Opiniões divididas quanto a indicação de João Lourenço
José Adalberto (Huambo)
7 de dezembro de 2016
A notícia da indicação do atual ministro angolano da Defesa, João Lourenço, para cabeça de lista do MPLA nas eleições de 2017, gera vivas reações dos partidos políticos e sociedade civil na província angolana do Huambo.
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O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) realiza no sábado (10.12.), em Luanda, no maior estádio angolano, o ato central das comemorações dos 60 anos da fundação do partido, uma semana depois da aprovação do nome do cabeça de lista às eleições de 2017.
O partido aprovou a 2 de dezembro, na reunião do Comité Central, uma resolução interna com o cabeça de lista do partido às eleições gerais de 2017 em Angola, mas sem oficializar qualquer nome, embora um documento posteriormente colocado a circular refira tratar-se do ministro da Defesa, general João Lourenço, indicado para suceder a José Eduardo dos Santos.
A Constituição angolana prevê que o cabeça de lista do partido mais votado em eleições gerais seja automaticamente nomeado Presidente da República.
Contrariamente à expetativa gerada nas últimas semanas, nenhum nome de candidato foi divulgado oficialmente durante a reunião do Comité Central, porque segundo o MPLA a decisão com os nomes dos candidatos aprovados não deve ser divulgada sem antes ser dada a conhecer às bases, em todo o país. Além disso, a pré-campanha do partido para as eleições gerais de 2017 arranca igualmente a 10 de dezembro, em Luanda, no dia do 60.º aniversário da fundação do MPLA.
Figuras do MPLA com maior visibilidadeNa província do Huambo, a indicação de João Lourenço para cabeça de lista do MPLA, nas eleições gerais de 2017, está a gerar vivas reações dos partidos políticos e da sociedade civil, que apontam a pouca popularidade do candidato proposto e a existência de figuras com maior visibilidades dentro do partido para a função.
Para o estudante universitário António Eurico, a indicação de João Lourenço, indicia descarrilamento politico do partido governante porque não vê na figura indigitada qualidades políticas para assegurar a estabilidade do MPLA, aliada à falta de popularidad, factores que no seu entender podem favorecer a oposição politica.
"O MPLA, está a descarrilar pouco a pouco. Posso afirmar e de forma categórica que a decisão vem beneficiar a oposição, porque o nome proposto não goza nomeadamente de muita popularidade a nível nacional. Sobre as qualidades políticas também tenho as minhas dúvidas".
Manuel Nhanga, igualmente estudante universitário, é de opinião que a figura de João Loureço, não reflete o vasto leque de figuras ilegíveis dentro do MPLA pois, no seu entender António Paulo Kassoma, actual secretário para a política de quadros do bureau politico do Mpla, é a figura com melhor preparação para ser cabeça de lista nas eleições gerais de 2017.
"Penso que melhor seria a designação de António Paulo Kassoma, porque se trata de uma figura com história no seio do MPLA e alguém muito escutado pelos militantes do partido".
PRS não estranha a indicação de João LourençoAlmeida Daniel Chilungo representante da Coligação eleitoral Casa-CE no Huambo, diz não estranhar a indicação de João Lourenço para cabeça de lista do MPLA, "pois, há muito que o nome vem sendo ventilado nas estruturas do partido", e realça que o seu partido, está preparado para o embate politico de 2017. Por outro lado, Chilungo congratulou-se com a retirada de Eduardo dos santos da corrida eleitoral.
"As mudanças são necessárias dentro do quadro político. Se o MPLA, pensa assim, se o Presidente da República pensa assim, então terminou a era eduardista. José Eduardo dos Santos tem de deixar o bastão e o leme para os seus sequazes. Penso que o Presidente da República está de parabéns pela acertada decisão que tomou."
Quem também deu a sua opinião sobre o assunto é o secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS), António Solende, para quem o facto de João Loureço, ter sido indicado pelo Presidente do MPLA, (a medida) fere os princípios da democracia partidária."O PRS não opta muito pela encarnação. Porque quem é indicado, tem que fazer a vontade de quem o indicou. Nós, partimos sempre do princípio democrático porque alguém que vai dirigir tem que passar pelo voto".
07.12.2016 Reações no Huambo- João Lourenço - MP3-Mono
O correspondente da DW África no Huambo tentou também ouvir uma reação junto do maior partido da oposição em Angola, a UNITA, mas sem sucesso.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
Foto: picture-alliance/dpa
Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)