São Tomé: Oposição denuncia abusos no Banco Central do país
Lusa | tms
24 de agosto de 2018
Em São Tomé, a oposição acusa a administração do banco central de "atos de corrupção" e "utilização abusiva de bens públicos". Um pedido de inquérito criminal deverá ser entregue ao Ministério Público.
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A posição foi defendida esta sexta-feira (24.08) pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD). Por meio de um comunicado, o partido acusa membros do conselho de administração e alguns diretores de distribuírem entre si "avultadas somas que rondam mais de 150 mil euros".
No mesmo comunicado, o secretário-geral do partido, Arlindo Barbosa, refere que o governador do Banco Central de São Tomé e Príncipe (BCSTP), Hélio Almeida, a vice-governadora, Massari Sousa Pontes e o diretor dos recursos humanos, Raul Cravid, de serem os maiores beneficiários desta "operação".
De acordo com a oposição, o governador do banco central "recebeu indevidamente" o equivalente a cerca de 16 mil euros, a vice-governadora 14,5 mil euros, e o diretor dos recursos humanos mais de 18 mil euros. Os restantes 15 mil euros, segundo o partido, foram distribuídos pelos "demais administradores".
Para a oposição, tratou-se de "uma atitude reveladora de corrupção grosseira e violação das leis do gestor público do país, que atuam com a maior impunidade".
Inquérito criminal
O MLSTP-PSD garante que vai apresentar no Ministério Público "um pedido de inquérito criminal para apurar responsabilidade" sobre aquilo que classificou como "desmando vergonhoso que indicia crimes previstos nas leis vigentes no país".
Os sociais democratas querem ver as autoridades competentes tomarem medidas para que os valores sejam restituídos e consideram que se trata de "uma manifestação clara de má gestão de fundos públicos, uso indevido dos recursos do Estado e tamanha injustiça face a pobreza reinante no país, onde centenas de famílias não dispõem de um salário mínimo para garantir uma refeição diária".
Ainda segundo o MLSTP-PSD, o dinheiro utilizado pela administração do banco central para este pagamento são notas da dobra (moeda local) fora de circulação desde janeiro deste ano e deveriam ser queimadas. Entretanto, em junho passado, o BCSTP fez saber que as notas da velha dobra continuam em uso até finais de dezembro próximo.
Cacau: semente do desenvolvimento de São Tomé
Após a nacionalização das fazendas de cacau, as roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. Hoje, as roças voltaram a ser privadas e há esperanças que contribuam novamente para o desenvolvimento do país.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho na roça começa cedo
Antes do sol penetrar na mata da Roça Olivais Marim, na zona sul de São Tomé, os poucos agricultores já trabalham nas plantações de cacau - principal produto de exportação do país. Após a nacionalização das roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. A exportação do cacau não passou de 12.000 toneladas/ano. Nos anos 80, a exportação baixou ainda mais, para 3.000 toneladas.
Foto: DW/R. Graça
Má gestão levou a êxodo rural
A nacionalização das fazendas em 1975 deu origem à formação de 15 grandes empresas estatais, que entraram em declínio. A queda da produção do cacau abriu o caminho às privatizações nos anos 90. Porém, muitas terras continuaram improdutivas e iniciou-se um êxodo rural das populações nas zonas das roças. Agora, 2.500 hectares de terras estão a ser desbravadas e reaproveitadas.
Foto: DW/R. Graça
Clima ideal
Agricultora prepara viveiros para reabilitar as plantações abandonadas da Roça Granja. São Tomé e Príncipe possui as condições climáticas favoráveis ao cultivo do cacau: terras de origem vulcânica, solo fértil e boa temperatura. Estatísticas do período colonial revelam que, com apenas 15 unidades agroindustriais numa área de 60 mil hectares, os portugueses chegaram a produzir 36.000 toneladas/ano.
Foto: DW/R. Graça
Raízes brasileiras
Em São Tomé e Príncipe, a cultura do cacau começou na Ilha do Príncipe. Os primeiros cacaueiros, plantados pelos colonos portugueses em 1822, vieram do Brasil. No século XIX, durante o "Ciclo do Cacau", por falta de mão de obra local, os portugueses contrataram trabalhadores de outras colónias africanas – como Angola, Cabo Verde e Moçambique. Muitos tiveram que trabalhar sob condições desumanas.
Foto: DW/R. Graça
Produção biológica de cacau
No interior da Roça Santa Luzia, na Ilha de São Tomé, os tratores adquiridos pela Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB) regam os viveiros nas parcelas dos agricultores. O cacau é ideal para a produção biológica, pois cresce sob árvores de outras espécies – o que conserva uma maior biodiversidade em comparação com monoculturas de outras plantas como a soja.
Foto: DW/R. Graça
De olho no mercado internacional
O cacau amelonado, variedade proveniente da Amazônia, foi o primeiro a chegar ao arquipélago de São Tomé e Príncipe. Este tipo de cacau é muito procurado no mercado internacional por ter características genéticas de qualidade superior a outras variantes de cacau.
Foto: DW/R. Graça
Recuperação de outras variedades
Produtores de cacau tipo exportação estão a recuperar outras variedades, como o cacau híbrido. O cacaueiro tem folhas longas que nascem avermelhadas e logo ficam de um verde intenso, medindo até 30 centímetros. Seus frutos também podem medir até 30 centímetros de comprimento, apresentando coloração verde, vermelha ou amarronzada e que tendem ao amarelo quando amadurecido o fruto.
Foto: DW/R. Graça
Secagem depois da colheita
A seguir à colheita da fruta dos cacaueiros, é preciso secá-la. No caso da Roça Morro Peixe, a secagem é feita com uso da energia solar natural. Um secador solar construído de madeira e coberto de plástico garante uma boa temperatura para a secagem do cacau, antes de ser embalado.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho minucioso
Descendentes de cabo-verdianos, no interior do secador da Roça Santa Margarida, separam o cacau na peneira. Um trabalho minucioso que antecede a embalagem. Estas trabalhadoras fazem parte dos poucos agricultores que resistiram ao êxodo rural em São Tomé e Príncipe. Já no período colonial, uma boa parte da mão de obra das roças veio de Cabo Verde, outra colónia portuguesa.
Foto: DW/R. Graça
Embalar e despachar para a Europa
O último passo antes do processamento e da exportação do cacau é a sua embalagem em sacos. Uma boa parte da produção de cacau de São Tome e Príncipe é exportada para a Europa – principalmente para a França e a Suíça, os dois principais mercados consumidores do cacau de excelência e de fama internacional reconhecida.