ONU renova mandato na República Democrática do Congo
mjp | Anne Le Touzé | Jacques Vagheni | AFP
28 de março de 2018
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade a renovação do mandato dos "capacetes azuis" na RDC, que também terão de ajudar na preparação das eleições presidenciais de 23 de dezembro.
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Proposto pela França, o texto prolonga o mandato da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO), a maior força da ONU no mundo, até março de 2019, e sublinha a necessidade de proteger os civis até à realização da votação, bem como a de preparar a partida do Presidente Joseph Kabila, no poder desde 2001.
"A primeira condição é a confiança no processo técnico de organização das eleições e o respeito pelo calendário eleitoral", explica o embaixador francês nas Nações Unidas, François Delattre. "O Conselho de Segurança pede aos responsáveis congoleses, nomeadamente à Comissão Eleitoral, que tudo façam para garantir a transparência. Isto implica uma equipa de especialistas eleitorais internacionais, recomendada pela ONU", acrescenta.
ONU renova mandato na República Democrática do Congo
A nova resolução surge num contexto de tensão entre a ONU e o Presidente Joseph Kabila, tendo como pano de fundo a crise política, humanitária e de segurança. "A MONUSCO está na RDC a pedido expresso do Governo congolês. Durante 20 anos, o Conselho de Segurança renovou o seu mandato, sem que a missão fosse executada de acordo com as necessidades dos congoleses, ao ponto de muitos países amigos questionarem o que é que a MONUSCO faz na RDC há tantos anos", sublinhou Ignace Gata Mavinga, embaixador da RDC nas Nações Unidas, que não escondeu a sua insatisfação durante a intervenção no Conselho de Segurança.
A RDC critica sobretudo as prioridades definidas para o novo mandato, como o apoio à preparação das eleições. "No que diz respeito à escolha das prioridades, poderiam ter sido organizadas de forma a combater grupos armados e a proteger os civis. No leste do país, os civis sofrem abusos por parte dos grupos armados. A resolução poderia indicar um calendário para a erradicação destes grupos", afirmou Ignace Gata Mavinga.
População dividida
Em Goma, no leste da RDC, as opiniões da população dividem-se. "O novo mandato da MONUSCO deveria dedicar-se às eleições, porque é a maior necessidade que temos agora", defende um morador ouvido pela DW África.
"Sou contra a renovação do mandato. Eles estão entre os principais responsáveis pela violência sexual na RDC", diz outra habitante de Goma. "Devem mudar o seu mandato para uma missão de implementação da paz. Se é só para observar, que voltem para casa", afirma um residente.
A RDC nunca conheceu uma transição política pacífica desde que se tornou independente da Bélgica, em 1960. Segundo a resolução aprovada esta terça-feira (27.03), os mais de 16 mil militares da MONUSCO ficam encarregados de apoiar a transição do poder, esperada, segundo o calendário oficial, para 12 de janeiro de 2019.
A anterior resolução, de março de 2017, previa já um envolvimento da ONU nas presidenciais, então previstas para dezembro desse ano. A votação que foi adiada por um ano, oficialmente, segundo as autoridades de Kinshasa, por causa da violência na província do Kasai, no centro do país.
Joseph Kabila vai manter-se no poder pelo menos até janeiro de 2019, mais de dois anos depois de ter terminado o seu segundo mandato - o último permitido pela Constituição - em dezembro de 2016.
O dia-a-dia no leste do Congo
Há cinco anos, os rebeldes do M23 invadiram Goma, no leste da República Democrática do Congo. Na região multiplicavam-se os confrontos entre o grupo e o exército congolês e milícias de autodefesa. Hoje é muito diferente.
Foto: DW/Flávio Forner
Amanhece em Goma
Amanhece cedo em Goma, a capital de Kivu do Norte, no leste da RD Congo. As ruas enchem-se de comerciantes e do vaivém das motos. Esta é uma área de comércio junto à fronteira com o Ruanda. Muitos congoleses e ruandeses atravessam diariamente a fronteira para compras e trabalho. Goma vive um relativo clima de paz desde que o grupo rebelde de origem tutsi M23 foi desmantelado em 2013.
Foto: DW/Flávio Forner
Peixes do Lago Kivu
Ao nascer do sol, começa a azáfama em Goma. Nesta foto, mulheres colocam ao sol peixes frescos do Lago Kivu para preparar a refeição do dia num abrigo que acolhe crianças e adolescentes que estiveram envolvidos em grupos armados no leste do Congo. O abrigo fica num subúrbio de Goma, numa área populosa chamada Keshero.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho de braços
O sol está a pique, mas o trabalho não pára. Junto à vila de Sake, trabalhadores retiram areia de um canteiro em redor da base militar da Missão de Paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo, a MONUSCO. A vila de Sake, com uma população empobrecida, fica a uma hora (25km) a leste de Goma. Muitos dos seus habitantes dependem do comércio na cidade.
Foto: DW/Flávio Forner
Estrada de volta à vida
Estrada de terra que liga Goma a Kiwanja. Camiões cheios de trabalhadores e militares percorrem diariamente os 70km que separam as duas cidades. O trajeto demora em média quatro horas. Há menos de cinco anos, a estrada que corta a zona sul do Parque Nacional Virunga era extremamente perigosa devido aos ataques das milícias Mai-Mai e do grupo rebelde M23.
