Anúncio ocorre um dia depois da morte de seis pessoas em confrontos entre as forças de segurança e manifestantes. Opositores protestam contra mudanças constitucionais que podem garantir um terceiro mandato a Alpha Condé.
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A oposição de Guiné-Conacri convocou esta terça-feira (15.10) uma nova série de manifestações contra o Governo, um dia depois de pelo menos cinco manifestantes e um agente da polícia terem morrido em confrontos entre as forças de segurança e opositores na capital Conacri.
Os manifestantes protestaram na segunda-feira (15.10) contra um possível terceiro mandato do Presidente Alpha Condé. Segundo uma fonte hospitalar, cinco jovens manifestantes foram mortos a tiro pela polícia na capital. O Governo informou que um polícia foi morto também a tiro na cidade de Mamou, a leste de Conacri.
A tensão cresceu após o apelo à manifestação lançado pela Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC), que reúne os partidos da oposição, os sindicatos e elementos da sociedade civil que se opõem a uma revisão da Constituição, defendida pelo Governo.
O FNDC apelou ao público para continuar a protestar "até que o esquema para um terceiro mandato seja completamente abandonado e o disfarce eleitoral seja interrompido".
Esta revisão vai permitir que Alpha Condé, de 81 anos, apresente-se para um terceiro mandato no final de 2020. A atual lei fundamental limita essa possibilidade a dois mandatos.
Protestos violentos
Em quase todas as regiões periféricas de Conacri, manifestantes montaram barricadas, queimaram pneus e lançaram pedras. Centenas de polícias destacados para a capital responderam com granadas, gás lacrimogéneo e balas reais. "É preciso impedir as reuniões, nenhuma multidão é autorizada", gritava um dos oficiais que dirigia a operação em Cosa, um reduto da oposição onde foram ouvidos sons de disparos.
"Podemos ter 90 anos e fazer muito pela juventude"
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As lojas do centro da cidade foram fechadas devido à violência e edifícios oficiais no bairro administrativo de Kaloum, como a sede da Presidência, ministérios e embaixadas, foram colocados sob proteção.
"Eu estou aqui em frente à minha loja para a proteger de eventuais pilhagens, seja da parte das forças da ordem, de bandos descontrolados ou jovens bandidos", disse o comerciante Alphadio Barry, no mercado de Koloma.
Os confrontos seguidos de detenções de opositores foram reportados nos bairros de Cimenterie, Dar Es Salam e Wanindara, onde dois jovens foram feridos por balas.
"Consultas"
Alpha Condé é uma antiga figura da oposição que, em 2010, tornou-se o primeiro Presidente eleito democraticamente do país, mas o seu mandato foi marcado por forte repressão a protestos. Segundo a oposição, cerca de 100 pessoas foram mortas em atos de repressão desde que Condé chegou ao poder em 2010.
Em setembro, o Presidente pediu ao Governo que realizasse "consultas" sobre possíveis mudanças na Constituição, um processo fortemente criticado pela oposição.
Condé declarou que os cidadãos deveriam preparar-se para um referendo e eleições, provocando especulações de que planeia eliminar o limite presidencial de dois mandatos e participar das eleições previstas para o final de 2020.
Na sexta-feira passada (11.10.), os 53 membros da oposição no Parlamento retiraram-se do local em protesto contra o que chamaram de medidas do Governo para "criar uma nova Constituição para permanecer no poder".
O tesouro da Guiné-Conacri: As minas de bauxite
Com as maiores reservas de bauxite do mundo, a Guiné-Conacri continua sem indústria para transformá-la em alumínio. E enquanto a sua exportação enche os cofres do Estado, a maioria da população vive no limiar da pobreza.
Foto: DW/Bob Barry
Uma riqueza explosiva
As explosões acontecem diariamente nas minas de Débélé. Os trabalhadores dinamitam a pedreira por causa da bauxite, a principal matéria-prima para a produção de alumínio. A Guiné-Conacri tem os maiores jazidos de bauxite do mundo.
Foto: DW/Bob Barry
Extração de acordo com métodos tradicionais
Quando o fumo se dissipa, a bauxite é transportada. O procedimento é o mesmo há décadas: as escavadoras carregam os camiões, que transportam as rochas para a fábrica ali perto. É lá que as pedras são esmagadas. Um processo árduo e demorado.
Foto: DW/Bob Barry
Máquinas em vez de trabalhadores
No entanto, existe uma maneira mais fácil: nas minas a céu aberto, as escavadoras realizam várias operações ao mesmo tempo. Recolhem pedras do chão, esmagam-nas e carregam-nas para um camião. Uma escavadora substitui 300 trabalhadores, criticam os sindicatos.
Foto: DW/Bob Barry
Especialistas em tecnologia
As escavadoras foram compradas pelo grupo de mineração russo Rusal a uma empresa alemã. Quando as máquinas por vezes se avariam, o engenheiro-chefe é chamado. Ele e a sua equipa receberam formação na Alemanha para reparar estas escavadoras especiais.
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Região rica em recursos naturais
As minas a céu aberto estão localizadas em Débélé, na região de Kindia. A bauxite é extraída aqui, no oeste do país, desde 1972. As pessoas vivem com e das minas.
Foto: DW/Bob Barry
Nas mãos dos russos
Os russos já estão no país há mais de 20 anos. Atualmente, o grupo Rusal, de Moscovo, explora as minas de Débélé. Trabalham aqui cerca de 1.200 pessoas. A maioria vive na cidade de Kindia, que fica a cerca de 50 quilómetros de distância.
Foto: DW/Bob Barry
Um pequeno país com grandes reservas
As reservas de bauxite da Guiné-Conacri estão estimadas em dez mil milhões de toneladas. Nenhum país no mundo é tão rico nesta matéria-prima como este pequeno país do oeste africano. O país exporta grandes quantidades de bauxite, enchendo, desta forma, os cofres do Estado.
Foto: DW/Bob Barry
A população continua pobre
Ainda assim, a maioria da população vive com menos de um dólar por dia. Os lucros provenientes do produto final, o alumínio, ficam no estrangeiro. Devido à corrupção, a instabilidade política e a falta de energia elétrica, a Guiné-Conacri nunca conseguiu construir a sua própria indústria, que transforma a matéria-prima bauxite em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
País de destino: Ucrânia
No final do dia, nas minas de Débélé, a bauxite está pronta para exportação. Aqui em Débélé, a Rusal extrai cerca de 3,5 milhões de toneladas da matéria-prima por ano da preciosa terra. A bauxite é depois processada, principalmente na Ucrânia. Aí, numa operação que consome muita energia elétrica, a matéria-prima é transformada em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
Dependentes do mercado mundial
A bauxite é transportada de comboio para o porto de Conacri, de onde sairá de navio. De cinco toneladas de bauxite obtém-se aproximadamente uma tonelada de alumínio, que no mercado mundial vale cerca de 2.000 dólares.