Em Angola, há excessos da Polícia na "Operação Transparência", denuncia a OMUNGA. O ACNUR diz que não pode comprovar o uso de violência contra imigrantes, mas reporta a excessiva quantidade de pessoas devolvidas à RDC.
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Há denúncias de uso excessivo da força por parte da polícia contra imigrantes no âmbito da "Operação Transparência", que decorre desde o dia 25 de setembro.
Entranto, fontes oficiais negam estar a recorrer a violência. José Patrocínio é coordenador da ONG angolana OMUNGA e afirma que "por parte do Governo não há um assumir disso, nem tão pouco demonstram algum interesse em fazer investigação. As declarações prestadas pelas entidades ligadas à operação, nomeadamente a Polícia, negam a ocorrência desses factos. Portanto, não há abertura para a investigação e nem tão pouco para a responsabilização."
ACNUR não confirma violência na operação
"Operação Transparência": Há bastante excessos, diz OMUNGA
A "Operação Transparência", que decorre em sete províncias, visa essencialmente impedir a violação das fronteiras de Angola e exploração ilegal de diamantes. Os congoleses são o maior grupo imigrante no país e estariam a ser as principais vítimas da suposta violência.
Questionado se a atuação da Polícia estaria a ser marcada por algum excesso, Wellington Carneiro, oficial de proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Angola, respondeu: "Nós não podemos comprovar os excessos porque aconteceram maioriatariamente em Lucapa, onde nós não temos presença. O que achamos excessivo é a quantidade de refugiados devolvidos a República Democrática do Congo no âmbito dessa operação, por erro ou por outro tipo de negligência."
OMUNGA não tem dúvidas sobre excessos
O ACNUR tem estado a acompanhar de perto esta operação repatriamento em alguns lugares do país. Já a OMUNGA, que monitora igualmente o processo, não tem dúvidas sobre o excesso das autoridades. José Patrocínio garante que "há bastantes excessos".
E o coordenador enumera: "O primeiro aspeto tem a ver com a relação forçada e que se criou na questão em que haveria uma ligação direta e um propósito direto no combate ao garimpo ligado ao combate ao imigrante considerado ilegal, ou seja, indocumenrado. E isto precupa-nos bastante, isto pode estimular ainda mais a xenofobia e problemas de violência decretados pelos próprios cidadãos e não pelas autoridades."
Para Patrocínio, "a segunda questão tem a ver com a forma como tem sido levado a cabo a operação. Nós defendemos o princípio de que Angola tem legitimidade e responsabilidade de garantir segurança das suas fronteiras, territórios, recursos, cidadãos, leis e instituições."
O coordenador da OMUNGA defende ainda "que o Estado não pode, de maneira nenhuma, tomar atitudes que violem a dignidade dos cidadãos, sejam eles nacionais ou estrangeiros."
Vem aí "Operação Resgate" já com ameaças
Em meados deste mês, a ONU lembrou que as expulsões em massa são contrárias às obrigações da Carta Africana e exorta Angola e da República Democrática do Congo a trabalharem em conjunto para garantirem um "movimento populacional" seguro.
Já as autoridades locais defendem-se argumentando que a situação pode ser ultrapassada se houver maior colaboração do ACNUR nas ações de sensibilização sobre os direitos e deveres dos refugiados.
No dia 6 de novembro inicia uma nova operação, denominada "Resgate", que pretende reforçar a autoridade do Estado em todos os domínios, por termo, por exemplo, a desordem e a insegurança, a sinistralidade rodoviára, e proibir a venda de produtos não autorizados em mercados informais.
E até lá as autoridades estarão focadas na sensibilização, mas já avisaram que irão atuar "decididamente" e que vão mobilizar todos os meios das forças de segurança do país.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.