Longa-metragem traz nova versão da operação de resgate dos passageiros do voo da Air France, sequestrado em 1976. "Do ponto de vista africano, foi uma tragédia muito grande", diz o realizador brasileiro José Padilha.
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A história do sequestro do avião da Air France, em 1976, volta às telas do cinema pelo olhar do realizador brasileiro José Padilha, que dirigiu os filmes "Tropa de Elite" e também a série "Narcos".
O filme "7 Days in Entebbe" (ou "7 Dias em Entebbe", na tradução literal para o português) traz para as telas da Berlinale a história da operação de resgate dos passageiros do avião da Air France, sequestrado em 1976 por membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina e dois alemães membros de Células Revolucionárias da extrema esquerda da Alemanha e levado para o principal aeroporto do Uganda na época.
José Padilha revela porque aceitou o convite para dirigir uma nova versão da história, já retratada em diversas produções anteriores.
"A maioria dos outros filmes conta a história da perspetiva militar e mostra uma história de heroísmo, ignorando as interações entre os reféns e os sequestradores, bem como os aspetos políticos em Israel", afirma.
Os passageiros israelitas são transformados pelos sequestradores em moeda de troca pela libertação de terroristas e militares palestinianos, presos em Israel.
Os raptores receberam o apoio do então Presidente do Uganda, Idi Amin. A operação foi concluída com uma intervenção militar israelita.
Versão baseada em testemunhos
Para fazer o filme, a equipe de Padilha fez uma grande pesquisa que incluiu o encontro com testemunhas da época, entre eles o engenheiro francês Jacques Lemoine, que sobreviveu ao sequestro. Assim, "7 Days em Entebbe" traz uma versão diferente da oficial, explica o realizador José Padilha.
"Falámos com muitas pessoas para fazer a pesquisa sobre este filme. Foi importante para ter os factos com precisão. Especialmente porque a narrativa oficial é uma história militar e, no guião, havia um momento onde [o sequestrador alemão Wilfried] Böse decide que sua prioridade não é matar os reféns. Ele diz a Jacques Lemoine para se deitar. Mas isso não está na narrativa oficial. Então tive que verificar isso, e é verdade", defende.
O ator alemão Daniel Brühl é um dos protagonistas do filme, na pele do sequestrador alemão Wilfried Böse.
"Como ator, tive de fazer uma escolha. Foi muito importante ter fontes e testemunhas oculares como Lemoine a dizer que se lembra claramente daquele momento e que, para ele, Böse tomou esta decisão de não matar os reféns. Este tipo de informação foi absolutamente crucial para mim", conta Brühl.
Papel do Uganda
No filme, o então Presidente Idi Amin é representado pelo ator britânico de origem nigeriana Nonso Anozie. Nas cenas em que Amin faz visitas esporádicas aos reféns, o tom é de bom humor e comédia, numa tentativa de retratar a personalidade "folclórica" do então Presidente.
"Idi Amin estava treinando o exército israelita antes deste evento. Ele era um amigo de Israel e pediu apoio para comprar mais aviões militares, mas Israel negou. Isso criou um rancor entre Idi Amin e Israel e ele se juntou aos palestinianos, porque estava em busca de dinheiro dos aliados árabes e russos. Então, decidiu entrar nesta tentativa louca", avalia o realizador.
Entebbe OL - MP3-Stereo
À DW África, Padilha diz que a conta da operação de resgate do avião da Air France ficou cara, mesmo para os africanos - particularmente para cidadãos quenianos que viviam no Uganda, pois o Quénia colaborou com os militares israelitas.
"Idi Amin matou 245 quenianos nas três semanas depois do evento e isso é o dobro das pessoas que foram salvas na operação especial", sublinha. "Então, é muito questionável se essa operação especial foi boa ou não. Se você olha do ponto de vista africano, foi uma tragédia muito grande. Morreram pessoas do Quénia que eram inocentes e não tinham nada a ver com esse assunto", afirma o realizador brasileiro.
O filme "7 Days em Entebbe" participa na mostra principal da Berlinale, mas não concorre ao "Urso de Ouro", que será entregue no próximo dia 24. A 68ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim termina a 25 de fevereiro.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.