Oposição queniana leva resultados das eleições a tribunal
Lusa | AP | DPA
16 de agosto de 2017
Oposição promete levar ao Supremo Tribunal os resultados das eleições presidenciais e lançar uma campanha de "desobediência civil". Líder da oposição diz que quenianos não irão compactuar com o "massacre da democracia".
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A oposição no Quénia anunciou esta quarta-feira (16.08) que irá contestar, no Supremo Tribunal, os resultados das eleições presidenciais de 8 de agosto e que irá lançar uma campanha de "desobediência civil". Trata-se de um recuo em relação a declarações anteriores da oposição, que anunciou na semana passada que não contestaria o resultado na Justiça.
"Não vamos aceitar e seguir em frente", disse o líder da oposição, Raila Odinga. "Vamos realizar vigílias, momentos de silêncio, bater nos tambores e fazer tudo para chamar a atenção para estas graves injustiças eleitorais", defendeu.
Odinga acrescentou que os quenianos não irão compactuar de livre vontade com o "massacre da democracia".
O líder da oposição alega que os resultados da eleição foram manipulados para favorecer o Presidente Uhuru Kenyatta. Kenyatta foi reeleito com 54,27% dos votos para um segundo mandato de cinco anos. Odinga obteve 44,74% dos votos.
Comissão Eleitoral
A Comissão Eleitoral do país confirmou uma tentativa de ataque informático, mas defende que ela não foi bem sucedida. Observadores eleitorais declararam que não houve sinais de interferência no voto.
Mas, na terça-feira (15.08), a Comissão declarou que ainda não era capaz de fornecer todos os formulários usados para determinar o resultado das eleições, o que levantou dúvidas sobre como o órgão chegou à contagem anunciada na sexta-feira passada.
A missão de observadores da União Europeia pediu às autoridades do Quénia que publiquem, prontamente, todos os resultados online.
Mudança de tom
O líder da oposição, Raila Odinga, disse que uma ação do Governo contra grupos da sociedade civil, depois da eleição, ajudou na decisão de contestar o pleito.
"Dissemos que não iríamos à Justiça, mas com a operação contra a sociedade civil e determinação de silenciar todas as vozes que poderiam buscar compensação legal, como a AFRICOG [Africa Centre for
Open Governance] e a Comissão de Direitos Humanos do Quénia, decidimos levar o caso para o Supremo Tribunal", afirmou Odinga.
As duas organizações, que monitoraram as eleições e indicaram anomalias no processo, foram acusadas de terem problemas com o fisco e de uma delas não ter registo.
O ministro do Interior do país, Fred Matiangi, afirmou, esta quarta-feira (16.08), que será formado um comité para examinar as acusações, mas ordenou que nenhuma ação seja feita contra os grupos nos próximos três meses. A declaração do ministro seguiu-se ao anúncio do Conselho Nacional do Governo responsável pelas Organizações Não-Governamentais de que tinha cancelado o registo da Comissão de Direitos Humanos do Quénia e pedido a prisão dos diretores da AFRICOG.
O receio é de que as declarações de Odinga possam dar início a uma nova onda de violência, dias depois de protestos na capital, Nairobi, e em outros lugares do país. Nas manifestações morreram, pelo menos, 24 pessoas, atingidas por disparos da polícia, segundo uma organização de defesa dos direitos humanos. Há dez anos, a violência pós-eleitoral deixou mais de mil mortos no Quénia.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.