Conteúdo do comunicado final do G20 não deve ficar apenas no papel. Tornar a globalização justa deveria ser a tarefa central do G20, opina o jornalista da DW, Henrik Böhme.
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Como se consegue fazer da milionária e espetacular cimeira um sucesso? Primeiro, baixa-se consideravelmente as expectativas. Em seguida, coloca-se os convidados suavemente sob pressão. Apela-se, então, à disponibilidade deles para o compromisso.
No primeiro dia, deixa-se claro que ainda se está muito distante em temas importantes, como por exemplo o livre comércio. Depois, relativamente cedo na manhã do último dia do evento, divulga-se a informação: Alcançado um acordo comercial! Um claro compromisso contra o protecionismo na declaração final. Não 19 contra um, mas todos os 20 juntos. Tudo vai ficar bem!
Mas, não
O que há anos é, de facto, consenso, em tempos de Presidente Trump é comemorado como um avanço pelo qual os negociadores teriam lutado durante toda a noite. Este encontro de chefes de Estado do G20 existe desde 2008. Desde então, o compromisso do livre comércio sempre está no comunicado.
Estes papéis são, por um lado, uma prova do trabalho realizado. Por outro, a lição de casa. Mas, como na vida real, nem todos fazem esta lição com prazer. No livre comércio, pode-se ver bem: A Organização Mundial do Comércio (OMC) realiza uma estatística precisa sobre as barreiras comerciais, que são montadas ou desmontadas. E mostra: A cada mês, são introduzidas, em média, 17 novas medidas que restringem o comércio nos países do G20 - especialmente os produtos industrializados estão em causa. Percebe-se, assim, a contradição entre uma promessa em um documento final do G20 e a realidade.
Trump conseguiu o que queria
Portanto, concordar não pode ter sido tão difícil para os americanos. Assim, eles não ficam na posição de "malvados", mas podem continuar com a sua política de "América em primeiro lugar".
Enquanto a OMC só fizer estatísticas e não puder fazer nada de realmente sólido contra as barreiras comerciais, continuará assim. Além disso, há uma segunda frase na declaração final que permite o uso de "instrumentos legítimos de defesa comercial", ou seja, exatamente: tarifas punitivas.
E como se isso não fosse suficiente para manter o humor do homem de Washington, condições justas nas relações comerciais são reivindicadas.
Ah, claro que funciona! Falei exatamente sempre disso, de comércio JUSTO. Construo um emaranhado de ameaças - por exemplo, com tarifas punitivas sobre as importações de aço - e os outros já participam! É o que deve ter pensado Donald Trump.
Porque mesmo o problema do excesso de capacidade global de produção de aço entrou na declaração final. Como se esse fosse o problema mais importante do mundo. Certamente que não.
Onde fica a justa globalização?
Foi Paul Martin, antigo primeiro-ministro canadense e membro-fundador do G20, quem há duas décadas já havia dito, a globalização deve beneficiar a todos. Bela frase, mas ninguém o levou realmente a sério. Agora que um crítico da globalização mudou-se para a Casa Branca e uma vez que os britânicos sobretudo por medo da globalização votaram pelo Brexit, alguns lembram-se dessa frase. Porque exatamente isso - fazer uma globalização justa – deveria ser a tarefa central do G20.
Isso a presidência alemã do G20 reconheceu. Durante as consultas em Hamburgo, a chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu e este respeito, mais de uma vez. Consta também nas primeiras linhas do documento final de 19 páginas: Deixar que todos participem das oportunidades da globalização.
Essas palavras só não podem ficar apenas no papel. Porque a desigualdade social divide sociedades. Os decepcionados, os dependentes e os descontentes são alimento para todos os tipos de extremismo. Uma globalização injusta é uma ameaça à democracia.
17 objetivos para o futuro
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas almejam criar um mundo mais justo até 2030, protegendo o meio ambiente e eliminando a fome e a pobreza. O plano foi adotado numa cimeira da ONU.
Foto: Emmanuel Dunand/AFP/Getty Images
1º objetivo: um mundo sem pobreza
Até 2030, nenhuma pessoa deverá mais ter que viver em extrema pobreza. A comunidade internacional pretende assim ir mais longe do que com os Objetivos do Milénio, que previam apenas cortar para metade até 2015 o número de pessoas que vive na miséria. A definição da Organização das Nações Unidas (ONU) para "extrema pobreza" é ter que subsistir com o equivalente a menos de cerca de um euro por dia.
Foto: Daniel Garcia/AFP/Getty Images
2º objetivo: um mundo sem fome
Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas não têm suficiente para comer, diz a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Até 2030, mais nenhuma pessoa deverá sofrer de subnutrição. Para conseguir o objetivo, será promovida a agricultura sustentável e fomentados os pequenos agricultores e o desenvolvimento rural.
Foto: picture-alliance/dpa
3º objetivo: saúde em todo o mundo
Anualmente morrem em todo o mundo 6,6 milhões de crianças com menos de cinco anos. E todos os anos morrem 500 mil mulheres durante a gravidez ou o parto. A mortalidade infantil e materna podia ser evitada com meios simples. Até 2030, todas as pessoas deverão beneficiar de cuidados de saúde preventivos, assim como obter vacinas e medicamentos a preços acessíveis.
