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Moçambique: Sem cultura política alternativa

Lusa | ar
19 de setembro de 2017

Historiador francês Michel Cahen defendeu, em entrevista à Lusa, que os partidos de oposição em Moçambique ainda não conseguiram produzir uma cultura política alternativa.

Avenida 24 de Julho Maputo Mosambik
Maputo, capital de MoçambiqueFoto: DW/G. Sousa

Michel Cahen considerou que Moçambique precisa de um programa socioeconómico diferente do proposto pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). "Vejo uma fraqueza do lado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e Movimento Democrático de Moçambique (MDM): estes partidos de oposição ainda não conseguiram trazer uma cultura política alternativa", referiu.

Michel Cahen falava esta terça-feira (19.09.) em Maputo à margem da 5.ª Conferência Internacional do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), que coincide com o 10.º aniversário daquela organização vocacionada para a pesquisa e divulgação de conteúdos científicos.

Para Michel Cahen, Moçambique precisa de uma oposição que apresente modelos alternativos aos da Frelimo, que está no poder desde a independência do país, em 1975.

"Por exemplo, ninguém ainda apresentou, como proposta, a necessidade de se mudar a capital. Geograficamente, a capital deste país devia estar em Quelimane [província da Zambézia], que é, se analisarem bem o mapa, o centro de todo o país", observou o académico.

Novo ciclo eleitoral aproxima-seO pesquisador entende que seriam mudanças nas propostas vindas da oposição que poderiam promover mais a participação dos cidadãos na vida política do país, numa altura em que Moçambique enfrenta "grandes desafios", com a aproximação de um novo ciclo eleitoral e a corrida por um acordo de paz definitivo.

Michel CahenFoto: DW/J. Carlos

"Os cidadãos são empurrados para as mesas de voto quando pensam que terão mudanças concretas", afirmou Michel Cahen, que considerou "muito interessante" o momento que o país atravessa.

O historiador francês apontou ainda as negociações de paz entre o Governo e a RENAMO como um ponto importante no xadrez político moçambicano, lembrando que a primeira exigência da RENAMO sobre as províncias autónomas implicaria uma mudança radical.

"Se fossemos a levar em conta a exigência da RENAMO como ela propôs num primeiro momento, isso iria implicar que a Frelimo perdesse metade do país. A FRELIMO nunca vai aceitar isso, a não ser se for vencida militarmente", acrescentou.Para Cahen, o problema das províncias autónomas será resolvido com uma alteração constitucional, na medida em que a configuração do sistema político moçambicano tem o governador como um representante do Presidente na província.

Encontro Afonso Dhlakama (esq.) e Filipe Nyusi, em Maputo (2015)Foto: Getty Images/AFP/S. Costa

"Se não se alterar a Constituição, para se dizer que os governadores já não são representantes do Presidente, mas sim da comunidade, o problema não será resolvido. Por mais que os governadores sejam eleitos", concluiu.

Ciclicamente períodos de violência

Apesar de Governo e RENAMO terem assinado em 1992 o Acordo Geral de Paz, e um segundo acordo em 2014 para a cessação das hostilidades militares, Moçambique vive ciclicamente períodos de violência pós-eleitoral, devido à recusa do principal partido da oposição em aceitar os resultados, alegando fraude.

Em maio, o líder da RENAMO anunciou uma trégua nos confrontos com as Forças de Defesa de Moçambique (FDS) por tempo indeterminado, após contactos com o chefe de Estado moçambicano.

Subordinada ao tema "Desafios da Investigação Social e Económica em Tempos de Crise", a conferência internacional do IESE junta em Maputo professores, estudantes e pesquisadores moçambicanos e internacionais durante três dias.

 

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