Oposição quer respostas do Governo sobre o regresso da Total
Lusa | ms
20 de abril de 2022
Os partidos da oposição com assento parlamentar em Moçambique vão questionar hoje o Governo sobre o regresso da multinacional francesa Totalenergies ao norte do país e a "violação dos direitos fundamentais dos cidadãos".
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A bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o segundo maior partido da oposição, pretende obter respostas detalhadas sobre as iniciativas do Governo para o retorno da multinacional francesa Totalenergies, além do memorando de entendimento que prevê a formação de 2.500 jovens com o apoio da empresa.
A Totalenergies suspendeu em março de 2021 o projeto de produção de gás natural de 20 mil milhões de euros em Palma, norte de Moçambique, após um ataque armado à vila, à volta da qual se começou a construir uma nova cidade e complexo industrial para explorar as reservas de gás do Rovuma - classificadas entre as maiores do mundo.
Depois do ataque, Moçambique aceitou receber tropas estrangeiras do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), numa ação que tem sido aclamada pelo presidente executivo da Totalenergies, Patrick Pouyann.
"Só voltaremos quando estivermos convencidos"
No final de janeiro, em Maputo, após um encontro com o Presdente moçambicano, Filipe Nyusi, Pouyanné disse que queria retomar o projeto. Pouco depois, em fevereiro, disse que a empresa só retomará as operações no norte de Moçambique quando as populações estiverem seguras e houver garantias de que não terão de sair novamente.
Instituto Agrário de Bilibiza segue em frente após ataque
03:29
"Não decidimos de todo abandonar o projeto, mas só voltaremos quando estivermos convencidos de que basicamente podemos voltar, mas não para sair depois de seis meses, porque aí é o fim da questão", alertou o presidente executivo em Paris.
Citado pela agência France-Presse (AFP), Patrick Pouyanné sublinhou que a empresa está disposta a "esperar o tempo que for preciso", mas acrescentou: "Só iremos quando considerarmos que há condições de segurança, não só do local, mas também da população, e que a estabilidade e a paz duradoura regressaram a Cabo Delgado".
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Violação dos direitos dos cidadãos
Durante a sessão de perguntas ao executivo na Assembleia da República, a bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) pretende conhecer o nível de responsabilização "dos que promovem, em nome do Estado, a violação dos direitos fundamentais dos cidadãos".
O principal partido da oposição refere-se à repressão policial de "manifestações, liberdade de expressão e de imprensa, do direito à vida e outros, que se têm registado com grande incidência nos últimos anos".
Já a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder e com maioria parlamentar, quer saber do executivo que ações estão em curso para melhorar a qualidade dos serviços de transporte rodoviário e ferroviário, sobretudo nos grandes centros urbanos.
A sessão de perguntas ao Governo prossegue na quinta-feira (21.04).
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.