Cinquenta valas comuns foram encontradas na região oeste da República Democrática do Congo, onde conflitos entre etnias rivais deixaram pelo menos 890 mortos desde dezembro, segundo grupos de direitos humanos da ONU.
Publicidade
Mais de 50 valas comuns foram identificadas no oeste da República Democrática do Congo (RDC) após uma onda de assassinatos na região, disse um grupo de direitos humanos da ONU.
"Há mais de 50 valas comuns, bem como sepulturas comuns e individuais que identificamos" em Yumbi, na província ocidental de Mai-Ndombe, disse Abdoul Aziz Thioye, diretor do Escritório Conjunto das Nações Unidas para os Direitos Humanos (UNJHRO) na RDC após uma missão conjunta de investigação com as autoridades locais.
"Isso sugere que o número (de mortes) é bastante alto, porque uma vala comum, dependendo do tamanho, pode conter cinco, dez corpos" ou até mesmo "cem corpos ou quatro vezes mais", disse Thioye na sexta-feira, citado pela agência AFP este domingo (27.01).
O chefe do exército no oeste da RDC, o general Fall Sikabwe, disse à AFP que a investigação já havia começado. "Eles mataram soldados e polícias, levando suas armas para o abate", disse o general, sem avançar mais detalhes sobre os assassinatos.
Conflitos
No início deste mês, a ONU alertou que pelo menos 890 pessoas foram mortas durante três dias de confrontos entre comunidades de etnias rivais naquela região.
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse em comunicado em 16 de janeiro que o escritório da ONU havia sido informado por "fontes confiáveis" de que o povo foi morto entre 16 e 18 de dezembro em quatro aldeias de Yumbi.
A violência pode estar enraizada numa longa rivalidade entre as etnias Banunu e Batende, desencadeada quando membros da tribo Banunu enterraram um chefe tradicional na terra Batende na noite de 13 de dezembro.
Cerca de 465 casas e edifícios foram queimados ou saqueados, incluindo duas escolas primárias, um centro de saúde, um mercado e o escritório da comissão eleitoral nacional, informou o órgão da ONU.
Deslocados
A agência de refugiados da ONU informou no início deste mês que 16 mil pessoas fugiram das aldeias para a vizinha República do Congo, também conhecida como Congo-Brazzaville.
A situação, segundo afirmou este domingo o diretor da UNJHRO, ainda é preocupante na região, já que a população que então fugiu ainda não conseguiu voltar.
"Há ainda um sério problema de confiança por parte da população, que se encontra atualmente refugiada no Congo e que espera que a situação se normalize antes de voltar", disse Thioye, que falou de "pequenos movimentos de ida e volta" para saber como estão as coisas.
Em 2009, os confrontos étnicos na região obrigaram 130 mil pessoas a procurar abrigo na República do Congo - que agora abriga 60 mil refugiados, principalmente da República Democrática do Congo, da República Centro-Africana e de Ruanda.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.