Conselho Nacional do Ação Democrática Independente (ADI, oposição) marcou hoje (27.2) o congresso eletivo do partido para 9 de abril, prevendo a aprovação do regulamento do grupo parlamentar e alterações aos estatutos.
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"O ADI é um partido democrático - é bom que fique bem claro - e por ser um partido democrático que se prima pelos princípios livres da democracia limpa, então nós trouxemos esta data [de 09 de abril]. A partir daqui significa que aqueles que quiserem apresentar a candidatura poderão fazer dentro dos prazos que são estabelecidos", explicou Nito Abreu, porta-voz do Conselho Nacional do ADI.
Até ao momento, Patrice Trovoada,atual presidente do ADI e ex-primeiro-ministro entre 2014 e 2018, é o único candidato à sua própria sucessão.
Na semana passada, Patrice Trovoada, que está ausente do país desde 2018, apelou aos militantes do ADI no sentido de trabalharem para o partido alcançar a maioria absoluta reforçada nas eleições legislativas previstas para outubro próximo.
"Sinal forte"
"Temos que dar um sinal forte e esse sinal forte é dar ao ADI uma maioria absoluta forte, que seja acima de 33 deputados", defendeu Trovoada, durante uma conversa de vídeo divulgada na página do partido no Facebook.
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O ex-primeiro-ministro realçou que "ninguém pode ter medo disso [maioria reforçada], a não ser pessoas que têm problemas pessoais", tendo indicado como "os marcadores fundamentais" superar a maioria absoluta de 33 deputados que conseguiu em 2014.
"Um marcador fundamental é que o ADI trabalhe mais e melhor e que o ADI se abra mais aos outros. O segundo marcador é que toda a gente entenda que o ADI precisa de maioria absoluta para Patrice Trovoada ser primeiro-ministro, para nós podermos ganhar a estabilidade e a capacidade de poder reformar o país", explicou o líder do ADI.
O porta-voz da comissão política do ADI, Elísio Teixeira explicou hoje que, além da eleição dos órgãos diretivos, o congresso de abril servirá para "apresentação e atualização de alguns documentos essências para o funcionamento do partido".
"Relativamente ao estatuto nós faremos alterações para adequá-lo às necessidades e também para a nossa própria organização interna, e apresentaremos também um regulamento para o funcionamento do grupo parlamentar enquanto o braço político mais ativo do partido no parlamento, para que haja uma maior comunicação, maior relação institucional e funcionamento das linhas orientadoras do partido no parlamento", explicou Elísio Teixeira.
Patrice Trovoada já havia criticado o funcionamento do grupo parlamentar do ADI durante uma mensagem de vídeo enviada para a comissão política do partido que esteve reunida no início do mês.
"Humilhados por certos deputados"
"Nesses últimos anos, o grupo parlamentar brindou-nos com as mais diversas formas de vagabundagem política, levando a base da militância do partido e os eleitores em geral a sentirem-se humilhados por certos deputados mercenários e egoístas. A estes companheiros e futuros ex-companheiros eu garanto que jamais voltarão a ser representantes do povo sobre a bandeira do ADI e enquanto eu for presidente do partido", disse Patrice Trovoada.
Segundo Elísio Teixeira, outro objetivo da revisão dos estatutos do ADI é conferir mais atenção à ação política do ADI na ilha do Príncipe através de um dos seus vice-presidentes.
"Um dos vice-presidentes do partido estará virado para a Região Autónoma do Príncipe para que haja uma maior comunicação, uma maior assunção de responsabilidade da ligação com a Região Autónoma do Príncipe que reclama, com toda razão, que sente um certo distanciamento", precisou Elísio Teixeira.
O ADI foi o partido mais votado nas eleições legislativas de 2018, tendo eleito 25 deputados, num total de 55, mas não teve apoio parlamentar para formar Governo. Patrice Trovoada, até então primeiro-ministro, ausentou-se do país nessa altura e não regressou até agora.
Um acordo parlamentar entre o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD) e a coligação PCD-MDFM-UDD permitiram uma maioria de 28 deputados que garantiu o suporte parlamentar ao Governo chefiado por Jorge Bom Jesus.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
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Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
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Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
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Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
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Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
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Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
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Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".