Oposição pede transparência nas eleições de 2018 no Zimbabué
Columbus Mavhunga (Harare)
23 de março de 2017
Os partidos da oposição organizaram, esta quarta-feira (23.03), uma manifestação na capital do Zimbabué para pedir que a Comissão Eleitoral do país seja substituída por organismos internacionais.
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Os partidos da oposição do Zimbabué saíram às ruas da capital Harare, esta quarta-feira (22.03), para pedir que a Comissão Eleitoral do país seja substituída por organismos internacionais, com o objetivo de garantir transparência nas eleições de 2018. Segundo os manifestantes, a Comissão Eleitoral do Zimbabué é dominada por membros do Governo e pela União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF), partido do Presidente Robert Mugabe.
Manifestação negada
Durante os protestos, os manifestantes provocaram a polícia enquanto caminhavam em direção à sede da Comissão Eleitoral. Os agentes de segurança já lhes haviam negado o direito de realizar a manifestação.
Presente no protesto esteve Douglas Mwonzora, secretário-geral do Movimento para a Mudança Democrática, principal partido da oposição. Aos jornalistas, e após apresentar uma petição nacional à Comissão Eleitoral – a que chama ZEC – o responsável afirmou que o objetivo da manifestação é que "a ZEC seja dissolvida e substituída por um órgão de gestão eleitoral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, da União Africana ou da ONU".
Anteriormente, o ex-primeiro-ministro Morgan Tsvangirai já havia dito que não queria que as próximas eleições do Zimbabué fossem disputadas como aconteceu no passado.
Todos pareciam estar no caminho certo até a presidente da Comissão Eleitoral, Rita Makarau, se reportar aos partidos de oposição do Zimbabué. A sua declaração surge no seguimento da publicação de um artigo na imprensa que criticava a Comissão Eleitoral por ter permitido ao governo do presidente Robert Mugabe comprar equipamentos de Registo Biométrico de Eleitores para as eleições de 2018 no Zimbabué.
23.03.17 - Protestos contra comissão eleitoral no Zimbabué - MP3-Mono
"Aceitamos a crítica justa, sim. A crítica equilibrada e justa sempre a receberemos. Abuso... dizemos não a todos: partidos políticos ou qualquer parte interessada. E porque estamos a começar a sentir que as nossas decisões foram mal compreendidas, acreditamos que é hora da Comissão Eleitoral se reunir novamente e ver como nos podemos envolver com os demais interessados", afirmou Rita Makarau.
A oposição acredita que isto poderia dar ao partido de Mugabe uma oportunidade de influenciar listas eleitorais a seu favor, e que a medida compromete a independência da Comissão Eleitoral.
Após a manifestação desta quarta-feira, a oposição deve esperar uma resposta da Comissão Eleitoral do Zimbabué. Em 2002, a União Europeia impôs sanções a Mugabe e aos membros do seu partido ZANU-PF, acusando-os de fraudes eleitorais.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.