Foto: DW/P.Kouparanis
4º objetivo: formação escolar para todos
Seja menina ou menino, rico ou pobre: até 2030, cada criança deverá obter uma formação escolar, que, mais tarde, lhe permita encontrar um emprego. Homens e mulheres deverão ter as mesmas oportunidades de formação, independentemente da sua etnia ou condição social, ou de uma deficiência física.
Foto: DW/S. Bogdanic
5º objetivo: a igualdade de géneros
As mulheres deverão ter as mesmas possibilidades que os homens de participar na vida pública e política. A violência e o casamento forçado serão relegados à história. E as mulheres de todo o mundo deverão passar a ter acesso livre a contracetivos e planeamento familiar. Este objetivo é criticado por alguns representantes religiosos.
Foto: Behrouz Mehri/AFP/Getty Images
6º objetivo: água como direito humano
A água é um direito humano. Não obstante, 770 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e mil milhões de pessoas não têm acesso a sistemas sanitários, segundo a ONU. Até 2030, todas as pessoas deverão poder aceder a água potável e sistemas sanitários a preços módicos. A água deverá ser consumida de forma sustentável e os ecossistemas protegidos.
Foto: DW/B. Darame
7º objetivo: energia para todos
Até 2030, todas as pessoas deverão ter acesso a eletricidade e energia, de preferência de fontes renováveis. A taxa mundial de eficiência energética deverá ser duplicada e a infraestrutura alargada, sobretudo nos países mais pobres. Atualmente, cerca de 1,3 mil milhões de pessoas não têm eletricidade.
Foto: Fotolia/RRF
8º objetivo: condições de trabalho justas para todos
Condições de trabalho justas e sociais em todo o mundo, oportunidades de emprego para os jovens e uma economia global sustentável: o oitavo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aplica-se a países industrializados e em vias de desenvolvimento e inclui a eliminação do trabalho infantil e o respeito pelas normas de trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Foto: GIZ
9º objetivo: infraestruturas sustentáveis
O desenvolvimento económico do qual todos possam beneficiar deverá ser fomentado através da melhoria das infraestruturas. A industrialização deve fazer-se de forma ecológica e sustentável, garantindo que crie mais e melhor emprego e fomente a inovação, de modo a contribuir para a justiça social.
Foto: imago/imagebroker
10º objetivo: uma distribuição equitativa
Segundo a ONU, mais de metade do crescimento económico global beneficia apenas 1% da população mundial. O fosso entre pobres e ricos é cada vez mais fundo. Por isso, a política internacional de desenvolvimento deverá ajudar sobretudo a metade mais pobre da população e os países mais pobres do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa
11º objetivo: cidades nas quais se possa viver
Nos centros urbanos deverão ser construídos apartamentos e casas a preços acessíveis, assim como espaços verdes ecológicos. Os países em vias de desenvolvimento receberão apoio para tornar as cidades resistentes a catástrofes naturais causadas pelas alterações climáticas.
Foto: picture alliance/blickwinkel
12º: consumo e produção sustentáveis
Todo o mundo é responsável pela reciclagem, a reutilização de recursos e a diminuição do lixo, sobretudo na produção de alimentos e no consumo. Os recursos devem ser explorados e usados de forma ecológica e socialmente responsável. Os subsídios para as energias fósseis devem ser gradualmente eliminados.
Foto: DW
13º objetivo: combater as alterações climáticas
Hoje já há um consenso global sobre a necessidade de tomar medidas para conter as alterações climáticas. Os países mais ricos deverão ajudar os mais pobres através da transferência de tecnologias e fundos. Ao mesmo tempo deverão reduzir substancialmente as suas próprias emissões.
Foto: AP
14º objetivo: a proteção dos oceanos
Os oceanos estão já à beira do colapso e é necessário agir com rapidez para salvá-los. Até 2020 deverão ser tomadas medidas contra a pesca excessiva, assim como a destruição de zonas costeiras e de ecossistemas marinhos. A poluição dos mares com lixo e adubos só deverá ser significativamente reduzida até 2025.
Foto: imago
15º objetivo: travar a destruição do meio ambiente
Aos países membros da ONU foram concedidos cinco anos para pôr cobro à degradação ambiental maciça das bacias hidrográficas, florestas e biodiversidade. Até 2020, a terra, florestas e fontes de água. A gestão dos recursos naturais deverá ser fundamentalmente alterada.
Foto: picture alliance/dpa
16º objetivo: impor a lei e a justiça
Todas as pessoas têm que ser iguais perante a lei. O terrorismo, crime organizado, violência e corrupção devem ser combatidos com eficácia através das instituições nacionais a cooperação internacional. Até 2030, todas as pessoas terão o direito a uma identidade legal e uma cédula de nascimento.
Foto: imago/Paul von Stroheim
17º objetivo: um futuro solidário
Como já fora estabelecido nos Objetivos do Milénio, os países ricos deverão finalmente contribuir com 0,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para o desenvolvimento. A Alemanha, por exemplo, atualmente dedica 0,39% do seu PIB à ajuda ao desenvolvimento. Apenas cinco países atingiram a meta estabelecida de 0,7%: Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Grã-Bretanha.