Congo: Oposição quer anular primeira volta das presidenciais
tms | com agências
23 de março de 2021
Denis Sassou Nguesso está na liderança provisória das eleições presidenciais de domingo na República do Congo, marcadas pela morte do seu principal rival. Outro candidato da oposição vai pedir anulação do escrutínio.
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De acordo com os primeiros resultados, o Presidente cessante da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, obteve mais de 85% dos votos em mais de 30 locais de voto.
"Estas são apenas tendências percentuais. Em todo o país, os resultados estão na sua maioria nesta direção", disse o presidente da Comissão Nacional Eleitoral Independente (CNEI), Henri Bouka, depois de apresentar os resultados de 35 cidades e distritos.
Na capital, Brazzaville, o Presidente cessante, 77 anos, 36 dos quais à frente da República do Congo, recolheu, por exemplo, 89,15% dos votos no distrito de Poto-Poto, segundo os números oficiais apresentados por Bouka.
No resto do país, Sassou Nguesso manteve-se de forma clara à frente do seu principal rival, Guy-Brice Parfait Kolélas. Segundo a Comissão Eleitoral, os resultados provisórios completos serão anunciados durante os próximos dois dias.
Dedja Nguedi, porta-voz de Kolélas e membro do partido da oposição, lamentou a morte do político e pediu calma aos congoleses: "O partido exorta todos os congoleses a acalmarem-se, a refletirem e a permanecerem atentos às orientações do partido".
O chefe da missão de observadores eleitorais da União Africana também prestou homenagem ao candidato, apresentando condolências à família do político e ao povo congolês. Por outro lado, Dileita Mohamed também deu os parabéns ao país pela realização das presidenciais num contexto "calmo e pacífico".
"A missão felicita o povo congolês pela sua mobilização calma e pelo seu compromisso com os valores democráticos. Felicita igualmente as autoridades governamentais, a Comissão Eleitoral, os atores políticos e as forças de defesa e segurança que trabalharam para realizar eleições inclusivas e pacíficas, consolidando as conquistas democráticas da República do Congo", declarou.
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Opositor denuncia fraude eleitoral
Na sequência da morte de Kolelas, e apontando fraude eleitoral, Mathias Dzon, outro dos principais candidatos da oposição, anunciou um recurso junto do Tribunal Constitucional para cancelar a primeira volta das presidenciais.
"O Governo pôs em prática um sistema fraudulento caracterizado pela abertura de mesas de voto ilegais, votação múltipla e compra de consciência, e desorientação dos eleitores", justifica Eric Okana, representante do partido de Mathis Dzo.
Além das alegações de fraude eleitoral e a morte do principal líder opositor, vítima de Covid-19, as eleições presidenciais também foram marcadas pelo corte do acesso à internet e às redes sociais no país. E apesar da participação de observadores da União Africana, o Governo não autorizou que missões da ONU, da União Europeia e da Igreja Católica acompanhassem o escrutínio.
Com o falecimento de Kolélas, a oposição congolesa fica ainda mais enfraquecida, uma vez que dois outros candidatos nas eleições de 2016, Jean Marie Michel Mokoko e André Okombi Salissa cumprem penas de prisão de 20 anos por "comprometerem a segurança do Estado".
Entretanto, Denis Sassou Nguesso, que lidera a República do Congo há pelo menos 36 anos, encaminha-se para mais um mandato, depois de ter alterado a Constituição há alguns anos.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.