Oposição não aceita confirmação da vitória de Mnangagwa
AP | Reuters | cvt
25 de agosto de 2018
Este sábado (25.08), o principal líder da oposição do Zimbabué rejeitou a decisão judicial que confirma a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas presidenciais de 30 de julho e ameaçou com protestos de rua.
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O líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), Nelson Chamisa, falou um dia depois que o Tribunal Constitucional rejeitou, por unanimidade, as alegações da oposição de manipulação de votos e disse que estas não trouxeram "provas suficientes e credíveis" de que houve fraude elitoral.
"Eu respeitosamente discordo e rejeito a posição a que chegou o Tribunal Constitucional ", disse o político a repórteres em Harare.
"Eu tenho uma reivindicação legítima de que eu deveria liderar o Zimbabué," acrescentou Chamisa - que chamou a inauguração e Mnangagwa, marcada para este domingo (26.08), de "falsa".
Chamisa declarou ainda ter "o direito ao protesto pacífico" e disse que outras rotas serão buscadas, agora que a opção legal alcançou um fim.
Repressão ainda é regra no país
A eleição pacífica do mês passado foi vista como uma chance para o Zimbabué superar o Governo repressivo de Robert Mugabe. Agora, Chamisa alega "uma nova perseguição", depois de uma repressão mortal da oposição.
O líder oposicionista de 40 anos disse novamente que ganhou a eleição e que a nação da África Austral precisa de reformas fundamentais que não podem ser resolvidas com mais cinco anos de "liderança vaga".
Mnangagwa, de 75 anos, ex-aliado de Mugabe que tenta apresentar-se como um reformador, apelou à calma depois da decisão do tribunal e, no Twitter, escreveu a Chamisa "minha porta está aberta e meus braços estão estendidos ".
Chamisa respondeu com ceticismo, dizendo que a oposição tinha se disponibilizado ao diálogo anteriormente, mas que o Presidente não respondeu.
Perspectivas truculentas
A Comissão Eleitoral do Zimbabué declarou Mnangagwa o vencedor da votação de 30 de julho, com 50,8% dos votos. Mais tarde, revisou este número para 50,6%, citando um "erro", mas argumentando que não era significativo o suficiente para invalidar a vitória. Ainda segundo o órgão, Chamisa recebeu 44,3% dos votos.
Esta sexta-feira (24.08), o Movimento pela Mudança Democrática (MDC), partido de Chamisa, emitiu uma declaração dizendo que nos próximos dias iria anunciar um "vigoroso programa de ação em resposta a este processo eleitoral", que definiu como o "roubo do século".
Já este sábado, Chamisa disse que que o conselho nacional do partido irá se reunir, na próxima semana, para definir o caminho a seguir, e não respondeu diretamente a perguntas sobre a possibilidade de um Governo de unidade nacional.
Mnangagwa, que assumiu o poder em novembro passado, depois que Mugabe renunciou sob pressão militar, considerou a eleição do Zimbabué a mais transparente e credível de sempre. O Governo precisava muito de uma votação credível para validar seu Governo, ter sanções levantadas e abrir as portas para o investimento em uma economia que desmoronou sob a liderança de Robert Mugabe.
Clima pré-inauguração
Agora, os zimbabueanos aguardam os relatórios finais de dezenas observadores de países ocidentais
convidados para acompanhar as eleições no país, pela primeira vez em quase duas décadas. Os observadores notaram poucas questões no dia da eleição, mas expressaram preocupação com o assédio à oposição que se seguiu ao pleito.
Seis pessoas foram mortas dois dias após a votação, quando os militares agiam com violência para dispersar os protestos na capital Harare.
Mnangagwa disse que uma investigação das mortes seria iniciada, após a sua inauguração.
Chamisa indicou que se sentiu ameaçado como líder da oposição. "Ao desafiar uma ditadura você está assinando uma sentença de morte", disse ele, acrescentando estar pronto "para qualquer eventualidade."
Enquanto isso, o Estádio Nacional de Esportes, com 60.000 lugares, estava a ser preparado para a inauguração de domingo, com a presença de soldados e trabalhadores a pendurar coloridos banners pró-Mnangagwa.
"Tenha certeza de um futuro melhor", lia-se num deles. Chamisa afirmou que não irá comparecer ao evento.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.