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PolíticaQuénia

Oposição queniana suspende protestos contra o Governo

DW (Deutsche Welle) | cm | AFP | Reuters
3 de abril de 2023

Depois de duas semanas de protestos anti-Governo no Quénia, o líder da oposição Raila Odinga cancelou as manifestações e disse estar pronto para o diálogo com o Executivo, após apelo feito pelo Presidente William Ruto.

Kenia | Ausschreitungen und Proteste in Nairobi und Kisumi
Foto: John Muchucha/REUTERS

No domingo (02.04), William Ruto pediu a Raila Odinga que cancelasse os protestos, que resultaram em três mortos e mais de 400 feridos, incluindo pelo menos 60 polícias. Empresas e propriedades foram saqueadas desde que os protestos anti-Governo eclodiram a 20 de março, alarmando os países vizinhos.

O líder da oposição diz ter interpretado o apelo do chefe de Estado como um ramo de oliveira e um "desenvolvimento positivo". Por isso, depois de o chefe de Estado ter sugerido a criação de uma comissão parlamentar bipartidária para abordar questões relacionadas com o processo eleitoral - uma das principais exigências da oposição -, Odinga decidiu cancelar o protesto que estava previsto para esta segunda-feira (03.04).

Mas o veterano da oposição, de 78 anos, já avisou que se não houver "nenhum compromisso ou resposta significativa" de William Ruto, os protestos podem recomeçar dentro de uma semana.

Odinga tem sido o rosto à frente dos protestos contra o elevado custo de vida e contra o Governo, que considera ilegítimo. O ex-primeiro-ministro tem convocado protestos semanais todas as segundas e quintas-feiras e alega que a eleição de Ruto em agosto passado foi uma fraude.

Antigo primeiro-ministro Raila Odinga tem apelado a manifestações todas as segundas e quintas-feiras Foto: Thomas Mukoya/REUTERS

Aumento do custo de vida

Durante duas semanas consecutivas, multidões saíram às ruas do Quénia, paralisando várias cidades, incluindo a capital, Nairobi. Na última semana, foram fechadas lojas e os serviços de transporte interrompidos.

Os protestos, declarados ilegais pelo Governo, tornam-se cada vez mais violentos, com disparos da polícia, gás lacrimogéneo e canhões de água. Ainda assim, muitos sentem que protestar é a única maneira de fazer com que as suas vozes sejam ouvidas.

Os tempos são difíceis. Para muitos pequenos comerciantes, o negócio tornou-se insustentável. "As mercadorias que vendo são demasiado caras no mercado, mal consigo obter lucro. Estamos constantemente a ser assediados pela polícia municipal. O Presidente deve fazer baixar o custo de vida", defende Caroline Wekesa.

A maioria dos manifestantes são jovens na faixa dos 20 e 30 anos e grande parte vive precariamente. sem um emprego regular.

Durante uma visita à Europa na semana passada, o Presidente do Quénia, William Ruto, minimizou os protestos da oposiçãoFoto: DW

As promessas do Presidente

O Presidente William Ruto prometeu melhorar a vida dos quenianos, mas na prática há poucos sinais nesse sentido. Na alimentação, eletricidade e combustível, os preços só aumentaram.

De acordo com o Banco Mundial, a inflação no Quénia subiu em fevereiro para 9,2%, comparativamente ao período homólogo de 2022; impulsionada principalmente pelos preços dos alimentos e dos transportes.

Perante a onda de protestos, líderes religiosos e a sociedade civil apelam à calma. Temem que a situação possa redundar numa espiral de violência étnica descontrolada.

Irungu Houghton, diretor executivo da Amnistia Internacional no Quénia, também está preocupado: "Luos perderam os seus negócios, Núbios perderam os seus negócios, Kisiis foram atacados, Kikuyus também perderam tudo e todo o povo sofreu. A pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: como iremos deixar-nos manipular por políticos e por criminosos?"

A comunidade internacional, embaixadas estrangeiras e a União Africana (UA) também insistem no diálogo para pôr fim ao caos.

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