Na província de Inhambane, sul de Moçambique, a oposição acusa o governador Daniel Chapo de usar meios do Estado para fazer já campanha pela FRELIMO. É uma ação que, lembra o CIP, é punível com sanções.
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Joel Jeremias, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em Inhambane, afirma que o governador Daniel Chapo tem andado de distrito em distrito a fazer propaganda à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder).
"Assistimos àquilo que faz ultimamente - circular em todos distritos [em missão do governo], dizendo que é a FRELIMO que faz isso e aquilo, e isso nós condenamos", diz Jeremias em entrevista à DW África.
Chapo é o atual governador da província de Inhambane e foi eleito como candidato da FRELIMO ao cargo nas eleições de 15 de outubro.
Recentemente, o político terá reunido com funcionários públicos e usado viaturas do Estado em atos de pré-campanha, em contravenção à lei, segundo várias denúncias. Nas redes sociais, circulam imagens em que Chapo aparece em cima de uma viatura tapada com um pano, alegadamente para não ser identificada.
Uso de meios estatais é "comum"
De acordo com Joel Jeremias, do MDM, este tipo de atuação não é novidade: "O uso de meios do Estado por parte do partido no poder é comum", afirma.
Mamud Beny Agy, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), apela, no entanto, a todos os partidos que, durante a campanha eleitoral, usem unicamente os seus meios.
Oposição condena uso de meios do Estado para pré-campanha
"É preciso que os dirigentes, os candidatos dos partidos políticos e outras organizações, quando as atividades são de natureza política, usem os meios dos seus partidos, porque é esta falta de separação de poderes que nos traz conflitos", diz Agy.
Na semana passada, num encontro com jornalistas, o governador Daniel Chapo recusou falar diretamente sobre o uso de meios do Estado em campanhas eleitorais. Apelou, no entanto, aos jornalistas para estarem atentos: "Há aspetos que são correntes, que fazem parte da campanha… Mas durante a campanha eleitoral também vão acontecendo alguns aspetos que não são correntes", disse apenas.
A DW África tentou obter uma reação da FRELIMO sobre o tema, sem sucesso.
Sheila Guimarães, pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique, adverte, porém, que "a lei prevê sanções para quem usar bens do Estado" para fins partidários.
Custo de vida aumenta em Inhambane
Em Moçambique, a crise económica afetou a vida de comerciantes e clientes, que reclamam dos altos preços. Saiba como os moçambicanos na província de Inhambane, no sul do país, sobrevivem apesar da crise.
Foto: DW/L. da Conceição
"Estamos cansados"
Os moçambicanos e, em particular, os residentes da província de Inhambane, estão ansiosos para ver o fim da crise financeira que o país atravessa, também relacionada com a desvalorização do metical, a moeda local. Manuel Santos, um vendedor de chinelos femininos nas ruas da cidade de Maxixe, conta-nos que está cansado de passar horas a trabalhar debaixo do sol, exposto a vários perigos.
Foto: DW/L. da Conceição
Buscar sustento para a família
António Macicame, residente de Inhambane, fabrica cestos de palha para conseguir algum dinheiro que o permita sustentar a sua família. São ao todo cinco pessoas. Ele diz que não tem sido fácil conseguir vender os seus cestos e por isso circula nas ruas e avenidas para conquistar os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
Onde estão os clientes dos supermercados?
Os clientes desapareceram das lojas e supermercados nestes últimos anos devido ao elevado custo de vida. As compras diminuíram consideralvemente e os supermercados são apenas frequentados pelas famílias quando fazem compras para cerimónias especiais. Muitos preferem comprar nas ruas.
Foto: DW/L. da Conceição
Roupas em segunda mão
Em várias partes da cidade, nos passeios e nas calçadas, há roupas em segunda mão à venda. Por causa do aumento dos preços das roupas importadas da Europa e Ásia, os habitantes de Inhambane passaram a frequentar menos as boutiques modernas, comprando mais roupas usadas. Uma peça usada pode ser vendida por menos de um euro. Já nas boutiques, o preço mínimo é de 10 euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Menos pão na mesa
Também várias padarias estão vazias e sem clientes nos balcões. Muitas famílias têm optado por consumir produtos mais frescos e nutritivos, como a mandioca e a batata doce, substituindo o pão na mesa, por estar cada vez mais caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Os vários preços do frango
O frango ainda é o prato preferido de muitas pessoas na província de Inhambane, mas os preços variam. O preço mínimo é de cerca de 280 meticais e nas zonas rurais chega a custar 400 meticais, ainda vivo. Preparado nos restaurantes, um prato de frango custa no mínimo 500 meticais. Jovens e senhoras viram uma oportunidade de negócio em vender frangos vivos para terceiros nas ruas e quintais.
Foto: DW/L. da Conceição
Compra-se menos
Devido à crise, compra-se menos produtos de primeira necessidade nas várias comunidades circunvizinhas às cidades. Antes, as viaturas que partiam voltavam cheias, mas atualmente poucos comerciantes vão até às cidades para fazer grandes compras.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise na hotelaria e turismo
A hotelaria e o turismo têm sido fundamentais para o desenvolvimento. O Governo moçambicano afirma que houve melhoras nos últimos dois anos. Mas, na realidade, o cenário que se nota é de um fraco número de clientes. Há hotéis que não recebem mais de dez hóspedes no período de um mês - mesmo oferecendo preços promocionais. Por isso, acabam por demitir muitos dos seus trabalhadores.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise nos transportes
Muitas pessoas já não viajam com regularidade. Hoje, delega-se alguém de confiança até mesmo para se receber os salários nos distritos onde não há bancos. O objetivo é poupar o dinheiro dos transportes. Os transportadores, por sua vez, dizem que as suas receitas diárias baixaram em 50%.
Foto: DW/L. da Conceição
Salões de beleza vazios
Salões de beleza tem sido caraterizados pelo fraco movimento de clientes. O aumento do custo de vida - e também dos preços de produtos de beleza - afetou a vida de muitas mulheres. Elas poupam dinheiro para comprar produtos da primeira necessidade e já não frequentam salões de beleza como antes. Para essas mulheres o dilema é: comer ou viver de beleza?
Foto: DW/L. da Conceição
"Não é tempo de cruzar os braços"
Cecília Jasse vende bolinhos e pão, juntamente com outras senhoras no mercado central na cidade de Maxixe. Enquanto o seu marido é trabalhador sazonal numa empresa, ela compra pão numa das padarias locais para revender. Acorda de madrugada para fritar bolinhos e diz que não quer ficar em casa à espera do marido. Para ela, "não é tempo de cruzar os braços".