoridades face a este caso, tendo em conta a "opacidade" na forma como tudo se realizou.
A Justiça namibiana autorizou a detenção temporária de seis dirigentes e empresários suspeitos de participarem no esquema, e emitiu um mandado de prisão contra a ex-ministra das Pescas em Angola, Victória de Barros Neto, demitida no início deste ano. A Procuradoria-Geral da República de Angola abriu um processo-crime contra a ex-ministra e ordenou que as suas contas fossem bloqueadas.
O jornalista Rafael Marques critica o facto de Victória Neto ainda ocupar o lugar de deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) no Parlamento angolano. Segundo Marques, o partido no poder deveria aconselhar parlamentares na mesma situação a suspenderem os seus mandatos até que sejam esclarecidas as supostas irregularidades que envolveriam os seus nomes.
"A Assembleia Nacional começa a ser o refúgio de muitos arguidos, que buscam imunidades neste fórum de representação do povo angolano", afirma.
JLO, o "maior lutador contra a corrupção"
Para Marques, não é aceitável que vários deputados com "acusações graves" continuem no Parlamento para ficarem imunes. "Se nós queremos ser sérios sobre o combate à corrupção, se a mensagem do MPLA é de moralização da sociedade, essa moralização deve começar no seu próprio seio", critica.
O jornalista defende que o chefe de Estado angolano, João Lourenço, reaja à situação como presidente do partido "para que as pessoas não continuem a olhar para o MPLA como um covil de ladrões". E classifica Lourenço como "o maior lutador contra a corrupção em Angola".
A DW África contactou a assessoria de imprensa do embaixador de Angola, Carlos Alberto Fonseca, para obter uma reação, mas o diplomata recusou pronunciar-se sobre a matéria por desconhecer o conteúdo da carta enviada pela PRA.
Mbanza Congo: Património Mundial sem condições para turismo
Capital da província angolana do Zaire acolhe a partir de 5 de julho o primeiro Festival Internacional da Cultura e Artes. Mas a cidade, que é Património Mundial, tem problemas e poucas condições para acolher turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
FestiKongo anual
O Festival Internacional da Cultura e Artes (FestiKongo) passará a realizar-se anualmente na capital da província do Zaire. Essa foi uma das recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aquando da inscrição da cidade angolana na lista do património mundial.
Foto: DW/B. Ndomba
Participação de países africanos
República Democrática do Congo, Congo Brazzaville, Gabão, Camarões, Chade e Guiné Equatorial são alguns dos países convidados. O Ministério da Cultura quer fazer da cidade um "palco de referência cultural nacional e regional", realçando os hábitos, usos e costumes da região. Evento visa também a promoção de músicos, artistas plásticos e criadores de moda, entre outros agentes culturais.
Foto: DW/B. Ndomba
Poucas condições para atrair turistas
A escassez de hotéis e outros serviços é um dos fatores que pode pôr em risco a presença de turistas na cidade histórica. Só há dois hotéis e o mais antigo não oferece condições de alojamento, segundo alguns clientes. O chefe do Turismo na província do Zaire, Ábias Fortuna, reconhece que é preciso construir novas infraestruturas e melhorar os serviços prestados para atrair mais turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
O dilema dos transportes públicos
A província do Zaire, cuja capital foi classificada a 8 de julho de 2017 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, não dispõe de um serviço público de transporte. Por isso, os mototaxistas são a "bóia de salvação" para muitos residentes.
Foto: DW/B. Ndomba
Falta de água potável
Tal como em outras partes de Angola, Mbanza Kongo também regista graves problemas na distribuição de água potável, apesar de a província do Zaire ter vários rios. A maior parte da população consome água imprópria para consumo.
Foto: DW/B. Ndomba
Grutas de Zau Evua
Localizadas bem no centro da província do Zaire, a poucos quilómetros de Mbanza Kongo, as grutas de Zau Evua constam da lista de sete maravilhas naturais de Angola. As cavernas fazem parte de uma rede de grutas e galerias, quase todas desconhecidas e ainda por explorar. É um local que não pode faltar no roteiro de quem visita Mbanza Kongo.
Foto: DW/B. Ndomba
Lixo espalhado pela cidade
É visível a falta de um programa de limpeza na cidade, onde os contentores estão cheios de resíduos não recolhidos. Outro exemplo é a piscina construída pelo Governo Provincial, cuja água não trocada já ganhou a cor verde. Como é prática das administrações, tendo em conta a importância do festival, começaram agora a ser traçados programas de limpeza na cidade dos "Reis do Kongo".
Foto: DW/B. Ndomba
Faltam espaços de lazer
A falta de espaços de lazer é outra preocupação dos munícipes de Mbanza Kongo, na sua maioria jovens. Devido à falta de locais para a prática desportiva, a equipa do escalão júnior do São Salvador do Kongo, o principal clube da província, treina no "jardim moribundo" do Governo do Zaire.
Foto: DW/B. Ndomba
Novo aeroporto em construção
Cumprindo as recomendações da UNESCO no dossier Mbanza Kongo como Património Mundial da Humanidade, a cidade terá um novo aeroporto, em substituição do antigo, no centro da capital do Zaire. Enquadrado no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP), o novo aeroporto está a ser construído na comuna de Kiende, a 33 quilómetros de Mbanza Kongo.