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ONU: Estado Islâmico regrediu mas ainda ameaça Moçambique

Lusa
18 de fevereiro de 2023

Relatório da ONU aponta para redução do número de militantes do grupo radical islâmico no norte de Moçambique graças à presença de tropas ruandesas e da SADC. Ainda assim, grupo ainda ameaça Cabo Delgado.

Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

A presença de tropas ruandesas e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) no norte de Moçambique reduziu o número de militantes do Estado Islâmico, mas não os extinguiu, refere a ONU num relatório.

Segundo o documento, publicado pela comissão da ONU encarregada de acompanhar as sanções impostas ao Estado Islâmico e à Al-Qaida e referente ao segundo semestre de 2022, a permanência do grupo fundamentalista islâmico ameaça os interesses económicos na província de Cabo Delgado.

Ainda assim, sublinha a comissão citando informações avançadas pelos Estados-membros da SADC, o destacamento de tropas regionais para Cabo Delgado, a partir do verão de 2021, "mudou significativamente a trajetória do conflito".

Neste momento, a afiliada local do Estado Islâmico, conhecida na região como Al-Shebab - embora não tenha nenhuma relação com o grupo do mesmo nome que atua na Somália e está ligado à Al-Qaida -, "tem cerca de 280 combatentes, contra os 2.500 iniciais", avança a ONU no relatório, destacando que, nos últimos seis meses, morreram entre 70 e 120 combatentes e comandantes em operações militares.

Apesar de o número de vítimas mortais dos ataques estar a diminuir, estes "têm graves consequências económicas e provocam deslocações em massa" da população, destaca o relatório. Segundo a ONU, entre junho e julho passados, foram registados mais de 161 mil deslocados apenas nos distritos de Ancuabe e Chiure, onde a violência se tem alastrado.

Os desafios para Moçambique no Conselho de Segurança da ONU

04:18

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Alastramento das operações

"Embora o Estado Islâmico tenha iniciado as suas operações maioritariamente a norte de Cabo Delgado, está agora a alargar a sua área de atuação a sul e tem também realizado ataques na província vizinha de Nampula", avança o documento.

Além disso, os militantes que ainda fazem parte do Estado Islâmico de Moçambique são agora "combatentes experientes, capazes de se mover e atacar estrategicamente, contando com redes locais independentes e bem estabelecidos para obter ajuda, informações e um fluxo de combatentes estrangeiros", alerta.

Nos últimos tempos, os militantes -- que vieram sobretudo do Quénia e da Tanzânia, mas também da República Democrática do Congo, da Somália e do Uganda - demonstraram "maior coordenação estratégica e tática", conseguindo subjugar as forças regionais e realizar ataques contra a população civil e outros alvos, bem como contra empresas estratégicas de extração de minérios.

Os militantes costumam atacar aldeias para se abastecerem, mas, em muitos casos, "deixam para trás pessoas mortas e decapitadas, e roubam arsenais policiais para se equiparem com armas", adianta a comissão das Nações Unidas. 

Militares ruandeses patrulham área do projeto de gás natural da Total em AfungiFoto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Total quer segurança para regressar

A relativa melhoria da situação no terreno tornou possível, há duas semanas, uma visita a Cabo Delgado do presidente da Total, Patrick Pouyanné, que se reuniu com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e visitou a península de Afungi, onde a empresa francesa de energia pretende realizar um grande projeto de exploração de gás natural liquefeito (GNL).

A empresa francesa, que tinha suspendido o projeto e retirado todos os seus funcionários da região em abril de 2021 após um ataque de rebeldes, encarregou agora um especialista independente de preparar um relatório sobre "a situação humanitária" na província que deve ser apresentado antes do final de fevereiro e com base no qual será decidido "se existem condições para retomar as atividades".

Pouyanné reconheceu que, "desde 2021, a situação em Cabo Delgado melhorou significativamente graças, em particular, ao apoio prestado pelos países africanos, que se comprometeram a restabelecer a paz e a segurança". O responsável defendeu, no entanto, que, para a Total poder retomar o projeto, é preciso que "seja restabelecida a segurança na região, que sejam retomados os serviços públicos e que a população consiga regressar à vida normal".

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