ONU encoraja Camarões a seguir com "medidas de confiança"
Lusa | kg | DW (Deutsche Welle)
6 de outubro de 2019
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou a libertação do opositor Maurice Kamto e de 102 membros do seu partido. Soltura faz parte de esforços de reconciliação conduzidos pelo Presidente Paul Biya.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, encorajou os Camarões "a continuar a adotar mais medidas de confiança e de reconciliação".
A declaração foi publicada num comunicado divulgado este sábado (05.10) após a libertação do principal opositor do Presidente camaronês, Paul Biya.
Maurice Kamto foi liberto junto com outros 102 membros do seu partido, o Movimento para o Renascimento dos Camarões (MRC), por determinação do Presidente. António Guterres indicou também "ter registado a libertação de 333 detidos durante a crise nas regiões do nordeste e do sudoeste" do país.
"O secretário-geral congratula-se também com a realização do diálogo nacional" e pede para que decorra uma "continuação efetiva", de acordo com um comunicado. A ONU reiterou que continua disponível para apoiar as autoridades e o povo camaronês.
Opositor
Maurice Kamto, candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2018, foi solto no sábado, na capital Yaoundé, ao fim de nove meses de detenção. O opositor foi detido no final de janeiro, com centenas de apoiantes, na sequência de manifestações pacíficas contra os resultados das presidenciais.
O rival de Paul Biya era acusado pelos crimes de insurreição, rebelião e hostilidade à pátria, acusações que podem resultar na pena de morte nos Camarões.
Segundo a agência de notícias espanhola EFE, Paul Biya tomou a decisão de levantar as acusações "como um esforço para encontrar formas de promover uma atmosfera de paz, fraternidade e harmonia" entre os camaroneses.
O diálogo nacional na capital Yaoundé pretendia resolver o conflito entre os grupos armados independentistas e as forças de segurança oficiais camaronesas nas regiões noroeste e sudoeste do país, ocupadas pela minoria anglófona dos Camarões, que representa 16% da população.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.