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Oposição angolana ameaça não reconhecer resultados da CNE

António Cascais (Luanda)
25 de agosto de 2017

A ausência dos partidos durante o apuramento dos votos é questionada pelos partidos da oposição em Angola. Continuam as contagens paralelas para confrontar resultados divulgados pela Comissão Eleitoral.

Assembleia de voto em Luanda durante o processo de contagemFoto: Getty Images/AFP/M. Longari

Os partidos da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e Partido de Renovação Social (PRS) ameaçam não reconhecer os resultados das eleições gerais que foram divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE). Segundo a contagem oficial, que já contabilizou quase 98% das urnas, o MPLA vence com 61,7% dos votos e elege o cabeça-de-lista João Lourenço como Presidente da República.

Para o vice-presidente da CASA-CE, almirante André Mendes de Carvalho "Miau", houve violação da lei na divulgação dos dados que garantem a vitória do partido no poder.

Em conferência de imprensa na tarde desta sexta-feira (25.08), em Luanda, André Mendes de Carvalho destacou a ausência de mandatários dos partidos da oposição no processo de contagem dos votos.

Oposição angolana ameaça não reconhecer resultados da CNE

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Presença dos partidos

''Os partidos politicos têm o direito de assistir a todas as atividades de apuramento e de escrutínio a todos os níveis através de mandatários e de receber cópias das atas produzidas. Não é o que está a acontecer", afirmou o vice-presidente da CASA-CE, acrescentando que a presença dos partidos durante o escrutínio está prevista na lei angolana.

O representante da CASA-CE também lembrou a conferência de imprensa dada esta quinta-feira por sete dos 17 comissários que se mostraram estupefactos com os resultados apresentados pela porta-voz da CNE, Júlia Ferreira. "Se eles, que são membros da CNE, não viram onde esses resultados foram produzidos, onde essa contagem aconteceu – portanto denunciaram este facto. A nossa mandatária também não participou deste exercício".

Além da ausência dos partidos durante a contagem dos votos, o vice-presidente da segunda maior força da oposição também ressaltou que o apuramento dos resultados a nível nacional só pode ser feito com base nos dados provinciais. Contudo, segundo Mendes de Carvalho, os centros de escrutínio provinciais não funcionaram.

Contagens paralelas

CASA-CE, UNITA e PRS afirmam ter sistemas de apuramento paralelos. Estes escrutínios continuam a ser feitos. Depois de concluídos, os dados da oposição serão comparados com os da CNE. Entretanto os partidos dizem que os resultados que o órgão eleitoral apresentou são significativamente diferentes dos que estão a contabilizar. 

O mesmo foi defendido esta sexta-feira pelo vice-presidente da UNITA, Raúl Danda. "Precisamos que a CNE tenha coragem para dizer de onde está a tirar estes resultados. Os dados que utilizamos são os das atas, mas não se sabe quais a CNE está a verificar”, declarou.

PRS: "Não poderemos aceitar os resultados"

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Ainda de acordo com Danda, a UNITA vai continuar a contagem paralela a fim de confrontar os resultados oficiais. "Vamos utilizar tudo o que estiver ao nosso alcance do ponto de vista constitucional", assegurou.

Assim como a CASA-CE e  UNITA, o secretário nacional adjunto de Comunicação do PRS, Humilde Samahina, assegura que o partido está "insatisfeito" com o processo de contagem de votos conduzido pela CNE. Segundo Samahina, o PRS está a fazer a sua contagem paralela e, em breve, irá pronunciar-se sobre o que considera ser uma "fraude eleitoral”. O mesmo é defendido pela Aliança Patriótica Nacional (APN).

Sociedade civil rejeita vitória do MPLA

Quanto à sociedade civil, essa também se pronunciou. Muitos ativistas mostraram-se céticos quanto à honestidade por trás dos resultados oficiais. Um grupo de jovens ligados aos ativistas Luaty Beirão e Mbanza Hamza também a fazer a sua contagem paralela e promete divulgar os resultados logo que estiverem apurados.

Uma das vozes muito inconformadas é Nito Alves, membro do chamado movimento revolucionário, que fala em "simulacro de eleições”.

Nito Alves: "Não reconhecemos o Governo de João Lourenço"

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"Nós, do autodenominado movimento revolucionário, o povo em geral, não reconhecemos o Governo de João Lourenco. João Lourenço não nos representa. Não houve eleições, houve simulacro de eleições", afirma o jovem, considerando que "quem fabricou esses resultados foi a Casa Militar do Presidente José Eduardo dos Santos".

Para o jornalista e advogado William Tonet, diretor do jornal Folha 8, é inadimissível que a CNE tenha conduzido a contagem dos votos sem a presença dos membros do próprio órgão.

"Isto é um ato provocatório e uma falta de respeito pelos cidadãos. Diz-se que os resultados foram produzidos pelo próprio Presidente. São estes acontecimentos que podem levar a distúrbios e levar o país de novo para uma guerra", argumenta.

A situacão parece calma na capital, Luanda, denotando-se, aqui e acolá, um reforço da presença das forças de segurança.

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