O enviado especial das Nações Unidas reuniu-se com o Presidente Teodoro Obiang e assegurou que a comunidade internacional apoiará os "esforços de estabilização" no país. Oposição ficou de fora do encontro.
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A Organização das Nações Unidas (ONU) assegurou ao Governo da Guiné Equatorial que apoiará os seus "esforços de estabilização", após a alegada tentativa de golpe contra o Presidente Teodoro Obiang, no mês passado.
De visita ao país, o enviado especial da ONU, François Lonseny Fall, disse que tanto a sua organização quanto a União Africana condenam "a tomada inconstitucional de poder" e o "uso da força contra os Estados".
Lonseny Fall encontrou-se com Teodoro Obiang para avaliar a situação e reunir informações sobre a alegada tentativa de golpe, que o Governo diz ter sido financiada por mercenários estrangeiros recrutados pela oposição.
Segundo fontes militares equato-guineenses, a 27 de dezembro, cerca de 40 combatentes do Chade, Sudão e República Centro-Africana, fortemente armados, cruzaram a fronteira dos Camarões com a Guiné Equatorial com a intenção de atacar o Presidente Teodoro Obiang. A polícia camaronesa frustrou, no entanto, a manobra.
O Governo de Obiang também informou que as forças de segurança mataram um "mercenário" e dispersaram a tiros outros que estavam numa floresta na fronteira com os Camarões.
ONU garante apoio à Guiné Equatorial após ameaça de "golpe"
Detenções e tortura
A prisão dos combatentes antecedeu uma série de detenções de pessoas consideradas dissidentes, em todo o país. Há relatos de que mais de 65 cidadãos chadianos estariam sob custódia policial. Além disso, o Governo bloqueou o acesso às redes sociais, incluindo o Facebook e o WhatsApp.
O principal partido da oposição na Guiné Equatorial, os Cidadãos para a Inovação (CI), anunciou que dezenas dos seus apoiantes foram presos e torturados nas últimas semanas, após a suposta tentativa de tomada de poder no país. De acordo com o CI, as forças de segurança nacional "cercaram" a sede do partido por 10 dias, abandonando apenas os seus postos na segunda-feira de manhã (08.01), pouco antes de François Lonseny Fall se encontrar com Obiang em Malabo.
Na semana passada, em entrevista à DW, o coordenador do CI, Mariano Ona, negou que o seu partido tenha tentado um golpe de Estado contra o Presidente equato-guineense, esperando uma intervenção internacional para promover o diálogo no país. Mas o enviado especial da ONU, Lonseny Fall, não se reuniu com a oposição.
Especulações
Teodoro Obiang, o Presidente africano há mais tempo no poder, enfrentou uma série de tentativas de golpe durante quase quatro décadas no cargo.
Em 2004, "mercenários" sul-africanos conspiraram para substituir Teodoro Obiang Nguema, no poder desde 1979, por uma figura mais favorável às empresas. O grupo foi, no entanto, barrado no Zimbabué. O chamado "golpe de Wonga" despertou, na altura, a atenção internacional devido ao apoio de um proeminente empresário britânico, Mark Thatcher, filho da ex-primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margaret Thatcher.
Desta vez, especula-se nas redes sociais que a ameaça de golpe poderá ter sido encenada pelo próprio Governo. Outros acreditam numa possível conspiração regional contra o regime de Obiang. Mas o especialista em África do instituto britânico Chatham House, Alex Vines, acha pouco provável.
"Os Camarões, o Chade e o Gabão têm problemas de governação e outros problemas que não são tão diferentes dos que vemos na Guiné Equatorial. Não seria no interesse desses Estados apoiar um golpe para a saída de Obiang do poder", disse Vines à DW, acrescentando que o interesse em realizar um golpe poderia estar "mais relacionado com indivíduos residentes nesses países".
Segundo Vines, há outros motivos para suspeitar de uma tentativa de golpe. "Antes dessa suposta ameaça, houve uma repressão do espaço democrático para debates e discussões na Guiné Equatorial."
Os problemas económicos do país, agravados pelos baixos preços do petróleo no mercado internacional, também aumentaram a tensão. "Ou seja, não fiquei completamente admirado com os relatos de um suposto golpe no final de 2017", afirmou Vines.
Por outro lado, o uso da tentativa de golpe pelo Governo equato-guineense também não supreendeu o analista: "Este é um padrão que vemos na Guiné Equatorial há muitas décadas. Os verdadeiros golpes de Estado e os alegados golpes são usados como uma forma de reprimir a oposição."
O Presidente Obiang escolheu o seu filho, Teodorin Nguema Obiang, como seu possível sucessor. Em 2016, Teodorin Obiang foi nomeado vice-Presidente do país. A tentativa de golpe poderia ainda visar travar a sucessão.
Obiang foi reeleito, em 2016, para um quinto mandato de sete anos, com mais de 90% dos votos. Críticos acusam-no de repressão brutal de adversários, fraude eleitoral e corrupção.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.