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"Operação Resgate" afasta taxistas da atividade

Lusa | ar
9 de novembro de 2018

Cidadãos em Luanda queixam-se da falta de táxis na cidade, apontando o dedo à "Operação Resgate", que tem demonstrado que o setor está "minado" com motoristas sem carta de condução ou com elas apreendidas.

Angola Verkehrsstau in Luanda
Foto: DW/Nelson Sul d'Angola

A falta de táxis está a trazer como consequência os agora constantes atrasos dos funcionários aos locais de trabalho, ao mesmo tempo que os taxistas que circulam na capital de Angola admitiram que vários dos seus colegas trabalhavam à margem da lei.

Numa ronda efetuada esta sexta-feira (09.11.) na capital angolana, pela agência de notícias Lusa, foram observas grandes enchentes nas paragens de táxis coletivos e a reduzida presença das viaturas que exercem esta atividade, levando ao aumento das reclamações de quem depende de taxistas para circular por Luanda.

A "Operação Resgate", que começou na terça-feira (06.11.) em Angola, tem, segundo as autoridades, como propósito o combate à venda ambulante desordenada, às transgressões administrativas e à imigração ilegal, bem como ordenar a circulação rodoviária, entre outros aspetos.

Resgatar autoridade do Estado

Para os cidadãos em Luanda, a operação, que visa "resgatar a autoridade do Estado angolano", está a ter implicações diretas no seu dia-a-dia, pelo que se queixam do elevado tempo de espera na paragem devido à "falta de táxis". 

O cenário, que se estende por quase toda a Luanda, foi constatado na Rua dos Comandos, paragem de táxi do "Tanque do Cazenga", um dos municípios mais populosos da capital angolana, conforme contou à Lusa no local Jéssica Ngola da Silva.

"No dia a dia isto está mal. O táxi está muito difícil e está a complicar muito fazer o trajeto [até ao local de trabalho]. Neste momento, que estamos na paragem, não há táxis e isto está muito cheio", disse. Para a estudante, de 23 anos, a situação acontece devido à "Operação Resgate", que veio "regular" a circulação automóvel em Luanda.

Foto: Pedro Borralho Ndomba

"Muitos motoristas não têm carta de condução e penso ser uma das causas que faz com que aqui na paragem não tenha táxi", observou.

Luís Alexandrino, funcionário público de 30 anos, admitiu que tem tido constrangimentos para chegar ao local de trabalho, no centro da cidade, devido à diminuta presença de viaturas, responsabilizando também a operação.

"Estou a esta hora [08:00 locais ] ainda na paragem por dificuldades de táxi e até agora nada. A Operação tem, sim, reflexos na atividade dos taxistas porque desde que ela começou houve muita mudança, e em relação ao táxi tornou-se mais difícil", disse.

"Operação Resgate" aplaudida

Porém, apesar das dificuldades, aplaude as motivações da "Operação Resgate", por entender que ela veio garantir prudência no seio dos automobilistas, sobretudo taxistas, para a necessidade de regularizarem a atividade.

"Realmente, há muitos automobilistas desencartados e, com essa operação, está a existir maior controlo, a tornar os taxistas mais prudentes, porque muitos não têm carta e isso é crime. Apesar da dificuldade de táxis, a operação está a ajudar muito", referiu.

Segundo Ilda Dinheiro, a "Operação Resgate" veio confirmar a existência de um "elevado número de taxistas inabilitados" para o serviço, situação que, disse, "vai ajudar a melhorar o país".

"Estou a gostar da operação, uma vez que se confirmou que muitos cidadãos não têm carta de condução. Penso ser louvável, porque pelo menos assim mudamos de mentalidade, de forma a melhorar o nosso país", afirmou.

Reduzida presença de taxistas nas ruasEntre os taxistas, muitos confirmam que as enchentes nas paragens é consequência da reduzida presença nas ruas dos seus colegas, pois, explicaram, muitos conduzem sem carta de condução ou mesmo sem uma licença para o efeito.

Foto: DW/P. B. Ndomba

"Porque todo o mundo tem de se legalizar, porque pagamos a Taxa de Circulação, a Licença e alguns trabalham sem qualquer documento, não se legalizam e agradecemos a operação", disse à Lusa o taxista Joaquim Pascoal.

