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Chade: Oposição denuncia "golpe de Estado institucional"

Lusa
21 de abril de 2021

A notícia da morte em combate do Presidente chadiano foi seguida pela indicação imediata de que o filho de Idriss Déby, Mahamat, vai assumir o poder no país. Os partidos da oposição denunciam um "golpe de Estado".

Tschad | Wahlkampf Saleh Kebzabo
Entre os signatários da tomada de posição está o partido de Saleh Kebzabo, adversário "histórico" de Idriss DébyFoto: Alexis Passoua

Os partidos da oposição do Chade denunciaram esta quarta-feira (21.04) a existência de "um golpe de Estado institucional" em curso no país, como demonstra a tomada do poder pelo filho de Idriss Déby Itno, Mahamat, após a morte do pai. 

Cerca de 30 "partidos políticos da oposição democrática apelam ao estabelecimento de uma transição liderada por civis (...), através de um diálogo inclusivo", afirmam as forças políticas chadianas numa declaração. 

Mahamat Idriss Déby, à frente de um Conselho Militar de Transição (CMT), exerce a função de "presidente da república" e concentra quase todos os poderes, apontam os partidos da oposição.

A oposição "apela à população chadiana a não obedecer às decisões ilegais, ilegítimas e irregulares tomadas pelo Conselho Militar de Transição, em particular a carta de transição, o recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras", que entretanto acabam de ser abertas.

Entre os signatários da tomada de posição estão o partido de Saleh Kebzabo, adversário "histórico" de Idriss Déby, e a formação de Succès Masra, um dos mais ferozes críticos do regime do antigo presidente.

Succès Masra, um dos mais ferozes críticos do regime do antigo presidenteFoto: Blaise Dariustone/DW

Os partidos "avisaram" também a França, a antiga potência colonial do Chade, que apoiou sempre o antigo chefe de Estado, desde a sua tomada do poder através de um golpe militar em 1990, "para não interferir nos assuntos internos do Chade".

Finalmente, as forças políticas da oposição no Chade apelam à comunidade internacional para "apoiar o povo chadiano na restauração do Estado de direito e da democracia".

A notícia da morte em combate do Presidente chadiano, anunciada pelo porta-voz do Exército do país, foi seguida pela indicação imediata de que o filho de Idriss Déby Itno, Mahamat, um jovem general com 37 anos e chefe da guarda presidencial até agora, irá liderar um conselho militar que assume o poder no país. 

Rebeldes ameaçam depor Mahamat

Também esta quarta-feira, os rebeldes ameaçaram depor Mahamat Idriss Déby, depois de este ter assumido a liderança do país para o período de transição, até às próximas eleições. 

Desta forma, os rebeldes levantaram o espetro de uma luta de poder potencialmente violenta, segundo a agência de notícias britânica Associated Press.  

Hoje, a incerteza é grande sobre quão longe estão os rebeldes de N'Djamena, a capital do país, uma cidade de um milhão de pessoas, e se os militares permaneceriam leais a Mahamat Idriss Déby, no rescaldo da morte do seu pai, após três décadas no poder.

O grupo rebelde que os militares culparam pela morte do Presidente, Idriss Déby Itno, disse, na terça-feira, que as suas forças estavam "a dirigir-se para N'Djamena neste preciso momento".

Mahamat Idriss Déby assume a liderança do país para o período de transição, até às próximas eleiçõesFoto: Marco Longari/AFP/Getty Images

O "Chade não é uma monarquia", disse, em comunicado, o grupo conhecido como Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade. Por isso, "não pode haver uma sucessão dinástica de poder no país".

A afirmação do grupo de que estava a avançar em direção à capital não pôde, no entanto, ser confirmada por fontes independentes, mas gerou imediatamente o pânico em N'Djamena, cidade que outro grupo rebelde atacou em 2008.

Responsáveis do Conselho Militar de Transição, liderado pelo filho de Idriss Déby Itno, disseram que a luta ainda não tinha terminado pelo controlo do país.

"A situação de segurança permanece muito grave dada a persistência e magnitude da ameaça terrorista", afirmou o vice-presidente do Conselho, Djimadoum Tiraina, acrescentando que os militares devem agora "evitar que o país se afunde no caos e na anarquia".

França "perde um amigo corajoso"

A Presidência francesa apelou a que seja levada a cabo uma transição política pacífica no Chade e manifestou o seu "firme empenho" na estabilidade e integridade territorial daquele país da região do Sahel, lamentando a morte do Presidente chadiano, que recordou como "um amigo corajoso".

O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, estará presente no funeral de Idriss DébyFoto: Guillaume Horcajuelo/REUTERS

Numa mensagem de condolências pela morte na frente de batalha de Idriss Déby Itno, o Eliseu sublinhou a importância de que "a transição se desenrole em condições pacíficas, num espírito de diálogo com todos os atores políticos e da sociedade civil", tendo em vista obter "um governo inclusivo que se apoie em instituições civis". 

 A França "perde um amigo corajoso" com a morte do Presidente chadiano, disse a Presidência francesa no comunicado, exprimindo o seu "firme empenho na estabilidade e integridade territorial do Chade".

O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, anunciou que estará presente no funeral de Idriss Déby na próxima sexta-feira, (23.04).

 "O Presidente da República prestou-lhe homenagem esta manhã no Conselho de Ministros, irá ao seu funeral no final da semana", disse ao início da tarde de hoje porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, numa conferência de imprensa, afirmando ainda que Paris saúda "um homem de coragem, um homem apaixonado pelo seu país".

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