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Cultura

ONU vai homenagear Cesária Évora na Alemanha

Richard Furst
5 de fevereiro de 2018

Trabalho da "diva dos pés descalços" será destaque em março durante o festival cultural "Over the Border". Evento vai reunir músicos para debate sobre fronteiras e desertificação no planeta.

Kapverden Sängerin Cesaria Evora
Foto: Over the Border Festival

Das inúmeras homenagens internacionais que Cesária Évora já recebeu pelo mundo, a próxima reserva surpresas para o público e até mesmo para o legado da música da "diva de pés descalços"

Cesária Évora esteve na cidade alemã de Bona, visitou o "campus" da Organização das Nações Unidas (ONU) que agora irá homenageá-la na edição 2018 do Festival "Over The Border" (Além da Fronteira). O evento é realizado em apoio com a ONU.

Manuel Banha, um dos organizadores do festival, reforça o porquê da escolha da cabo-verdiana que vai além da questão das fronteiras em termos culturais. Para ele, Cesária é a maior a artista em termos globais de ir "Over the Border".

"É algo interessante porque a fronteira dos países não tem nada a ver com as fronteiras das culturas. Esta foi a primeira parte que nos interessou sobre a artista, enquanto organizadores desta festa. A Cesária representa isso bem, ela sempre mostrou o que é passar estas fronteiras", explicou o produtor cultural, lembrando as origens crioulas de Cesária e do seu país, Cabo Verde.

Artistas da "Cesária Evora Orchestra" vão homenagear a "diva de pés descalços"Foto: Over the Border Festival

"Eu conheci Cesária pessoalmente, ela é uma estrela do mundo e esteve aqui nas Nações Unidas para mostrar a sua música", destacou Hans-Joachim Over, da Secretaria de Cultura de Bona, sem esconder a admiração pelo trabalho da cabo-verdiana.

"O mais curioso entre Cesária e Bona, num todo, é porque a cidade é bem agitada quando nos referimos à música: temos clássico, jazz, porém, com o Over the Border, a gente mostra como a cidade é muito internacional", completa Hans-Joachim Over, que também faz parte da comissão organizadora do festival.

Os organizadores declararam que para ser homenageado é preciso um motivo forte. E no caso de Cesária foi devido à abertura e expansão da sua carreira. "A única coisa que pode comparar-se um pouco com Cesária seria o grande sucesso da música cubana com o filme sobre o Buena Vista Social Club. Porém, mesmo assim, Cesária não precisou de algo externo, porque ela conquistou pela sua música mágica, pelo seu timbre, pela sua imagem", diz o empresário Manuel Banha.

Homenagem e festa

Para a comemoração, vão unir-se à Cesária Évora Orchestra outros cinco artistas: Nancy Vieira, Teofilo Chantre, Lucibela Freitas, Elina Almeida e Dino D'Santiago. 

ONU vai homenagear Cesária Évora na Alemanha

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A noite de 16 de março de 2018 vai ser inteiramente dedicada à Cesária e promete ser bem especial porque todos os artistas participantes têm uma dedicação muito especial a "mudjer di pé na tchon" (mulher de pés no chão). 

Os envolvidos na homenagem passaram muito tempo com ela e fizeram muita música com Cesária. Mais de 20% das canções foram compostas por Teófilo, por exemplo.

Os integrantes da Orchestra são praticamente músicos que estiveram anos e anos com Cesária e as cantoras têm uma certa dedicação porque foi Cesária que lhes abriu as portas. "Isso porque a música cabo-verdiana depois da Cesária é que começou a conquistar mais o mercado do mundo", sublinha Manuel Banha.

Alerta às fronteiras e à desertificação

de se tratar de um evento realizado pela ONU em parceria com empresas multinacionais em Bona, os protocolos oficiais serão dispensados e a homenagem será feita diretamente através da música, alegria e festa. O Festival Além da Fronteira tem o apoio da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) e quer alertar também que a seca está não apenas nos desertos, mas são desastres naturais. E, ao contrário de outros desastres, as secas instalam-se lentamente.

A música foi escolhida como elemento para chamar a atenção para este fenómeno. Por isso, as tradições vão encontrar-se com nomes de destaque neste momento, como o grupo Gato Preto, de Moçambique.

"O Gato Preto é bem interessante porque é um projeto moçambicano e alemão. É sempre um grande ramo de diferentes culturas e o foco em África é porque o continente é, por si só, um grande foco no mundo neste momento", explicou Manuel Banha durante uma conferéncia de imprensa na ONU, em Bona.

Gato Preto, de Moçambique, vai ser destaque da noite "New Afro" do festival Over The Border, em BonaFoto: Over the Border Festival

Música sem limites

Esta terceira edição do Over the Border terá lugar de 9 a 25 de março e promete tomar conta de diversos espaços de Bona, cidade natal de Beethoven. Provando a diversidade das artes, até a casa onde nasceu o músico vai ter espaço para a música indiana. Grupos reconhecidos por fazer parte dos carnavais na Alemanha também integram a programação.

"Bona é uma cidade internacional, onde pessoas de diferentes lugares e culturas vivem juntos. A música é uma forma de colocar todos juntos e provar que não temos limites para o que é bom", sublinha Dirk Wende, assessor de assuntos culturais da Telekom, que também organiza o Além da Fronteira.

A homenagem a Cesária Évora será no dia 16 de março, no Telekom Forum, em Bona. A cabo-verdiana nasceu no Mindelo, a 27 de agosto de 1941. Filha da cozinheira Joana e de "Nhô" Justino da Cruz, tocador de viola, violão e cavaquinho. A música corria-lhe no sangue. As suas primeiras apresentações foram no Mindelo. 

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