Há 10 anos na atividade, o taxista realçou ainda que, em consequência da demanda de passageiros, alguns colegas seus estão a especular o preço da passagem para valores superiores aos 150 kwanzas (0,42 euros) legalmente instituídos. 

"Sim, aumentaram-se os passageiros, reduziram-se os taxistas, mas apelo aos meus colegas para evitarem especulação de preços", indicou.

Já Zacarias Guimarães, 30 anos, cinco dos quais dedicados ao serviço de táxi em Luanda, deu nota positiva à operação, prevista para decorrer em todo o país por tempo indeterminado.

"A operação é uma boa medida e ainda não ouvi nenhuma anomalia. Estou a gostar. Aumentou, sim, o número de passageiros na paragem porque muitos colegas pararam a atividade pois não estão legalizados", apontou.

Também o taxista Sidónio Marques considerou que, a par de "reparar erros", o que é positivo, a operação veio igualmente "complicar" a vida de muitos cidadãos, sobretudo os que dependem do serviço de táxi para se deslocarem para o local de trabalho.

Exercício ilegal de mais de 2.000 taxistas O presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), Geraldo Wanga, disse esta sexta-feira, em Luanda, que a "Operação Resgate" "desempregou" mais de 2.000 taxistas que exerciam a atividade "à margem da lei".

Geraldo WangaFoto: DW/M. Luamba

"Concretamente, estima-se que, a nível da província de Luanda, mais de 2.000 viaturas estão sem autorização para o exercício da atividade e isso é preocupante, porque se trata de um número elevado dos que não têm a documentação exigida para o trabalho" disse.

Numa altura em que passageiros se queixam da redução desses transportes coletivos em Luanda, que tem como consequência as enchentes nas paragens, Wanga refere que tal situação "é notória", porque muitos operavam por "influência dos proprietários" das viaturas, sem qualquer habilitação.

Carros a circular "de forma desleal"

Segundo o presidente da ANATA, havia muitos carros que circulavam "de forma desleal", porque os proprietários das viaturas são "entidades públicas e que, por conta disso, faziam-se valer".

"Passavam o passe da instituição em que trabalham ao condutor e o mesmo exercia a atividade exibindo apenas aquele passe em substituição da licença de aluguer e a taxa de circulação. Esses não estão a ser poupados pela operação, daí o nosso bem-haja", atirou. 

Porque, salientou, a operação tem a particularidade de "tratar todos de forma igual", fiscalizando o exercício, pelo que quem tiver documentos "não será importunado". "Estamos a ver é que os poucos que estão a trabalhar é porque estão legais", sublinhou.O líder da Associação, que controla a nível de Angola cerca de 24.000 associados, 18.000 dos quais só na capital do país, referiu ainda que "não faltaram apelos" aos taxistas agora "inabilitados" a exercer a atividade sobre a necessidade de se pautarem pela legalidade.

Foto: DW/Nelson Sul d'Angola

"Infelizmente, aqueles que não seguiram os nossos conselhos estão a ver-se impedidos de exercer a atividade", adiantou.

Apesar da "pouca divulgação" sobre a razão da operação, Geraldo Wanga felicitou as autoridades angolanas pela iniciativa, considerando que veio também salvaguardar o exercício da atividade com "base nos princípios legais".

Acabar com as infrações

Para o presidente da ANATA, a operação normalizou igualmente os operadores públicos de transportes coletivos que, durante a atividade, cometiam "muitas infrações".

"Muitas dessas instituições não cumpriam os pressupostos legais que dão direito à exploração da atividade, como a licença de aluguer ou a taxa de circulação, e havia um tratamento desigual agora regulado pela operação", argumentou.

Geraldo Wanga manifestou-se, porém, preocupado com o "excesso de burocracia" no tratamento da documentação para legalizar a atividade de táxi, sobretudo em Luanda, defendendo a "descentralização" desses serviços.

"Não é possível que, para uma província como Luanda, que tem cerca de 38.000 táxis, tenha um único senhor a assinar as licenças que dão direito à exploração da atividade de táxi. Não é possível", concluiu.

 

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