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ONU deve ajudar Bissau a sair da crise, defende analista

Iancuba Dansó (Bissau)
14 de julho de 2020

O Presidente Umaro Sissoco Embaló recusa-se a nomear um novo Governo, apesar dos apelos internacionais. O PAIGC continua a não reconhecer o Executivo de Nuno Nabiam e analista entende que a solução passa pela ONU.

Foto: Fotolia/ben_photos

Passam quase duas semanas desde que o Conselho de Segurança da ONU apelou à nomeação de um novo primeiro-ministro na Guiné-Bissau, admitindo adotar "medidas apropriadas em resposta a desenvolvimentos futuros". Há mais de dois meses, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) também pediu a nomeação de um novo Executivo "à luz dos resultados das eleições legislativas" do ano passado. No entanto, ambos os apelos foram ignorados até agora.

Analista político Rui Landim: Na Guiné-Bissau vigora a lei do mais forteFoto: DW/B. Darme

Na semana passada, o Presidente Umaro Sissoco Embaló (reconhecido pela CEDEAO) afirmou que não demitirá o Governo de Nuno Nabiam, contestado e considerado ilegal pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas.

Para o professor de política internacional Fernando Mandinga da Fonseca, a "falha" da comunidade internacional é a forma pouco clara como tem lidado com a situação política na Guiné-Bissau: "Eu não diria que a comunidade internacional fracassou, mas houve uma dubiedade. E essa dubiedade e contradição que a comunidade internacional teve ao longo das crises que a Guiné-Bissau vivencia é que nos coloca nessa posição, em que parece que não há uma saída."

"Quando [o Conselho de Segurança da ONU] disse que vai tomar uma medida apropriada, não está a ser explícito no que quer dizer", acusa.

PAIGC reclama formação de novo Governo até 22 maio

03:25

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Ajuda da ONU?

O PAIGC continua a não reconhecer o Governo de Nuno Nabiam. Esta terça-feira (14.07), recusou-se a participar na sessão parlamentar de interpelação dos membros do Executivo. O partido tem denunciado um ambiente de "grande coação" no país, com ameaças constantes aos seus membros.

Segundo o analista político Rui Landim, na Guiné-Bissau vigora a "lei do mais forte".

"Estamos em risco de perder a identidade nacional e de nos transformarmos num lugar 'sem lei', onde não existem regras, e num campo de tráfico de drogas, lavagem de capitais, e por fim, num quartel-general do crime organizado transnacional", antevê Landim.

Para o analista, a comunidade internacional tem que ter "mão dura": "Tem que ser através de uma missão de paz, muito mais robusta do que aquilo que foi há anos, com a presença de capacetes azuis [das Nações Unidas], com linhas bem claras, e preparando a reforma das Forças Armadas. É um grande cancro que temos e que tem que se resolver", analisa. 

"Depois, a reconstrução do Estado, que já não existe e que é preciso reconstruir e refundar, próximo de uma administração internacional durante algum tempo, como se fez em Timor-Leste", conclui Landim.

Supervisão da ONU nas eleições de Timor-Leste em 2000Foto: UN

Pede-se unidade nacional

O Presidente da República diz, no entanto, que, se não fosse a pandemia da Covid-19, a Guiné-Bissau já estaria no caminho do desenvolvimento. Em conferência de imprensa na semana passada, Umaro Sissoco Embaló afirmou que há iniciativas em curso para recuperar a "imagem e credibilidade" do país e que os guineenses devem superar as divisões políticas.

Face à tensão política na Guiné-Bissau, a presidente da Plataforma Política das Mulheres (PPM), Silvina Tavares, apela à moderação dos discursos: "Gostaríamos de pedir aos políticos e, sobretudo, aos que fazem política ativa, para que tenham uma contensão nos discursos que fazem. Que sejam discursos pedagógicos, objetivos e claros, que vão animar a população e não o contrário".

 

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