ONU condena ataques contra organizações humanitárias na RCA
Lusa
21 de abril de 2022
A ONU condenou os mais recentes ataques contra pessoal de organizações humanitárias na República Centro-Africana (RCA), país em conflito desde 2012. Em dois ataques recentes, sete trabalhadores ficaram feridos.
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"Todas as vezes que trabalhadores humanitários são atacados, as vidas de milhares de pessoas vulneráveis estão em risco", disse na quarta-feira (20.04) Denise Brown, chefe humanitária da ONU e coordenadora da RCA, em comunicado.
Segundo a ONU,
"Os ataques forçaram uma organização humanitária a suspender as suas clínicas móveis e atividades para melhorar o acesso à água potável para cerca de 11.000 pessoas em áreas remotas da província de Basse-Kotto", afirma o comunicado.
Segundo a ONU, entre 1 de janeiro e 15 de abril deste ano, foram registados 43 incidentes envolvendo organizações humanitárias na RCA e 11 trabalhadores humanitários ficaram feridos.
A RCA é um dos países mais difíceis para os trabalhadores de organizações humanitárias e no ano passado houve pelo menos um incidente por dia, metade dos quais foram roubos, assaltos e invasões.
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Principais vítimas são civis
No entanto, Denise Brown alertou que as principais vítimas do conflito na RCA são civis. "A ajuda humanitária é uma questão de vida ou de morte para milhões de pessoas. Os trabalhadores humanitários que vêm em seu socorro de modo neutro e imparcial devem ter acesso livre e seguro", acrescentou a responsável da ONU.
Estima-se que mais de três milhões de pessoas na RCA, 63% da população, precisarão de ajuda humanitária este ano, das quais 2,2 milhões com necessidades graves que, segundo as organizações humanitárias, podem não sobreviver sem a assistência necessária e proteção.
Em 15 de abril, a ONG Ação Contra a Fome (ACH) anunciou que tinha suspendido algumas das atividades que realizava no centro e sul da República Centro-Africana (RCA) após um ataque contra seus funcionários, que causou cinco feridos no dia 07 deste mês, em Basse-Kotto.
A RCA vive um cenário de violência sistémica desde o final de 2012, quando uma coligação de grupos rebeldes do nordeste, de maioria muçulmana - o Séléka - tomou Bangui, a capital, e derrubou o presidente François Bozizé, após dez anos de governo (2003-2013), o que deu início a uma sangrenta guerra civil.
Como resistência aos ataques do Séléka, foram formadas milícias cristãs anti-Balaka que, como o primeiro grupo, acabaram divididas em várias fações armadas.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.