O Presidente cessante, José Mário Vaz, sofreu um desastre na primeira volta das eleições na Guiné-Bissau. Para Johannes Beck, chefe da DW África, o resultado foi consequência da política pouco construtiva de Jomav.
José Mário Vaz, ou "Jomav", foi o primeiro Presidente da história da Guiné-Bissau a cumprir os cinco anos de mandato. Nenhum golpe, nenhuma guerra civil e também nenhuma doença forçaram uma saída antecipada, como aconteceu com todos os seus antecessores.
Mas Jomav perdeu o segundo recorde, a primeira reeleição de um Presidente em exercício desde a independência. Com 12,4% dos votos, só ficou em quarto lugar e ficou fora da segunda volta a 29 de dezembro.
Na minha opinião, Jomav é o único culpado pelo resultado desastroso que obteve. Durante o seu mandato, foi responsável pela instabilidade dos governos: nomeou sete e nove primeiros-ministros. Uma e outra vez, Jomav não manteve compromissos laboriosamente mediados pela CEDEAO, a Comunidade dos Estados da África Ocidental, colocando as animosidades pessoais acima dos interesses do seu país.
No início do mandato, Jomav tinha tudo para dar certo
Mas tudo começou de forma tão promissora há cinco anos. Com Domingos Simões Pereira como primeiro-ministro e José Mário Vaz como Presidente, os dois principais cargos do país eram ocupados pelo antigo movimento de libertação, o PAIGC, que na altura contava também com uma maioria absoluta no Parlamento.
Mas Jomav começou uma guerra com Domingos Simões Pereira, que logo teve de renunciar ao cargo de primeiro-ministro. A causa provavelmente não foram diferenças programáticas, mas sim inimizades entre as duas famílias. A crise permanente que se seguiu paralisa o país até hoje: novos partidos foram fundados por deputados dissidentes, o Parlamento foi incapaz de realizar sessões plenárias durante meses, um primeiro-ministro após o outro teve que tirar o chapéu. No final, tudo culminou quando Jomav instalou um Governo paralelo para além do Governo constitucional.
Problemas não faltam na Guiné-Bissau
E com isso vieram as consequências a nível social: os funcionários do Estado esperam meses pelos seus salários, as escolas estiveram fechadas durante a maior parte do ano letivo e não existe praticamente nenhuma assistência médica convencional nas áreas rurais. Por isso, é compreensível que os cidadãos tenham mostrado o cartão vermelho ao Presidente no dia das eleições!
Domingos Simões Pereira, o eterno rival de Jomav, é agora o favorito na segunda volta das eleições de 29 de dezembro. Ele ganhou 40,1% dos votos na primeira volta do dia 24 de novembro e enfrentará Umaro Sissoco Embaló, outro ex-primeiro-ministro, que obteve 27,7% dos votos. Sissoco foi o candidato do MADEM-G15, um partido fundado por dissidentes do PAIGC.
A mensagem da primeira volta neste país com cerca de dois milhões de habitantes é clara: Os guineenses desejam estabilidade e o fim das querelas constantes! Isto também será o desafio para o próximo Presidente.
Presidenciais: Futuro da Guiné-Bissau adiado para segunda volta
Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló disputam segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro. Balanço da primeira volta das eleições feito pela CPLP, CEDEAO e União Africana é positivo.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira vs Umaro Sissoco Embaló
Domingos Simões Pereira foi o vencedor das presidenciais na Guiné-Bissau, no entanto, não alcançou a maioria necessária para assumir o poder. O candidato apoiado pelo PAIGC conseguiu 222.870 votos, o que representa 40,13% do eleitorado. Seguiu-se Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15, com 153.530 votos, ou seja, 27,65%.
Foto: DW/B. Darame
Medalha de bronze para Nabiam
Em terceiro lugar ficou Nuno Nabiam, com 13,16% dos votos. Seguiu-se José Mário Vaz, com 12,41%, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28% do eleitorado. Vicente Fernandes conseguiu 0,77% dos votos, Mamadu Iaia Djaló 0,51%, Idriça Djaló 0,46% e Mutaro Intai Djabi 0,43% dos votos. Os candidatos que obtiveram os piores resultados foram Gabriel Fernando Indi e António Afonso Té.
Foto: picture alliance/dpa
PAIGC pede apoio de APU e FREPASNA
Segue-se agora a segunda volta, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, do PAIGC, já pediu o apoio aos partidos APU-PDGB e FREPASNA. DSP disse aceitar e respeitar os resultados eleitorais divulgados e deixou um recado a Sissoco Embaló: que na campanha para a segunda volta, não serão tolerados discursos de divisão dos guineenses: "serão atacados judicial e politicamente", disse.
Foto: DW/B. Darame
MADEM-G15 conta com apoiantes de Jomav
Por sua vez, Umaro Sissoco Embaló disse confiar na vitória na segunda e voltou a fazer acusações ao adversário Domingos Simões Pereira. "A Guiné-Bissau era um país laico e de concórdia nacional, Domingos Simões Pereira semeou o ódio e a divisão entre os guineenses". Embaló já havia anunciado, antes da primeira volta, que existia um acordo entre vários partidos contra DSP, em caso de segunda volta.
Foto: Privat
Grande derrotado
O antigo chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, é já considerado o grande derrotado das presidenciais. Jomav, que concorreu como independente às eleições de 24 de novembro, ficou em quarto lugar na votação, atrás de Domingos Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló e Nuno Nabiam. O ex-Presidente conseguiu apenas 12,41% dos votos.
Foto: DW/B. Darame
Votação ordeira
A votação de 24 de novembro foi acompanhada por 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América. Todos elogiaram a "calma" e "serenidade" do processo.
Foto: picture-alliance/Xinhua News Agency
Votação "transparente"
Também a CNE deu nota positiva ao processo, dando conta de que não foram registados incidentes que possam comprometer a votação. Nestas eleições, nenhum dos 12 candidatos apresentou contestações ao processo de votação. Já na véspera das eleições presidenciais, Felisberta Moura Vaz, porta-voz da CNE, havia garantido à DW que o sistema eleitoral no país "é tão transparente que não permite fraude".
Foto: DW/B. Darame
Monitorização da sociedade civil
As eleições presidenciais, assim como aconteceu nas legislativas, voltaram a contar com o trabalho da Célula de Monitorização Eleitoral da Sociedade Civil. Após a votação, a plataforma deu nota positiva ao dia eleitoral, salientando que tudo "decorreu conforme o previsto". A rede contou com 422 observadores em todas as regiões da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Doze candidatos
Durante a campanha eleitoral, foram muitas as críticas feitas aos considerados fracos discursos e programas de governação apresentados. Em entrevista à DW, a Rede Nacional das Associações Juvenis considerou que alguns candidatos deixavam muito a desejar e que outros "confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios".
Foto: DW/B. Darame
Jomav demite governo
A campanha para as presidenciais ficou marcada pela nomeação, por parte de José Mário Vaz, de um novo Governo liderado por Faustino Imbali, que foi recusado pela comunidade internacional, e que acabou por se demitir pouco tempo depois. O próprio Jomav disse-se desautorizado pelas forças de segurança, que não facilitaram a efetivação do decreto presidencial que ditou esta nomeação.