Foto: DW/Flávio Forner
Estradas esburacadas
Área rural junto à vila de Sake. As estradas que ligam as vilas e as cidades em Kivu do Norte estão esburacadas. Só veículos todo-o-terreno são capazes de passar por aqui, mesmo para trajetos curtos. Nesta foto, uma carrinha transporta passageiros e, no tejadilho, um homem aconchega-se entre um colchão e maços de folhas de mandioca que são vendidas em mercados em Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Fonte de sustento
Mulheres e crianças vendem folhas de mandioca na beira da estrada. A cidade de Kiwanja é circundada por áreas de cultivo de legumes. Muitas famílias dependem da venda de alimentos para garantir o seu sustento.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho social
Militares do Batalhão de Operações Especiais da Guatemala, que integram a Missão de Paz da ONU no Congo, ajudam igrejas e centros comunitários na vila de Sake, a 25km de Goma. As crianças da vila recebem material escolar e brinquedos.
Foto: DW/Flávio Forner
Desnutrição infantil e materna
Bebés que sofrem de desnutrição são internados no Hospital Muungano La Résurrection, nos arredores de Goma. O hospital depende de doações e tem falta de medicamentos e suplementos alimentares. Muitas mães também estão desnutridas e chegam a ficar internadas dez dias.
Foto: DW/Flávio Forner
No hospital
Nos corredores do Hospital Panzi, em Bukavu, capital de Kivu do Sul. Fundado pelo conhecido ginecologista congolês Denis Mukwege, o hospital fica na zona de Ibanda e tornou-se uma referência no tratamento de vítimas de violência sexual e reparação de fístulas obstétricas. Desde que foi fundado em 1999, a equipa médica já tratou 85.000 pacientes, incluindo 50.000 vítimas de violência sexual.
Foto: DW/Flávio Forner
Festa no hospital
Este adolescente congolês vestiu-se a rigor para participar nas atividades culturais do Hospital Heal Africa, no centro de Goma. Esta foto foi tirada no Dia Internacional da Criança Africana (16 de junho). O hospital promoveu neste dia uma série de apresentações de dança e teatro.
Foto: DW/Flávio Forner
Publicidade "VIP"
Nas ruas de Bukavu, Kivu do Sul, destaca-se a publicidade de um cabeleireiro para homens. O 'Salon VIP' tem nas paredes uma pintura com o rosto de Patrice Lumumba (à esq.) e Nelson Mandela (à dir.). Mandela simbolizou a luta anti-apartheid na África do Sul; Lumumba foi o pai da independência do Congo Belga e primeiro-ministro do recém país independente, tendo sido assassinado em 1961.
Foto: DW/Flávio Forner
De volta da escola
De uniforme, Pierre de 7 anos exibe o seu manual escolar e uma garrafa de plástico que serve como estojo para guardar os lápis. Tinha acabado de regressar da escola e seguia a pé para a sua casa na pequena vila de Mumosho, no interior de Kivu do Sul. O ensino público no Congo não é gratuito. Para manter uma criança na escola, as famílias têm de conseguir pagar cerca de 300 dólares por ano.
Foto: DW/Flávio Forner
Curso para mulheres no interior
Mulheres participam em cursos de empreendedorismo na vila de Mumosho, a 50 minutos de Bukavu. Muitas sofreram violência doméstica e abriram agora o seu próprio negócio, ganhando dinheiro com atividades artesanais e agricultura. Os cursos são oferecidos pela organização Women for Women International, que também realiza sessões para homens da comunidade com debates sobre o respeito pelas mulheres.
Foto: DW/Flávio Forner
Futebol em Goma
Os congoleses amam futebol. Ao final da tarde, depois do trabalho, muitos reúnem-se em campos de terra batida em bairros próximos do centro de Goma para jogar partidas de futebol.
Foto: DW/Flávio Forner
Missão de Paz
Capacetes azuis da MONUSCO são responsáveis por patrulhar as ruas de Goma. Esta foto foi tirada no alto do Monte Goma, no centro da cidade. O Uruguai tem uma base militar no topo da colina, um ponto estratégico. Ao fundo fica o vulcão Nyiragongo, 20 km a norte da cidade - o vulcão mais ativo de África. A sua última erupção foi em 2002 e arrasou Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Uma geração de crianças de rua
Centenas de crianças de rua deambulam pelas ruas de Goma. Segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há mais de 2.000 crianças sem tecto, muitas delas perdidas ou abandonadas pelas famílias, que vivem de esmolas e roubos. De dia, vagueiam pelas ruas do centro e, de noite, abrigam-se em terrenos baldios ou debaixo dos buracos de esgoto das principais rotundas.
Foto: DW/Flávio Forner
Clínica móvel para crianças de rua
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm uma clínica móvel, o 'Bobo Mobile', para atender os meninos órfãos ou que foram expulsos de casa. "Goma é um hub humanitário, mas surpreendeu-me que não havia nenhum projeto dedicado às crianças de rua", disse Carla Melki, coordenadora deste projeto dos Médicos Sem Fronteiras na RDC (República Democrática do Congo).
Foto: DW/Flávio Forner
Inspiração para os mais novos
De farda e boina cobrindo os dreadlocks, o artista congolês Wanny S-king conversa com crianças de rua em Goma. O rapper costuma dedicar-lhes canções. Conhecido entre os mais novos, Wanny é dos poucos que, sem medo, lida diariamente com eles e faz concertos, divulgando uma mensagem de paz. Inspirados pelo rapper, muitos começaram a compor letras e sonham ter a sua própria banda.