Oposição "cética" em relação a consensos com a FRELIMO
Lusa | tms
25 de janeiro de 2020
A RENAMO e o MDM manifestam-se céticos quanto à anunciada aposta da FRELIMO de procurar consensos no Parlamento. Bancadas prometem lutar contra a "ditadura" do partido no poder e pela paz.
Publicidade
Os partidos da oposição em Moçambique mostram-se "céticos" em relação a consesos com o partido no poder no Parlamento. Em entrevista à agência de notícias Lusa, o chefe da bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na Assembleia da República manifestou dúvidas em relação à "sinceridade" do compromisso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) com o consenso.
"Somos um pouco céticos e temos razão para tal", declarou Viana Magalhães, enumerando casos de alegadas promessas não cumpridas pela FRELIMO.
Viana Magalhães reagia às declarações do Presidente da República e líder da FRELIMO, Filipe Nyusi, que exortou a bancada parlamentar do seu partido a privilegiar o consenso, principalmente em matérias estruturantes da vida do país, durante o discurso de tomada de posse dos deputados, no dia 13 de janeiro, após as eleições gerais de 15 de outubro passado.
"No primeiro mandato dele [Filipe Nyusi], afirmou, de viva voz, que as boas ideias não tinham cores partidárias, não tinham cores políticas, mas, de facto, assistimos, ao longo do primeiro mandato a tantos projetos que a oposição submeteu, mas que foram reprovados", declarou Magalhães.
A conduta política da FRELIMO, prosseguiu, tem sido caraterizada pelo contrassenso, porque defende a inclusão, mas pratica a exclusão. "O consenso, de facto, devia ser a regra, e o dissenso, a exceção, para dar estabilidade ao país, mas a Frelimo habituou-nos ao contrassenso", defendeu o chefe da bancada parlamentar da RENAMO.
"Ditadura da FRELIMO"
Viana Magalhães afirmou que "ao assumirmos os nossos assentos, fizemo-lo com a convicção de que é uma forma que temos de frear esta ditadura, que tem uma maioria forçada".
Se a RENAMO não ocupasse os assentos no Parlamento, em protesto contra "o roubo" nas eleições, a FRELIMO teria livre trânsito para perpetuar "os desmandos" na governação do país, considerou o líder parlamentar.
Questionado sobre como é que a sua bancada pode influenciar as posições de uma bancada com maioria qualificada, Viana Magalhães afirmou que "a RENAMO será uma voz de denúncia ativa", para dentro e fora do país, da "tirania da Frelimo".
MDM vai lutar pela paz e direitos humanos
Por seu turno, o chefe da bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, também se mostrou pessimista em relação ao compromisso da FRELIMO com o consenso, assinalando que o partido ainda não está preparado para aceitar cedências.
"Eu penso que o apelo do chefe de Estado no sentido de posições consensuais no Parlamento é muito mais para a sua bancada parlamentar, porque tem mostrado dificuldades em aceitar o consenso", declarou Lutero Simango, em entrevista à Lusa.
Em relação ao seu trabalho na Assembleia da República, o líder parlamentar do MDM avançou que encara a pacificação efetiva do país e a defesa dos direitos e liberdades dos moçambicanos como prioridades para o novo mandato.
"Que [a Assembleia da República] seja um centro de debate de ideias, de debate de políticas, para que o país possa resgatar a paz efetiva, porque os moçambicanos, como todos sabemos, almejam paz", disse à Lusa o chefe da bancada do MDM, Lutero Simango, na primeira entrevista após a tomada de posse do Parlamento.
Simango adiantou ainda que a bancada do seu partido vai defender o diálogo para acabar com a violência armada, principalmente, no centro do país, porque no norte não são conhecidos os autores nem as motivações dos grupos armados que atuam na região - faltam, por isso, interlocutores.
A FRELIMO controla 184 dos 250 assentos no Parlamento, seguida de longe pela RENAMO, com 60 deputados, e pelo MDM, com seis.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.