Guiné Equatorial: Oposição cercada e com medo de morrer
Lusa
6 de janeiro de 2018
Militantes da oposição na Guiné Equatorial denunciaram este sábado (06.01) que continuam confinados na sede do partido, nos arredores da capital Malabo, e cercados pelas forças de segurança oficiais.
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O líder do partido Cidadãos para a Inovação (CI), Nsé Obiang Obono, disse à agência espanhola de notícias Efe, por telefone, que está iminente a detenção das cinco dezenas de militantes confinados no edifício, entre os quais uma menor de idade, e pediu a intervenção das Nações Unidas.
"É o nono dia de assédio. Esta manhã, alguns militantes do partido tentaram trazer-nos comida e água e foram detidos pelas forças de segurança", contou. "Em resultado de uma possível visita de um representante das Nações Unidas, o regime levou os militantes do partido que deteve para prisões desconhecidas", relatou.
Opositores com medo de morrer
A agência Lusa tentou falar com Gabriel Obono, mas não conseguiu estabelecer contacto. "Se nos levarem, é a morte", alertou María Jesús Mené Bobapé, mulher de Obono, também em declarações à Efe, a partir da sede do partido, uma vivenda com muros altos localizada numa zona degradada na periferia da capital, à qual se pode aceder apenas por uma rua, agora cortada pelos militares.
De acordo com o único partido político da oposição com representação parlamentar na Guiné Equatorial, as Nações Unidas deverão enviar um representante ao país, na próxima semana - esta informação não foi ainda confirmada por fontes da organização.
Os CI pediram às Nações Unidas que, quando visitem o país, intervenham para acabar com o que consideram ser uma repressão política.
A Guiné Equatorial é governada por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo desde 1979, entre reiteradas acusações de violação dos direitos humanos e de perseguição a políticos da oposição.
A tensão aumentou no país, membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em finais de dezembro, a seguir a um suposto golpe de Estado, denunciado e alegadamente impedido pelo governo.
Segundo um comunicado a que a Efe teve acesso, o ministro de Estado da Segurança Nacional, Nicolás Obama Nchama, disse que, a 24 de dezembro, um grupo de mercenários de Chade, Sudão e República Centro-Africana entrou nas localidades de Kie Osi, Ebebiyin, Mongomo, Bata e Malabo, a capital, para supostamente atacar o Presidente Obiang.
Obiang fala em "tentativa de golpe”
O Governo acusou a "oposição radical" de ser responsável pela suposta tentativa de golpe, tanto a partir de dentro como de fora do país. "Estamos a ser vítimas, querem justificar que somos golpistas, quando, na realidade, é uma operação de limpeza do partido", denuncia o líder de CI.
"É uma vingança pessoal. Ele [Obiang] sabe isso perfeitamente. É um ajuste de contas, não fizemos nada. Querem eliminar o partido Cidadãos pela Inovação recorrendo a uma mentira", frisa Obono.
Nas legislativas de novembro, a oposição conseguiu um lugar na Câmara dos Deputados, elegendo Jesús Motogo Oyono. Os restantes 99 lugares parlamentares continuam nas mãos do Partido Democrático da Guiné Equatorial, de Teodoro Obiang Nguema.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.