ONU sob pressão após escândalo com capacetes azuis
14 de agosto de 2015 A República Centro-Africana (RCA) foi palco de crimes praticados por soldados ditos "da paz". Os capacetes azuis terão cometido assassinatos e violações, inclusive de menores. A Organização das Nações Unidas (ONU) já reagiu, demitindo o chefe da MINUSCA, a missão das Nações Unidas na RCA. Trata-se do diplomata senegalês Babacar Gaye, que foi obrigado a assumir a responsabilidade pelo comportamento de alguns dos 10 mil soldados, polícias e funcionários da ONU colocados no país.
"Babacar Gaye pediu a sua demissão a meu pedido", anunciou Ban Ki-moon, na quarta-feira (12.08), em conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.
O líder da missão de paz demitiu-se depois de a Amnistia Internacional ter alegado que capacetes azuis da ONU mataram, a tiro, um homem e o seu filho de 16 anos, e violaram uma menina de 12 anos na República Centro-Africana. A ONU já abriu uma investigação aos crimes alegadamente cometidos durante uma operação na capital, Bangui, no início de agosto.
Em entrevista à DW África, Thierry Vircoulon, do International Crisis Group, afirma que "esta saída de um dirigente da ONU, por si só, não é nenhuma solução duradoura para os problemas da missão”.
“Quando falo de problemas não me refiro apenas a violações. Há muitos outros crimes e muitas outras coisas que correram mal com a ONU na República Centro-Africana. Este escândalo contribuiu - e muito - para a deterioração da imagem das Nações Unidas, uma organização que devia garantir e proteger a vida humana em regiões em crise”, diz Vircoulon.
Selecção mais criteriosa dos soldados
Há pelo menos 57 casos em que representantes da ONU são acusados de terem agido de forma ilegal, desde que a MINUSCA iniciou o seu trabalho, em 2014. Em 11 desses 57 casos, as acusações estão relacionadas com com violações de menores.
Thierry Vircoulon recorda que houve vários casos de violência gratuita, com várias mortes civis, que poderiam ter sido evitados. Vircoulon afirma que os soldados que são enviados para missões como a MINUSCA deveriam ser melhor selecionados. Não existem critérios de aptidão. Os soldados vêm de todo o mundo, mas, no caso da MINUSCA, sobretudo de países africanos como o Burundi, o Benim, os Camarões, o Ruanda ou o Congo.
"Ninguém controla se os soldados são aptos e respeitam as regras da ONU. Até há bem pouco tempo ninguém investigava casos de violações praticados por estes soldados. Como é sabido até soldados franceses, que não fazem parte da missão, praticaram esse tipo de crime”, diz o analista.
Missões fora do controlo?
O chefe da MINUSCA, Babacar Gaye, agora demitido, tinha já anunciado a expulsão de alguns dos soldados acusados de crimes, obrigando-os a regressar aos seus países de origem. No entanto, nos seus países de origem, estes homens não foram processados e muito menos castigados.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, prometeu tomar medidas susceptíveis de evitar que este tipo de situação se repita. Na quinta-feira (13.08), Ban Ki-moon esteve reunido em videoconferência com os enviados especiais de 16 missões da ONU e afirmou que eles eram "diretamente responsáveis pela manutenção da boa conduta e disciplina nas suas missões"
O secretário-geral salientou que uma política de "tolerância zero" vai ser aplicada à má-conduta de capacetes azuis depois de denúncias de abusos realizados na República Centro-Africana.
Entretanto, o secretário-geral das Nações Unidas nomeou Parfait Onanga-Anyanga para chefiar a MINUSCA. O diplomata do Gabão foi recentemente enviado especial da ONU para o Burundi.