Uma nova coligação entre dois partidos da oposição, anunciada na sexta-feira, espera derrubar o atual Presidente Paul Biya, que está em busca do seu sétimo mandato. Votação vai decorrer este domingo (07.10).
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Nos Camarões, dois partidos da oposição anunciaram na noite desta sexta-feira (05.10) uma nova coligação, num esforço para derrotar o atual Presidente Paul Biya na eleição presidencial deste domingo.
Akere Muna, líder da Frente Popular para o Desenvolvimento (FDP), disse que decidiu "retirar" sua candidatura para a votação deste domingo, a fim de beneficiar Maurice Kamto, o chefe do Movimento para a Renascença dos Camarões (MRC).
"Acredito firmemente que o futuro dos Camarões é a principal prioridade e vale cada sacrifício pessoal", escreveu Muna no Twitter.
Embora o objetivo das partes seja derrubar Biya, de 85 anos, a nova coligação não incluiu o principal opositor, Joshua Osih, candidato da Frente Patriótica Social. Tanto Osih quanto o Kamto, do MRC, são considerados favoritos.
Mas não está claro se o acordo de última hora foi feito a tempo de afetar a votação. "Essa coligação, embora interessante para a vitalidade da democracia camaronesa, pode ter chegado tarde demais", disse Hans de Marie Heungoup, pesquisador do ICG.
Denúncias de fraude
Ainda na sexta-feira, o MRC de Kamto alegou que uma "fraude maciça" estava ocorrendo nos Camarões para ajudar Paul Biya a garantir um sétimo mandato. O MRC alegou que o recenseamento eleitoral continuou, embora o prazo já tenha passado, e que os cartões de voto foram forjados.
Há anos as autoridades eleitorais de Camarões têm enfrentado acusações que apontam as suas intenções de favorecer Paul Biya nas eleições. O Presidente venceu a eleição de 2011 com 78% dos votos numa votação que foi descrita como "falha" por observadores eleitorais, assim como por políticos da oposição. Biya, que está no poder há 35 anos, enfrenta sete candidatos da oposição na votação deste domingo.
Espera-se que a segurança seja apertada para a votação, especialmente na região separatista anglófona, enquanto as autoridades camaronesas ordenaram a proibição de viagens de trem, rodoviárias e aéreas dentro do país, segundo um decreto visto pela agência de notícias France-Presse.
Além de Paul Biya, Maurice Kamto e Joshua Osih, nestas eleições presidenciais concorrem ainda Njoya Adamou Ndam, da União Democrática dos Camarões, Gargan Haman Adji, do partido Aliança para a Democracia e o Desenvolvimento, Serge Espoir Matomba, líder do partido Povo Unido para a Renovação Social, Franklin Ndofor Afanwi, do Movimento dos Cidadãos Nacionais e Cabral Libii Li Ngue Ngue pelo partido político Universo. O Presidente é eleito para um mandato de sete anos.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.