O novo ministro da Economia do país anunciou um plano de combate à corrupção. Qualquer pessoa pode denunciar os crimes por telefone. O alvo da operação são as alfândegas.
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A República do Chade, localizada no centro-norte de África, está mergulhada numa profunda crise económica. Os rendimentos com a produção de petróleo despencaram, o orçamento do Estado foi radicalmente reduzido. O país precisa urgentemente de ajuda externa. A União Europeia pretende apoiar o Chade com milhões de euros, mas teme que a verba vá parar em mãos erradas. Para poder receber o dinheiro, o governo chadiano promete combater a corrupção.
"Desvio Zero"
O novo ministro da Economia do Chade, Fadoul Sabre, assumiu a pasta há poucas semanas. Em sua primeira aparição pública, ele confirmou o que já era conhecido de todos: a situação económica do país não é boa. A novidade foi o anúncio do mais novo plano de combate à corrupção: a operação "Desvio Zero”.Na mira da operação estão as alfândegas. Segundo Sabre, boa parte da receita aduaneira acaba por cair no bolso de corruptos e sobra muito pouco aos cofres do Estado. Para pôr fim ao desvio das receitas aduaneiras no país, foi criada uma linha telefónica para denúncias. Qualquer pessoa que souber de casos de corrupção ou fraude nas alfândegas pode denunciar o crime por telefone.
Operação "Desvio Zero" no Chade
"Este número de telefone não existe.”
Alguns jornalistas ficaram curiosos e ligaram para o novo número. Para a surpresa deles, a mensagem que se seguiu foi: "Este número é inválido. Por favor, verifique o número do telefone.” Mas eles não se deram por vencidos e tentaram com outra operadora: "Este número de telefone não existe.”A companhia telefónica informou que está a trabalhar na solução do problema.
Na mira: as alfândegas
O governo do Chade sempre voltar a afirmar que vai combater a corrupção desenfreada massivamente. Há cerca de um ano, o Presidente do país, Idriss Déby, prometeu pessoalmente criar um Tribunal Especial para julgar crimes financeiros e de corrupção; até agora ninguém ouviu falar de algum procedimento em relação a tal tribunal.
Dessa vez, as alfândegas estão no alvo das investigações. E, além da linha telefónica para denúncias, a polícia, os auditores financeiros e até mesmo membros da guarda presidencial estão encarregados de lutar contra a corrupção – todos a inspecionar os passos dados nas alfândegas.
Em entrevista à DW, o economista Ramadan Dari, que também é conselheiro do Ministério da Economia do Chade, disse estar atónito com tais medidas. Dari contou ainda que muitos se perguntam por que motivo a guarda presidencial foi escolhida para proteger as receitas públicas. Justamente os militares, a instituição menos transparente do país. "Por que não contrataram uma empresa de auditoria? Eles poderiam fazer sugestões de como garantir e assegurar as receitas do governo”, explicou.
Erva daninha a brotar
Tudo indica que ao não contratar uma empresa de auditoria, o Governo chadiano pretende continuar no controlo do combate à corrupção. O próprio Presidente Idriss Déby assumiu publicamente que a má administração e a corrupção tomaram "proporções horríveis”. "Essas proporções podem ser vistas no aumento de mansões em N'Djamena, capital do país, e nos seus arredores; as vilas crescem como erva daninha a brotar nos jardins”, teria dito o Presidente do país que está no lugar lugar 159 no índice de corrupção da ONG Transparência Internacional. Depois dele, restam apenas mais 17 países.
Mas agora o Presidente Idriss Déby está sob pressão. Em uma conferência em Paris, parceiros estrangeiros prometeram avultadas somas para o novo programa de desenvolvimento do Chade. Em troca, o presidente garantiu que o governo vai estabelecer mecanismos de controlo e aferição adequados para implementar o novo programa de forma ideal.
Até o momento, não ficou claro se a guarda presidencial também vai exercer uma função especial para proteger o dinheiro que será enviado pelos países da União Europeia. Por ora, eles estão ocupados com a gestão financeira dos funcionários da aduana.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.