As tropas das Nações Unidas deixam a Libéria no próximo dia 30 de março, depois de nos últimos 15 anos terem ajudado a restaurar a paz e a estabilidade. Liberianos reconhecem o impacto missão de paz da ONU no país.
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A Libéria continua o seu caminho rumo à mudança. No final de 2017, elegeu George Weah, ícone do mundo do futebol, para a presidência do país. Agora, e depois de quase 15 anos, chega ao fim a Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL).
Quando os "capacetes azuis" chegaram ao país, o país vivia dias sombrios e a Libéria era vista como a região mais preocupante do continente africano. Mas passada uma década, a missão da Organização das Nações Unidas (ONU) ajudou a restaurar a paz e a estabilidade.
E os liberianos reconhecem o impacto das Nações Unidas no país. "Quero agradecer à ONU porque esteve aqui durante a nossa crise. Tivemos umas eleições bem sucedidas e temos agora um novo governo", destaca Mohammad Sambola.
ONU termina missão de paz na Libéria
Também o cidadão Yassa Brown concorda que a ONU teve um grande impacto na Libéria. "Trouxe aos liberianos a oportunidade de voltar à escola e a esperança num futuro melhor", afirma.
"Sei que as Nações Unidas não podem continuar aqui, mas continuaremos a resolver os nossos problemas", diz ainda a liberiana Rachel Parker em entrevista à DW África.
Segurança nas mãos do Governo
O fim da missão das Nações Unidas deixa agora a segurança da nação nas mãos do governo. A participar numa conferência no país, a secretária-adjunta da ONU, Amina Mohammed, pediu esta quinta-feira (22.02) a implementação das recomendações da Comissão da Verdade e Reconciliação, criada em 2009.
Amina Mohammed advertiu ainda que a paz "permanecerá frágil" na Libéria, enquanto as pessoas se sentirem excluídas da vida económica e política do país e enquanto a corrupção enfraquecer a confiança nas instituições".
O analista Samuel Korga frisa a importância da intervenção da ONU na Libéria, lembrando que, nos últimos 15 anos, o país levou a cabo três eleições bem sucedidas. Mas alerta também para a necessidade de se preencher a lacuna que a saída da UNMIL deixa no país.
"Um dos problemas que poderá surgir é uma crise financeira, porque a maioria dos funcionários da missão da ONU comprava os seus produtos aqui, alugava as suas casas a habitantes da Libéria, e por isso a sua partida pode ter alguma influência na economia", explica.
Entre 2003 e 2018, integraram a missão da ONU na Libéria 126 mil militares, 16 mil polícias e 23 mil funcionários. Apesar do contributo para a restauração da paz no país, a missão fica, no entanto, manchada pela denúncia de casos de violência sexual.
George Weah: De estrela do futebol a Presidente da Libéria
A sua vida dava um filme. O filho de um modesto mecânico tornou-se um futebolista de elite na Europa. Agora foi eleito Presidente da Libéria. A DW África revê a vida de Weah em imagens.
Foto: picture alliance/dpa/AP Photo/A. Dulleh
Uma nova estrela do futebol
Fora da Libéria, Georges Weah é muito mais conhecido como futebolista. Foi mesmo considerado um dos melhores pontas-de-lança da sua geração. O futebol fê-lo escapar a uma vida difícil. Filho de um mecânico, cresceu num dos bairros de lata da capital liberiana. A família mergulhou na pobreza após a prematura morte do seu pai. Felizmente, Weah foi descoberto por um clube liberiano de futebol.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
Dos Camarões a França
George Weah foi o melhor marcador na Libéria em 1987, jogando no Invencible Eleven, a melhor equipa do país, à altura. Quando o seu clube defrontou os camaronenses do Tonnerre Yaoundé, os dirigentes, notando o seu talento, ofereceram-lhe um contrato. Mas a vida nos Camarões não foi fácil. Weah vivia com outros jogadores e teve dificuldades em adaptar-se ao francês, a língua nacional do país.
Foto: DW/M. Edwin
Em grande na Europa
Depois de seis meses nos Camarões, Weah transferiu-se para os franceses do Mónaco em 1988. Era o começo da sua carreira de sucesso na Europa que o levou aos principais clubes e ligas continentais. Foi o melhor futebolista do mundo em 1985 e foi três vezes eleito futebolista africano do ano. O antigo treinador do Milan, Arrigo Sacchi, disse sobre ele que "em cada momento Weah reinventa o futebol".
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Fumagalli
O sonho falhado de um Campeonato do Mundo
Mas enquanto Georges Weah tinha sucesso na Europa, o seu sonho de jogar uma fase final de um "Mundial" ficou por concretizar. Em 2002, a Libéria qualificou-se para a CAN no Mali. Weah era o diretor técnico e jogador, mas renunciou após a eliminação na fase de grupos.
Foto: picture-alliance/empics
Combatendo a pobreza e as violações dos direitos humanos
Weah usou o seu sucesso para ajudar os menos afortunados. Em 1997, o fundo das Nações Unidas para as crianças (UNICEF), nomeou-o representante especial para o desporto. Weah doou avultadas quantias para caridade, o que o tornou ainda mais popular no seu país, devastado pela guerra, e com o qual sempre manteve contacto próximo ao longo dos anos.
Foto: AP
Vida familiar
George Weah é casado com Clar, uma cidadã norte-americana com raízes jamaicanas. O casal tem três filhos. O seu filho mais velho seguiu as pisadas do pai como futebolista. Weah deu o nome da sua mulher a uma televisão liberiana que adquiriu: "Ela sempre me apoiou e motivou a fazer algo pelo meu país", referiu Weah à revista alemã "Stern" em 2008.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
2005: candidatura surpresa a Presidente
George Weah teve de lidar com algumas contrariedades após o final da sua carreira. Tornou-se político e candidatou-se às primeiras eleições presidenciais democráticas liberianas depois do final da guerra civil, em 2005. Ficou em segundo lugar, perdendo para o antigo vice-presidente do Banco Mundial Ellen Johnson-Sirleaf, que venceu com 59,4 por cento dos votos. Weah conseguiu 40,6 por cento.
Foto: Getty Images/C. Hondros
O trabalho no Parlamento
Depois de uma candidatura sem sucesso para se tornar vice-presidente em 2011, Weah ganhou um lugar no Senado, a câmara alta do Parlamento, em 2014. Bateu o seu maior rival, o filho da Presidente Johnson-Sirleaf, por larga margem, conquistando 78 por cento dos votos. Mas, de acordo com os "media" liberianos, Weah raramente era visto no Parlamento, não dando o seu apoio a nenhuma legislação.
Foto: AFP/Getty Images/Z. Dosso
2017: Segunda tentativa
George Weah tinha já provado ser um lutador na política. Em 2017 ele concorreu de novo à presidência. Enquanto os seus apoiantes continuavam a seguir o líder, a decisão de Weah de escolher Jewel Taylor para o acompanhar chocou quer compatriotas quer estrangeiros. Ela é a ex-mulher de Charles Taylor, antigo Presidente liberiano, condenado em 2012 por crimes de guerra.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
O novo Presidente da Libéria
George Weah venceu a primeira volta das eleições em outubro de 2017. A necessária segunda volta foi adiada pelo Supremo Tribunal liberiano após queixas de fraude interpostas por outra candidatura. Weah venceu a segunda volta, a 26 de dezembro de 2017, com 61,5 por cento dos votos, contra 38,5 do antigo vice-presidente Joseph Bokai, célere a reconhecer a derrota e a congratular Georges Weah.