País assumirá este ano a liderança da CPLP e quer avançar com políticas no âmbito dos negócios estrangeiros e da economia. Entretanto, o PAICV quer a concretização de "promessas" do Governo.
Publicidade
Cabo Verde assume este ano a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, afirma que o país está preparado para assumir a liderança do grupo, mas a oposição diz esperar que as promessas e os compromissos do Governo comecem a traduzir-se em ações concretas a favor da população.
"Nós vamos assumir a presidência no mês de julho, estamos a preparar todas as condições para Cabo Verde ter uma presidência marcante, que permita com que a CPLP se afirme cada vez mais, particularmente com algumas agendas que nós temos em mente", diz Correia e Silva, mencionando a XII conferência de Chefes de Estado e de Governos lusófonos, que vai ocorrer na cidade da Praia em julho.
O primeiro-ministro destaca que "a questão da livre circulação no espaço da comunidade, a agenda da promoção cultural, da criação de um mercado único de circulação de bens, da arte e da cultura são as grandes preocupações a nível dos países da comunidade".
Cabo Verde: Oposição espera "ações concretas" do Governo em 2018
Mobilidade
No passado mês de novembro, o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, propôs em Lisboa, que Portugal e Cabo Verde adotem a livre circulação de pessoas entre os dois países lusófonos alargando assim o campo da mobilidade no seio da CPLP. "Nestas coisas é bom fazer propostas ousadas e ambiciosas para podermos chegar lá através de etapas e fases de uma forma progressiva".
Naquela mesma altura, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que Cabo Verde e Portugal estão a trabalhar para alargar o campo da mobilidade no seio da CPLP.
"Aceleração dos compromissos"
Além de assumir a CPLP, neste ano de 2018 o Governo cabo-verdiano deverá avançar com a privatização de algumas empresas, incluindo os TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), e a concretização do "hub" aéreo na ilha do Sal.
A implementação de uma solução para o transporte marítimo entre ilhas é outra das apostas para este ano. Por isso, o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, afirma que "2018 vai ser o ano de aceleração de todos os nossos grandes compromissos".
Na mesma linha, Miguel Monteiro, o Secretário-Geral do Movimento para a Democracia (MpD), partido que sustenta o Governo, diz que "2018 vai ser o melhor ano desde há muito tempo para os cabo-verdianos".
Segundo Monteiro, tem-se "a garantia pela forma como o Governo está a trabalhar que efetivamente 2018 vai melhorar a condições de vida dos cabo-verdianos". "Isto é uma garantia que eu posso aqui deixar", enfatiza.
"Ações concretas"
Ao tomar conhecimento destas declarações, a líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), principal partido da oposição, Janira Hopffer, afirma que é preciso mais ação e menos conversa.
"O PAICV espera francamente que 2018 seja um ano melhor que 2017 que foi um ano difícil. É preciso que o Governo dialogue e ausculte mais, mas para nós é fundamental que em 2018 as promessas e os compromissos comecem a traduzir-se em ações concretas que propiciem a melhoria de vida dos cabo-verdianos e das cabo-verdianas", declara Hopffer.
O ano 2017 foi difícil para muitos cabo-verdianos. O país registou níveis muito baixos de chuva, o que comprometeu quase na totalidade a campanha agrícola, com os produtos a escassearem e os preços nos mercados a aumentarem.
2018 começou com o Estado a isentar de vistos de entrada no arquipélago os turistas provenientes da União Europeia e do Reino Unido. Na sexta-feira, dia 5 de janeiro, o Governo remodelado antes do Natal vai tomar posse.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.