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DesastresMoçambique

"Coincidência fatal" época ciclónica e crise em Moçambique

Lusa
24 de janeiro de 2021

Coordenadora residente da ONU em Moçambique disse hoje (24.01) que o país sofre uma "coincidência fatal" ao passar por uma época ciclónica tão ativa quando enfrenta uma crise humanitária no norte, em Cabo Delgado.

Mosamik Beira Zyklon Eloise
Foto: AP Photo/picture alliance

"No final de 2020, pedimos 250 milhões de dólares [205 milhões de euros] para a resposta humanitária de todo o ano de 2021, só para o norte do país, e ter uma época de ciclones tão intensa é uma preocupação muito grande, uma coincidência fatal", referiu Myrta Kaulard, coordenadora residente da ONU em Moçambique. Em causa está a mobilização de apoio humanitário para Moçambique conseguir enfrentar todos os problemas, no contexto da Covid-19. 

Foto: REUTERS

A responsável falava um dia depois da passagem do ciclone Eloise pelo centro de Moçambique, zona que já tinha sido afetada pela tempestade Chalane em dezembro e que tem passado janeiro sob chuvas intensas.

Estima-se que haja 163 mil pessoas afetadas, mas com quase 7 mil deslocados em 21 centros de acomodação - além de 137 mil hectares de áreas agrícolas inundadas, agravando o risco de fome. Embora o ciclone Eloise tenha provocado menos estragos do que o Idai, traz uma maior "acumulação de vulnerabilidades" numa altura em que a presente época ciclónica ainda só vai a meio.

 "Não é correto comparar com o Idai"

"Não é correto comparar a situação atual com o Idai", um dos ciclones mais mortíferos do hemisfério sul, que causou muitas vulnerabilidades em 2019 e sem que tenha passado tempo suficiente para, por exemplo, "se reconstruir de maneira resiliente", afirmou Myrta Kaulard.

Foto: RODGER BOSCH/AFP

Mas "pelo meio temos a Covid-19, que provoca mais dificuldades para as famílias", disse "e organizações terem recursos ou até para organizar coisas aparentemente tão simples como aulas - como agora são obrigadas a fazer mais turnos para que haja distanciamento -, perder uma sala numa tempestade tem maior impacto", acrescentou.

Segundo Myrta Kaulard, "isto é muito grave e não era assim no Idai". 

"Temos uma acumulação de vulnerabilidades muito, muito forte, com impacto nas pessoas, comunidades e instituições. E temos uma época ciclónica muito ativa", sublinhou.

 As Nações Unidas estão "muito presentes em Sofala, Manica e Zambézia, mas temos problemas, porque não temos muitos recursos. Os que recebemos com o Idai já terminaram", detalhou Myrta. 

Capacidade de responder

 "Não temos muita capacidade de responder, de maneira imediata. Isto também é uma vulnerabilidade muito grande", acrescentou.

Foto: Michael Jensen/AP Photo/picture alliance

 O ciclone Eloise passou, mas ainda deverá provocar chuvas durante o resto da semana no sul de Moçambique.

 "Vamos ver como vai evoluir a situação e ver se temos de fazer um apelo. Ainda temos de verificar, ver as chuvas dos próximos dias e manter diálogo com as instituições nacionais e parceiros internacionais", concluiu.

 Moçambique está em plena época chuvosa e ciclónica, que ocorre entre os meses de outubro e abril, com ventos oriundos do Índico e cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois dos maiores ciclones (Idai e Kenneth) que já se abateram sobre o país em poucas semanas.

Além disso, a violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

A província está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.

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