Violações quase diárias na RCA apesar de acordo de paz
AFP | mjp
4 de agosto de 2019
Segundo as Nações Unidas, seis meses depois, acordo entre Governo e grupos rebeldes da República Centro-Africana continua frágil: grupos armados não cedem controlo e violam direitos humanos quase todos os dias.
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O acordo de paz entre o Governo da República Centro-Africana e os grupos rebeldes continua frágil, quase seis meses depois de ser assinado, dizem especialistas da ONU num relatório publicado no sábado (03.08).
Membros dos grupos armados que assinaram o documento violaram a lei humanitária internacional praticamente todos os dias desde então, dizem os especialistas.
Relatório sublinha também a quase ausência de sinais de que os combatentes rebeldes tenham alterado os seus comportamentos – ou que os seus líderes tenham identificado e punido quem violou o acordo de paz.
A MINUSCA, a missão de paz da ONU no país, registou entre 10 a 70 violações do acordo de paz todas as semanas.
Manter a influência
"Desde a assinatura do acordo [a 6 de fevereiro], os principais grupos armados, em particular, os ex-Séléka [movimento rebelde muçulmano] não só mantiveram os seus postos de controlo, como reforçaram o mesmo em certos territórios e adquiriram armas", diz o relatório.
Fugir da violência na República Centro-Africana
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Os especialistas da ONU mantêm também o ceticismo quanto às unidades especiais mistas compostas por forças do Governo e combatentes rebeldes que deverão ser criadas, segundo os termos do acordo assinado em Cartum, no Sudão.
"Os líderes dos ex-Séléka vêm no destacamento das unidades especiais uma ocasião para oficializar o posicionamento dos seus combatentes ao longo de rotas estratégicas e em localidades nas suas zonas de influência, o que explica porque é que insistem em liderar estas unidades", indicam os autores do relatório.
Ainda assim, os especialistas da ONU notam que nenhum dos cinco acordos assinados desde que a crise começou, no final de 2012, foi capaz de mobilizar tantos esforços por parte das autoridades nacionais e internacionais.
A República Centro-Africana, um país de 4,5 milhões de habitantes entre as nações mais pobres do mundo, mergulhou na violência e no caos em 2013, após a queda do Presidente François Bozizé pela mão da rebelião Séléka.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.