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Opinião: Globalização injusta ameaça democracia

Henrik Böhme
9 de julho de 2017

Conteúdo do comunicado final do G20 não deve ficar apenas no papel. Tornar a globalização justa deveria ser a tarefa central do G20, opina o jornalista da DW, Henrik Böhme.

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Henrik Böhme

Como se consegue fazer da milionária e espetacular cimeira um sucesso? Primeiro, baixa-se consideravelmente as expectativas. Em seguida, coloca-se os convidados suavemente sob pressão. Apela-se, então, à disponibilidade deles para o compromisso.

No primeiro dia, deixa-se claro que ainda se está muito distante em temas importantes, como por exemplo o livre comércio. Depois, relativamente cedo na manhã do último dia do evento, divulga-se a informação: Alcançado um acordo comercial! Um claro compromisso contra o protecionismo na declaração final. Não 19 contra um, mas todos os 20 juntos. Tudo vai ficar bem!

Mas, não

O que há anos é, de facto, consenso, em tempos de Presidente Trump é comemorado como um avanço pelo qual os negociadores teriam lutado durante toda a noite. Este encontro de chefes de Estado do G20 existe desde 2008. Desde então, o compromisso do livre comércio sempre está no comunicado.

Estes papéis são, por um lado, uma prova do trabalho realizado. Por outro, a lição de casa. Mas, como na vida real, nem todos fazem esta lição com prazer. No livre comércio, pode-se ver bem: A Organização Mundial do Comércio (OMC) realiza uma estatística precisa sobre as barreiras comerciais, que são montadas ou desmontadas. E mostra: A cada mês, são introduzidas, em média, 17 novas medidas que restringem o comércio nos países do G20 - especialmente os produtos industrializados estão em causa. Percebe-se, assim, a contradição entre uma promessa em um documento final do G20 e a realidade.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o G20Foto: Getty Images/P.Stollarz

Trump conseguiu o que queria

Portanto, concordar não pode ter sido tão difícil para os americanos. Assim, eles não ficam na posição de "malvados", mas podem continuar com a sua política de "América em primeiro lugar".

Enquanto a OMC só fizer estatísticas e não puder fazer nada de realmente sólido contra as barreiras comerciais, continuará assim. Além disso, há uma segunda frase na declaração final que permite o uso de "instrumentos legítimos de defesa comercial", ou seja, exatamente: tarifas punitivas.

E como se isso não fosse suficiente para manter o humor do homem de Washington, condições justas nas relações comerciais são reivindicadas.

Ah, claro que funciona! Falei exatamente sempre disso, de comércio JUSTO. Construo um emaranhado de ameaças - por exemplo, com tarifas punitivas sobre as importações de aço - e os outros já participam! É o que deve ter pensado Donald Trump.

Porque mesmo o problema do excesso de capacidade global de produção de aço entrou na declaração final. Como se esse fosse o problema mais importante do mundo. Certamente que não.

Onde fica a justa globalização?

Foi Paul Martin, antigo primeiro-ministro canadense e membro-fundador do G20, quem há duas décadas já havia dito, a globalização deve beneficiar a todos. Bela frase, mas ninguém o levou realmente a sério. Agora que um crítico da globalização mudou-se para a Casa Branca e uma vez que os britânicos sobretudo por medo da globalização votaram pelo Brexit, alguns lembram-se dessa frase. Porque exatamente isso - fazer uma globalização justa – deveria ser a tarefa central do G20.

Isso a presidência alemã do G20 reconheceu. Durante as consultas em Hamburgo, a chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu e este respeito, mais de uma vez. Consta também nas primeiras linhas do documento final de 19 páginas: Deixar que todos participem das oportunidades da globalização.

Essas palavras só não podem ficar apenas no papel. Porque a desigualdade social divide sociedades. Os decepcionados, os dependentes e os descontentes são alimento para todos os tipos de extremismo. Uma globalização injusta é uma ameaça à democracia.

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